Sentada à beira de uma janela, a linda mulher ruiva leva a xícara de chá aos lábios, sentindo o aroma adocicado da camomila, antes de beber do líquido quente.
A chuva caia lá fora, trazendo consigo o cheiro de terra úmida o vento fresco.
Tantos aromas diferentes...
A madeira que crepita na lareira, o perfume que usará depois do banho, as flores perto da janela;
Nenhum pertencia a ele.
"Alguma resposta?" A criada se assustou com a pergunta repentina de sua senhora, mas disfarçou bem, olhando para as feições pálidas da mulher.
"Não, madame. Devo enviar outra correspondência? Talvez..."
"Não, a carta não se perdeu. Ele apenas ignorou o que escrevi, como tem feito nos últimos dias."
A amargura em sua voz deixou a criada tensa. Sabia que a mulher estava esperando uma resposta do seu amado a dias, mas nada veio. As olheiras em seus olhos indicam as noites mal dormidas e o estresse.
Mas como não estaria assim, quando anunciou gravidez ao "amante" e ele nem mesmo retornou? Que tipo de dama aguentaria essa situação?
"Minha senhorita, em breve não poderá mais esconder isso dos seus pais." Murmurou, tomando cuidado com as palavras, ciente de que é um assunto delicado.
A ruiva suspirou e olhou pela janela mais alguns segundos, apertando a xícara entre os dedos.
"Eu não posso contar. O que eles pensariam? Deus... eu nem mesmo me casei e estou grávida. Que desonra."
"Não pense assim, madame! Tenho certeza que eles irão entender..."
A mulher jogou a xícara no chão, antes que a criada pudesse terminar de falar. Sua mente estava um caos e ela queria gritar, mas precisava manter o decoro de uma dama. Prestes a se desculpar, a porta foi aberta abruptamente, revelando o amigo de seu irmão.
"Senhorita.. está tudo bem? Ouvi o som de algo caindo."
As feições do homem mostram preocupação, mas o meio sorriso não esconde sua presunção ao ver a xícara quebrada. Os olhos cinzentos encaram a ruiva minuciosamente, antes de erguer uma sobrancelha.
"Primeiramente, senhor. Onde estão seus modos ao entrar nos meus aposentos sem ser convidado?"
A mulher franze a testa, olhando para o homem a sua frente.
Maldita serpente....
"Oh, me perdoe por estar preocupado com o bem estar de uma querida amiga. Que ousadia a minha."
Ele ri, balançando os cabelos ondulados como cachos de uva. A mulher bufou com a comparação, enquanto a empregada olhava para os dois, aflita.
"Senhor, perdoe-me pela interrupção, mas aceita uma xícara de chá? Eu acabei de preparar." Sua intenção de amenizar a situação antes que os dois começassem a discutir foi bem-vinda pelo homem.
"Eu adoraria, tudo bem por você, madame? Me permite acompanha-la em um chá da tarde?"
Sua voz pinga veneno, enquanto observa a ruiva lançar um olhar empreendedor para a pobre serva.
"Não."
A resposta o fez querer rir. Essa mulher era sempre espirituosa...
"Se eu fosse aquele caipira, tenho certeza que receberia muito mais do que um simples chá de camomila, hein?"
A provocação fez a dama nobre quase soltar um palavrão, olhando para o homem com raiva.
"Você não sabe nada sobre ele, e não ouse menciona-lo nesta conversa."
"Eu sei o suficiente para saber que ele não vai querer a responsabilidade de uma criança." Suas palavras causaram a reação esperada, quando os olhos da mulher alcançaram os dele em choque. Mas ele continuou ao tirar uma carta do bolso, uma das que haviam sido enviadas ao seu amante. "Antes que me chame de ladrão, o carteiro, que por sinal é um irresponsável, a deixou cair na porta da mansão."
"Você leu?"
A pergunta fez o homem erguer uma sobrancelha.
"Eu não pretendia, mas os meus pensamentos me venceram. Sabe, eu esperava que fosse uma declaração para mim, fiquei tão esperançoso..."
"Como ousa..." a mulher aperta os punhos, respirando fundo para se acalmar, enquanto a criada junta os cacos da xícara quebrada.
"Não, não. Como você ousa? Engravidaste de um caipira que não tem nem mesmo onde cair morto."
"Eu já disse para não menciona-lo nesta conversa!"
"E onde ele está agora?!" As palavras do homem a fizeram se calar, virando o rosto para a janela. "Não sabe, não é mesmo? Ele tratou-a como uma meretriz! Esse é o tipo de homem que conquista seu coração?"
A mulher se levanta, farta das palavras dele.
"Eu tenho certeza de que ele virá!"
Ele riu, balançando a cabeça. Mas sem se aproximar da mulher, embora ambos estejam alterados.
"Tem certeza? Oh, que princesinha ingênua. Ele não virá." Ele cruza os braços, olhando para a mulher com ceticismo. "Sabe o motivo? Ele é um canalha e só você não percebe."
Ela abaixa a cabeça, levando uma das mãos ao ventre ainda liso, acariciando o local com melancolia.
"Ele precisa vir..."
"Ele não merece você, nem essa criança." Susurrou, tentado a dar um passo a frente. "Senhorita, case-se comigo. Eu assumo a responsabilidade em frente aos seus pais, o que me diz?"
A mulher engasga, erguendo os olhos para ele com descrença.
"Esta mais louco que o normal?!" Praticamente grita, balançando a cabeça.
"Olha..." Respira fundo, buscando paciência. "Você não tem nada a perder se aceitar. Podemos nos casar politicamente, eu juro que jamais tocarei em você de forma desrespeitosa."
"E o que você ganha com isso?"
"Um filho?" Dá de ombros, mas suspira ao ver seu olhar desconfiado. "Você é importante para mim, sabe disso. Considere isso um favor."
O sorriso malicioso do maldito fez ela cerrar os dentes. Ele não tinha intenções genuínas, nunca teve.
"Bastardo..."
"Eu prefiro quando me chamam de cínico." Ri ao ver o olhar dela. "Vamos... apenas aceite, querida. Vamos ser um ótimo par."
Ele estende a mão, olhando para a moça como uma águia.
Ela hesita, incerta sobre o futuro. Mas sabia que não teria outra alternativa...
Ou se casava com alguém disposto a assumir a criança, ou enfrentava a irá dos pais ao saberem que a tão amada filha estava grávida de um homem "desconhecido".
"Tudo bem." Sua mão delicada alcança a mão estendida, esta que aperta seus dedos finos como uma cobra.
"Tenho certeza de que não se arrependerá, querida noiva."
Seu sorriso se alarga, encarando a figura a sua frente. Foi tão fácil...
Ela seria apenas dele.
E teve a certeza de tirar o caipira do caminho a alguns dias atrás, formulando um acidente de trabalho. Logo a notícia chegaria e ela se afogaria em seus braços em busca de consolo.
A criança não estava em seus planos, mas era inevitável. Contanto que tivesse a mulher para si, não se importava de ser um pai.
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contos sem fim, nem começo.
Short Storypequenos contos narrados de maneira rápida, tirados da mente de uma autora que pensa demais durante a noite. O intuito desses contos é causar dúvidas. O que aconteceu antes disso? Ou o que aconteceu depois? Ninguém nunca saberá.