Capítulo 1

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Suguru encontrava-se em um dilema, debatendo internamente se deveria empreender em uma fuga rápida por causa do macaco ou expulsar Satoru de sua casa à base de pontapés. Nenhuma das alternativas parecia adequada para alguém que almejava manter uma aparência de normalidade.

Os olhos cor de lavanda de Suguru permaneciam fixos no primata, que segurava um dos raros e caríssimos livros de Geto em suas mãozinhas. O moreno respirou fundo, tentando conter a frustração crescente. A mera ideia de que aquele animal pudesse estragar seus preciosos livros já era o suficiente para deixá-lo furioso. Ele começou a considerar a opção drástica de chamar a carrocinha para levar o intruso para longe, preferencialmente para alguma floresta tropical na América Central, bem distante do Japão.

A visão do livro em mãos tão inapropriadas era como uma faca cravada no coração de Geto. Ele não poderia permitir que suas preciosas obras literárias sofressem nas mãos — ou patas — de Jogo. A opção de tomar medidas drásticas começava a ganhar forma em sua mente, e a ideia de um exílio voluntário para o macaco parecia cada vez mais tentadora.

Satoru permanecia jogado no sofá, tranquilo, com um sorriso divertido adornando seu rosto. A expressão relaxada do homem contrastava nitidamente com a carranca que se desenhava no rosto de seu colega. A aparente falta de preocupação de Satoru diante da crescente irritação de Suguru só intensificava a sensação de antipatia que o moreno nutria por ele.

Parecia que Satoru estava se deliciando com a situação, como se a chegada de Jogo fosse uma piada pessoal à custa da paciência de Geto.

— O que aconteceu? — o de cabelos brancos perguntou zombeteiro — Parece até que viu um fantasma. Não vai me dizer que tem medo de macaco? — deu uma risada ainda mais alta, provocando.

Suguru reuniu todas as suas forças, consciente de que deixar transparecer qualquer vestígio de pânico seria um erro terrível diante da figura demoníaca de olhos azuis que tinha à sua frente. E ainda precisava lidar com aquele bicho nojento…

— Não seja ridículo — falou o mais casualmente que conseguiu. Porém, uma leve tremida em sua voz no final da frase denunciou sua aflição.

Geto pigarreou, tentando disfarçar sua momentânea vulnerabilidade, enquanto Satoru, ao contrário, abriu ainda mais o sorriso malicioso.

Merda!

Mal o conhecia e já o odiava.

— Jogo é inofensivo, pode ficar tranquilo — Satoru se levantou e pegou o bichinho no colo — É como um bebê, vê?

— Utahime e Shoko não mencionaram que você traria esse monst… Digo, bicho... com você — o moreno apontou para o animal no ombro de Gojo.

— Ah, é que elas não sabiam sobre ele — Satoru deu de ombros — De qualquer forma, Jogo só está passando um tempinho comigo. Ele fica com meus pais na maior parte do tempo, sabe? — explicou — Estou cuidando dele porque eles estão viajando. Devem voltar na próxima semana.

Suguru sentiu um alívio esmagador ao saber que o animal não seria uma presença constante em sua vida. Ele já estava começando a tramar mentalmente um plano meticuloso para se ver livre da criatura o quanto antes, mas decidiu suportar a situação até a próxima semana. Nesse prazo, torcia para que os pais de Satoru, ao retornarem de viagem, levassem consigo o hóspede indesejado.

— Está certo... Apenas mantenha esse bicho longe de mim, tá bom? — ele pediu, tentando soar o mais tranquilo possível.

— Então você realmente tem medo de macacos? — Satoru provocou, um brilho de diversão dançando em seus olhos.

— Claro que não! — Geto mentiu, sentindo as bochechas esquentarem — Só tenho receio por qualquer criatura que possa transmitir doenças.

— Não se preocupe, Suguru. Jogo é incrivelmente higiênico. Toma banho todos os dias. Não é mesmo? — Satoru dirigiu a pergunta ao macaquinho.

Apartamento 143Onde histórias criam vida. Descubra agora