Capítulo 7

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— Quero recuperar tudo o que perdi enquanto estava longe. Voltei pra ficar Lise!

Ela me olhava como se não acreditasse em nenhuma palavra minha. O que eu não podia culpá-la, eu tinha sido um babaca com ela durante todos os anos que nos conhecíamos, como eu mostraria que agora era diferente?

Lise conferiu de perto o rodizio de garotas que eu costumava fazer, tudo isso enquanto ela criava sentimentos por mim e eu ficava com todas as mulheres que passavam na minha frente. Eu era um cafajeste, mas naquela altura da minha vida eu só queria o bem-estar dela e do nosso filho.

— Acho melhor irmos pra mesa, antes que sua avó venha aqui nos puxar pela orelha. — a fala dela e o desvio de olhar me disse o que precisava saber, Lise estava fugindo para não ter que processar o que eu falei.

Mas ela também não estava mentindo, vovó não demoraria a vir nos arrastar para a mesa. Então decidi fazer o que Lise queria e me levantei estendendo a mão para que ela viesse comigo.

Ela precisava de tempo para processar tudo, todos precisavam. Para eles eu estava morto até alguns minutos atrás, agora estava ali contando uma história sobre proteção da polícia e homens atrás de mim. Era de mais para qualquer cabeça processar.

— Vamos agora. Temos que alimentar esse bebê. — murmurei sem conseguir me conter em levar a mão até sua barriga.

— É bom você vir também. — ela parou apontando para Gael. — Ou vovó vai vir te buscar pela orelha, não vai querer provocar a ira da velhinha.

E novamente eu tinha que concordar com ela, mesmo a contra gosto ele nos seguiu até a cozinha. Todos começaram a conversar quando entramos, tentando disfarçar a fofoca real que com toda certeza estava acontecendo ali.

Puxei a cadeira para que Lise sentasse e encarei a mesa, já tinham colocado duas cadeiras a mais na mesa, eu me sentei ao seu lado e deixei que Gael sentasse onde ela estava antes, ao lado de Charles.

Eu sei que fui eu quem errou com ele, fui eu o amigo filho da puta que seduziu Lise, mesmo sabendo que ela estava com ele. Na hora certa eu pediria perdão a ele, mas não agora, ainda não estava pronto para isso e duvidava que ele também estivesse, Charles nem mesmo foi ao meu enterro, Gael estava de olho e eu sei que meu amigo esteve longe até hoje.

E novamente eu tinha estragado algo dele, a volta triunfal dele tinha sido interrompida por minha aparição.

— Ei me conta seu fedelho, onde estava esse tempo todo? — Emma perguntou antes que eu começasse a me sentir ainda mais culpado.

Não ia me sentir culpado por voltar a vida deles, ainda mais por Charles, quando eu estava tentando fazer o certo para o meu filho.

— Acha mesmo que eu vou contar onde é o esconderijo? Mas pra sua informação eu soube de tudo o que fez nesse tempo, e pra Guilherme, só digo que é bom que tenha ido correndo atrás da minha irmã, do contrário íamos ter uma longa conversa, eu você e meu punho.

Guilherme riu e ergueu o dedo do meio pra mim, eu sabia que ele tinha passado poucas e boas, mas saber que Emma estava sozinha e grávida viajando por ai realmente me assustou.

Se alguém da quadrilha quisesse usá-la para chegar até a mim teria conseguido, e eu já podia até ouvir Gael dizendo:

— É por isso que você deveria continuar se passando por morto, é a única forma de garantir que não iriam atrás da sua família.

Mas eu não podia, já tinha passado tempo de mais longe de tudo, ia perder a vida dos meus pais, a alegria do primeiro sobrinho, perder de acompanhar a gravidez da minha única irmã, ia ter que ver Lise seguir em frente e se apaixonar por outro. Tudo isso já levava um pedaço de mim, me corroía por dentro, mas quando eu soube que ela estava grávida foi a gota d’água.

— Como você conseguia ver tudo? E porque não apareceu? — foi minha mãe que fez a pergunta de um milhão.

— Eu não conseguia me distanciar, precisava de um pedacinho de vocês perto de mim e já que os agentes estavam de olho em todos, Gael dava um jeito de me deixar a par de tudo.

Me concentrei em assistir Lise comendo aproveitando para ignorar a segunda parte da pergunta, eu estava interessado de mais em tudo o que ela fazia e isso já estava acontecendo antes de saber do bebê.

— E o resto, porque não apareceu antes, porque esperou seis meses pra isso? O julgamento onde você serve de testemunha já aconteceu? — meu pai questionou me fazendo suspirar, não ia mesmo conseguir fugir da pergunta.

Aquela era a parte difícil assumir que estava colocando todos em risco, estava sendo egoísta indo até ali.

— Não, ainda vai levar alguns meses para isso, possivelmente dois meses até o julgamento.

— O que o seu filho está querendo dizer é que todos aqui estão correndo perigo desde o segundo que ele apareceu na porta dessa casa. — Gael tomou a frente ganhando a atenção de todos. — Agora vão andar com escolta policial, vão ficar mais restritos as áreas de casa, onde podemos vigiá-los e garantir uma maior segurança. Câmeras e microfones serão instalados na casa e fora dela, assim como na empresa de Guilherme. Uma ronda policial vai ficar em frente a casa vinte e quatro horas por dia e agradecemos se preferirem cooperar em ficar todos vivendo nessa casa.

Eu censurei ele com o olhar e sacudi a cabeça, toda aquela merda de ordens e novas regras poderia ser dita depois, esse foi o nosso combinado, eu não queria estragar o natal de todo mundo jogando aquela bomba.

— COMO É QUE É...

— O QUE ESTAVA PENSANDO CRIS...

— NÃO PODEM FAZER ISSO, É INVASÃO...

Todos começaram a gritar ao mesmo tempo, um completo caos se tornou a mesa de natal. Se já estavam assim agora, imagine quando começassem a ser confinados.

— JÁ CHEGA! — vovó gritou batendo a travessa cheia de arroz na mesa. — Eu já disse que estão estragando a minha ceia! Você rapazinho, vai ficar de boca fechada até o fim porque as duas vezes que abriu essa matraca foi pra falar merda. O próximo que disser qualquer coisa sobre polícia, esconderijo, julgamento e morte, vai passar o natal trancado no banheiro!

O silêncio reinou quando a senhora se sentou dando um sorriso como se não tivesse gritado com todos um segundo atrás.

Em minha defesa eu tinha avisado a Gael o quanto era sagrado natais, mas ele queria testar a paciência da minha vó pelo jeito. Com sorte esse tempo que passasse junto com minha família poderia ajudar a ensinar a ele como os laços são importantes.

— Então vamos falar do bebê. — Charles abriu a boca pela primeira vez desde que eu entrei ali. — Está pronto para ser papai Cris? Vai assumir a responsabilidade dessa vez, ou vai correr durante a madrugada para não ter que lidar com compromissos?

— Eu estou pronto, foi por Lise e pelo meu filho que eu voltei! — ergui o queixo encarando meu amigo antes de me virar para a garota ao meu lado. — Demorei tempo de mais para reconhecer o que tinha de bom bem na minha frente e quase perdi, isso não vai acontecer de novo. Nada nem ninguém vai me impedir!

Meus olhos travaram nele mandando o recado claro para que ele recuasse, não ia deixar que Charles colocasse as mãos no que era meu, nunca mais.

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