| Prólogo |

438 62 46
                                    

SALOMON CALE

Bergen–Noruega.

Sete Anos Antes.

Meus dedos deslizam pela espessura áspera do tabaco em tom amadeirado enquanto os acordes da melodia macabra que os corvos e abutres entoam, ressoa através da janela aberta, hipnotizando minha audição a cada apreciação da nicotina infame.

Minha alma faz total silêncio agora. É como se meus próprios demônios pudessem entoar os cânticos junto com as aves num coro sagrado!

A infinidade de terra preenche meus olhos, porém a escuridão comum da noite resume toda paisagem verde tropical em sombras de árvores imponentes que balançam junto com a ventania e cercas de ferro para preservar todo gado.

Venho para esse lugar somente desacelerar minha rotina de destruição, horror e pandemônios. Não teço quaisquer reclamações sobre ela, porém, ás vezes, é preciso conseguir respirar um pouco longe do cheiro constante de sangue e podridão. Sem ser incomodado por algum filho da puta que solicitará um novo serviço!

Costuma ser um descanso curto, duas semanas no máximo, mas sempre é necessário e bem-vindo para colocar os fragmentos de intelecto e minhas lâminas para trabalharem ao máximo depois do meu retorno ao epicentro de tudo, á nomeada cidade do submundo.

O barulho da poltrona do meu irmão sendo arrastada sobre o piso porcelanato fez com que inclinasse minha cabeça em sua direção, sem grande interesse. Baron está em pé atrás da sua mesa no escritório, recorrendo a mão direita para sacudir a poeira inexistente no agasalho de pele animal que reveste todo seu tronco e braços.

Traguei e liberei o fumo branco devagar. As volutas de fumaça evaporam no ar sob minha observação, todavia deduzi que ele fosse sair antes mesmo de me confirmar com palavras.

___Preciso conferir os negócios.___ Explicou vagamente a princípio, mas prosseguiu vendo minha sobrancelha direita se erguer em inquietação___ Um cafetão estúpido está devendo pra mim e o prazo para liquidar a dívida acabou há três dias. Seu prostíbulo fica na cidade vizinha, a pouco menos de duas horas daqui. Contudo, como ele não parece querer aparecer mais por aqui, então eu vou até ele.

___Vai sozinho?___ Virei meu corpo na totalidade ao questioná-lo.

___Aparentemente.___ Foi sua vez de erguer a sobrancelha para mim, num convite silencioso para segui-lo.

Fumei outra vez. Poderá ser divertido!

___ Irei com você.

Assentiu em concordância.

___ Vamos na minha caminhonete para conseguir chegar mais rápido. O caminho costuma estar lamacento devido às chuvas constantes dos últimos dias.

___ Faça como achar melhor.

Lhe dei passe livre pois Baron tem todo país comendo e bebendo pela palma da sua mão; ele conhece cada canto e esquina como se tivesse desenhado o próprio mapa territorial. Caminhamos para fora do escritório e consequentemente do casarão sem trocar mais nenhuma palavra. O clima frio que nos recebeu no lado de fora e o  contato úmido do chão mesmo com os sapatos deixam perceptível que a época é de aguaceiros.

Joguei o resto do meu charuto no chão de terra e pisoteei para apagar o lume sem precisar parar de caminhar. Me perdi com o olhar em direção aos estábulos enquanto dávamos passos mais largos para garagem, pensando no quão complicado e intragável poderia ser o cuidado dos cavalos e dos outros animais com as condições do clima desfavoráveis.

___ Depois quero lhe apresentar as novas éguas que escolhi para o torneio.___ Ele interviu em meus pensamentos quando avistávamos o que ele chama de caminhonete: o último modelo preto e mais sofisticado da Land Rover Defender. Seu veículo é grande e proporcional a estrutura física do dono.

SALOMON CALEOnde histórias criam vida. Descubra agora