Capítulo 8

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Depois do jantar todos nós ficamos reunidos na sala, conversando e rindo, todos fingindo que Chris não tinha vindo nos jogar uma bomba, todos seguindo o conselho da velhinha assustadora.
Eu estava tentando entender o lado dele, a parte de voltar por nosso filho, mesmo correndo um grande perigo em acabar com a investigação e de morrer, colocando toda a sua família em risco, eu podia achar que era algo fofo.
Só que eu nunca conheci esse lado fofo dele, Chris só era fofo com a irmã e família. Não estou dizendo que ele era uma má pessoa, longe disso, ele sempre foi legal comigo e me tratava como amiga. E era isso o que eu sempre pensei que seria pra ele.
Isso me fez lembrar da nossa noite, aquela foi a última vez que eu o vi, Chris sumiu no meio da noite me deixando lidar com Charles e toda a confusão emocional sozinha, uma semana depois ele “morreu”.
Foi só pensar naquilo que não consegui continuar ali, sorrindo e brincando, como se nada tivesse acontecido. Chris tinha feito uma bagunça na vida de todos e se safou fácil, agora estava de volta e queria a mesma coisa, tudo simples e fácil.
Me levantei apressada e subi as escadas, não me importei com o que as pessoas iriam pensar, nem mesmo quando me chamaram, eu só precisava de um tempo. Quando dei por mim estava com a cabeça enfiada no vaso, colocando o que tinha acabado de comer para fora.
Não sei qual parte tinha me deixado enjoada, se era pensar no que aconteceu ou correr até aqui. Meus olhos se encheram de lágrimas com a enxurrada de emoções que eu não sabia controlar. Mas antes que pudesse chorar, uma mão segurou meus cabelos, os unindo na minha nuca enquanto outra acariciava minhas costas.
— Porque não me chamou? — foi Chris quem falou atrás de mim, me surpreendendo.
O que ele tinha ido fazer ali? Se soubesse que era justamente a causa de eu estar ali, tanto fisicamente quanto emocionalmente.
Depois que coloquei tudo pra fora deixei meu corpo escorregar até que eu estivesse sentada e descansei minha cabeça sobre o braço. Chris se virou indo até a pia, ele pegou uma toalha e molhou antes de voltar pra mim.
Os olhos castanhos me encaravam com preocupação, parecia que ele olhava todos os cantos do meu rosto a procura de algo, então ele passou o tecido macio e úmido em minha boca, depois na testa e bochecha.
— O que você quer de mim? — choraminguei sentindo cada vez mais difícil segurar o choro. — Porque não me deixou continuar acreditando que estava morto?
Assisti quando ele engoliu em seco, mas ao invés de dar meia volta e ir embora ele se sentou no chão ao meu lado.
— Quando descobri que você gostava de mim eu comecei a ter ideias, nunca deixei que ninguém se aproximasse porque não queria sofrer nem que as pessoas sofressem. Mas de alguma forma você se apaixonou mesmo assim, então eu só conseguia pensar em como seria... como seria ter alguém que me amasse, ficar com alguém que gostava de mim.
— E mesmo assim você não hesitou em ir embora no meio da noite. — coloquei para fora o que tinha estado engasgado desde aquele dia. — Você me deixou acordar sozinha, com a cama vazia. Tem ideia de como me senti? Tem ideia do quanto me culpei por ter sido idiota em me entregar a você? Bastou algumas palavras bonitas e eu cai nos seus braços.
— Lise eu...
— Não! Você voltou dos mortos e agora vai me escutar. — rosnei interrompendo ele de continuar, era a minha vez de falar. — Você achou que seria uma boa ideia ir lá e levar pra cama a garota que sempre esteve apaixonada por você, só pra se sentir melhor sobre sua vida vazia e sem sentido. Só que em nenhum momento se importou comigo, em como eu ia ficar, com meus sentimentos. Você me usou Christian e pode ter sido um momento pra você, mas pra mim foi importante, eu achei que finalmente estava tendo uma chance, que tinha sido vista, só pra acordar no outro dia e ver que não passei de uma noite, mais uma garota pra lista interminável do cafajeste.
