Capítulo 6

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Meu despertador se chamou Rosa. Seu ronco estava tão alto que quando vi já estava sentada na cama tentando controlar o peso do meu próprio corpo. Não me lembro de muita coisa (Graças a Deus), só me lembro de estar sendo carregada até a cama.

Puta. Que. Pariu. Dake me carregou até a cama!

Aos poucos os flashes da noite anterior vieram à minha mente. Algumas ( várias ) taças de mojito, uma música dançante e pronto: eu já estava fora de mim. Me joguei na cama novamente, estou passando dos limites, não nasci para ser assim tão impulsiva.

Talvez fosse culpa da falta dos remédios. Assim que pensei nas malditas pílulas, lembrei de Andrew. Meu padrasto deve estar maluco com a minha ausência. Procurei meu celular na bolsa e o achei desligado. Assim que vi a maçãzinha na tela sabia que logo iriam surgir as mil notificações.

"Aurora Aragão. Cadê você", ele copiou e colou a mesma coisa 80 vezes.

Demorou cinco segundos para seu rosto invadir minha tela e eu fazer o sorriso mais tenebroso já visto.

"14h da tarde, Aurora! Você me deixa maluco" disse ele. Percebi que a barba tinha sido refeita e seu rosto estava mais magro,

"Bom dia para você também" acrescentei. Poxa, eu não dei notícias mas mereço um bom dia, né?

Uma gritaria interrompeu a ligação. Luca e Alec, meus irmãos, devem estar voltando da escola.

Minha mãe e meu pai nunca tiveram um relacionamento, sempre foi claro que eu surgi de um deslize dos dois. Mas mesmo não sendo uma bebê planejada, recebi muito amor e carinho da minha mãe.

Com cinco anos me vi arrumada para ser daminha de um casamento. Mamãe e Andrew trabalhavam juntos e se apaixonaram perdidamente. Meu pai odiou tudo isso, não sei o porquê dele se sentir assim. Nunca amou minha mãe e também nunca fez questão de fazer nada além do básico quando o assunto era ser pai.

"Alec! Lucas! Venham aqui falar com a irmã de vocês". Gritou meu padrasto.

Andrew é estéril, minha mãe nunca escondeu que queria ter mais filhos, me lembro quando encontramos Alec e Lucas, duas criancinhas fofas com cabelos ruivos e cacheadinhos como dois anjinhos.

"Aurora!" gritou Lucas, pegando o celular da mão de meu padrasto. "Papai disse que você está viajando a trabalho".

"Ele disse isso? " Eu ri.

"Karen disse que você está usando drogas " Alec falou de fundo. Karen é a namorada de Andrew e é uma vaca.

"Alec!! Pare de falar agora." Eu ri alto e Andrew pegou o celular da mão dos meninos.

"Sua namorada acha que eu estou usando drogas agora?" Soltei assim que o vi se afastando dos meninos.

"Você sabe como ela é, Aurora. As coisas estão cada vez mais difíceis sem sua mãe." Andrew se envolveu com Karen ano passado, foi a primeira vez que ele namorou depois da morte da minha mãe. Eu incentivei, sei que ninguém tem a risada calorosa dela, a voz aveludada... mas quando eu conheci a mocreia, achei melhor que Andrew não se envolvesse com ninguém.

Mônica Aragão morreu com 41 anos. Eu tinha acabado de completar 18 anos e meus irmãos iriam fazer seu segundo aniversário em nossa família.

"Eu sei e não tem um dia que eu não deseje ter partido no lugar dela."

"Nunca mais pense assim, filha." Andrew se aconchegou no sofá, ainda me encarando através do celular "Você, Mônica e os meninos são o meu oxigênio e eu não suportaria perder mais nenhum de vocês. Sua mãe foi o amor da minha vida, minha luz e sei que a sua também. Então nunca pense em deixar isso aqui" ele girou as mãos "antes de honrarmos a história dela."

Entrelinhas e OndasOnde histórias criam vida. Descubra agora