eat your young.

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Newt deixaria que Eles o engolissem, que mastigassem sua carne escassa até se fartarem, que cuspissem seus ossos partidos até se cansarem daquela tortura sem sentido.

Naqueles tempos, Newt achava até que gostaria que Eles fizessem isso de uma vez (e aquele eram os únicos tempos dos quais ele se lembrava).

Ele tinha terminado o trabalho do dia, se sentado contra o tronco de uma árvore, encarado aquele Labirinto até suas paredes se multiplicarem e crescerem, tomando raiz dentro dele.

De novo e de novo e de novo.

Ele viu mais meninos chegarem, crescerem, morrerem, oferendas para qualquer que fosse o deus perverso que se regozijava naquilo.

Um labirinto, ele pensava. De todas as coisas, Eles escolheram um labirinto. Que piada cruel.

E era cruel porque ele não se lembrava de nada que valesse, mas seu cérebro idiota conseguia fazer todas as associações e ele sabia o que devia vir com labirinto; gritos de diversão ecoando, falas afobadas no meio de uma brincadeira animada, risos altos, o mistério e o suor de infância. E ele também sabia, com um aperto acirrado no peito, o que vinha com a infância; ele pensava em histórias de monstros e heróis, pais e cobertas e segurança. Tudo que eles não tinham ali.

E nos dias ruins, Newt via que tudo ali era costurado como uma versão torta, cruel disso.

Cuidadosamente, eles escolhiam seus heróis para mapear o Labirinto (eles todos voltavam quebrados, cuspidos; Newt era um deles até admitir sua fraqueza desesperada).

Eles descobriam, dia após dia e mês após mês, que nenhum de seus heróis era páreo para os monstros (eles tinham tantos afinal; Verdugos e Eles e o próprio Labirinto, uma entidade eternamente faminta por sangue).

Eles os mandavam cobertas e suprimentos e fechavam o Labirinto antes que as bestas fossem soltas e Newt ouvia os meninos mais novos sussurrarem com uma esperança que revirava suas entranhas que talvez, só talvez, Eles fossem bons, que talvez Eles tivessem os protegendo de algo, cuidando deles.

Se eles perguntavam sua opinião, ele sorria e dizia "é, pode ser", sustentando o olhar deles o máximo que conseguia até que os mandassem ir dormir, um afago descuidado em suas cabeças.

Mas Newt via bem demais que Eles eram cruéis e que Eles se banhariam no sangue deles no final de tudo aquilo.

- E se tudo isso for um jogo? - ele tinha perguntado a Alby, ainda na sua primeira semana, olhando ao redor com um certo ar de curiosidade (esperança) infantil que hoje o envergonhava.

Alby, o primeiro deles, com olhos sérios demais para alguém de sua idade, sorriu um sorriso fraco.

- Eu acho que é.

(Um perverso, no entanto).

Não havia muitos deles naquele tempo e eles não conheciam o Labirinto o suficiente para entender a gravidade da situação, Newt supunha atualmente. Então lá eles entraram.

As portas do Labirinto não se fechavam à época. Em dias quentes, uma brisa suave soprava de lá como o canto de uma sereia. A ideia de entrar lá era quase divertida.

Direto de uma Caixa que tinha os entregado sementes, água, animais e a roupa do corpo, eles foram.

Haviam seis deles e quatro entraram. Eles precisavam de dois para cuidar dos animais, fazer a fazenda improvisada prosperar.

Eles estavam aterrorizados, Newt sabia agora, mas ainda esperançosos, confiantes de que haveria uma saída, que aquilo tudo iria de alguma forma passar.

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