— Eu sinto muito, Lise. Eu não tinha pensado nisso até Emma me falar como você estava...
— É claro que não tinha pensado, só pensou em você, usou apenas a cabeça de baixo e decidiu que seria bom estar com alguém que estivesse interessada em mais do que só sua carinha bonita, por isso não hesitou em me deixar lá sem nenhum tchau e forjar a própria morte pareceu ainda melhor quando viu a confusão que criou.
Uma lágrima escorreu por minha bochecha e ele ousou estender a mão para limpá-la. Antes que me desse conta acertei um tapa na cara dele. Chris continuou lá parado me olhando como se já esperasse por isso, enquanto eu levava a mão a boca em choque.
Não imaginei que fosse ser capaz de bater nele, nesses seis meses que acreditei que ele estava morto sempre imaginei que o abraçaria e beijaria, diria o quanto senti sua falta. Mas agora que ele estava ali e que eu tinha feito, quis realmente fazer de novo.
Dei mais um tapa, dessa vez em seu peito e outro e outro. Não demorou para que estivesse estapeando o peito dele e chorando ao mesmo tempo.
Que inferno, porque eu tinha que gostar dele? Logo daquele cafajeste e agora era muito pior, tínhamos um elo que nos ligava para toda a vida. Deixei que minha cabeça tombasse contra ele enquanto minha barreira se rompia e os soluços me dominavam.
— Você me odeia, eu sei disso agora e mereço toda sua raiva. — ele falou segurando meu corpo junto ao seu. — Eu aceito tudo o que vier de você, cada tapa, xingamento e seu desprezo. Só peço que me dê uma chance.
— Porque eu faria isso? — questionei erguendo meu rosto para encará-lo.
— Porque esse bebê é nosso Lise e ele merece um pai e uma mãe, merece ter uma família completa. — seu polegar acariciou minha bochecha e eu quase me recostei contra seu toque, mas me mantive firme. — E eu estou disposto a qualquer coisa para merecer ter vocês dois na minha vida.
Merda, porque ele tinha que falar daquele jeito? Chris sempre foi bom com as palavras, ótimo em seduzir, ganhar as pessoas com seu papinho e eu sentia que estava prestes a cair de novo.
Suspirei e dei uma fungada, não me importando com ele ali na minha frente, veria coisas piores se estava mesmo disposto a ficar do meu lado. Mas eu não ia entrar nessa desarmada como fiz da outra vez, precisava cercar meu coração de muros, não podia deixar que Chris o quebrasse novamente, não sei se suportaria passar por tudo de novo.
— Vai ter que provar tudo o que diz!
— Pra começar quero que venha morar comigo, no meu apartamento. — ele exclamou abrindo um sorriso que seria capaz de iluminar uma cidade. — Preciso que venha hoje, pois não vou passar nem mais dia sem ter meus olhos em você.
Eu quis agarrá-lo e beijar os lábios carnudos sedutores, mas me contive, pois ele não queria realmente dizer aquilo.
— Claro, por causa dos criminosos que estavam atrás de você.
— Não Lise, se fosse só por isso eu teria deixado que os policiais fizessem sua guarda e nunca voltaria a aparecer. Estou dizendo isso porque de verdade quero estar com você todos os dias.
Me apoiei nos braços fortes dele e me sentei no vaso, eu precisava de um espaço entre nós dois, necessitava respirar e não ser embriagada pelo perfume dele.
— É muita coisa pra processar em uma noite só.
— Não se preocupe, não vou a lugar nenhum e pode levar o tempo que precisar até conseguir confiar em mim novamente. — ele murmurou ainda sentado no chão, mas agora as mãos foram rápidas até minha barriga. — Vou provar pra vocês que podem confiar em mim.
Deus que me ajudasse a ser forte e fazê-lo pagar um pouco por todo o sofrimento que me causou. Estava na hora de Chris aprender que nem tudo era do jeito dele e que agora ele teria que suar a camisa pra mostrar o quanto nos queria.

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