Nas primeiras horas da manhã, Yunho retornou à enfermaria, planejando aproveitar o baixo fluxo de pessoas para agir com maior liberdade. Assim que destrancou a porta da sala de procedimentos, encontrou Mingi a meio caminho de se levantar com um grunhido alto e arrastado. Os fios dourados dispunham-se em todas as direções e os olhos mal haviam terminado de se abrir.
- Ei, devagar. - repreendeu com suavidade e caminhou até ele, o ajudando a se sentar na maca - Como passou a noite? Está com muita dor?
- Noite...? Você saiu faz cinco minutos...
A confusão no rosto dele fez Yunho soltar uma breve risada:
- Parece que estava mais exausto do que imaginei. Pelo menos seu corpo pôde descansar um pouco, isso é bom. - puxando o banco novamente, se sentou diante do pirata e aguardou até que os olhos dele focassem nos seus - Você confia em mim?
- Hã...? - um bocejo, e em seguida - Claro que não.
- Então preciso que comece a confiar, Mingi.
- Eu te conheci ontem. Que tipo de pergunta é essa? - endireitando a postura, ele piscou algumas vezes, afastando os últimos resquícios de sono do rosto - O que você quer?
- Hm... decidi passar você para um quarto individual e mais confortável, já que vai ficar um tempo aqui, mas temo que o ambiente lá fora seja um pouquinho hostil para você-
- Todos os lugares são.
- Mas... bem, é que... nessa enfermaria, as coisas são um tanto diferentes. Piores, eu diria. - Yunho cerrou os punhos, indignado por não conseguir soar menos inseguro - Então... quando sairmos, preciso que fique bem quieto e não faça nada precipitado.
- Só isso? Tudo bem. - concordou impaciente, sem compreender o mistério por trás de uma requisição tão simples - Nesse momento estou disposto a fazer qualquer coisa por uma cama de verdade.
- Ótimo. Só um instante. - o médico foi até o armário e investigou algumas portas e prateleiras, retornando com pedaços de algodão e um rolo de esparadrapo - Não podemos deixar isso à mostra, alguém pode reconhecê-lo.
Mingi observou com surpresa enquanto as mãos dele confeccionavam um curativo no lado esquerdo de seu peito, utilizando gestos ágeis para cobrir as linhas firmes da tatuagem:
- Huh. Então você sabe quem eu sou.
- Bem... sim. Não imagino como funcionava nas outras cidades pelas quais esteve, mas no porto daqui vocês são o bando mais notável atualmente. Também o mais infame.
- É mesmo? - o sorriso que decorou os lábios do pirata transbordava orgulho e pretensão; quase como se uma reputação na lama fosse sua maior conquista.
Preferindo não questionar, Yunho se preocupou em finalizar o pequeno disfarce e logo em seguida se dirigiu a uma porta nos fundos da sala, desaparecendo. Instantes depois, surgiu empurrando uma cadeira de rodas, posicionando-a diante da maca e indicando o assento com um aceno cortês:
- Sente-se, por favor. De preferência fique imóvel, de cabeça baixa, e faça a melhor expressão de moribundo que conseguir.
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Era ingenuidade esperar que Mingi fosse colaborar com perfeição em uma situação daquela. A distância até o quarto no final do corredor não era longa, mas haviam muitos obstáculos atrapalhando o plano de agir discretamente. Como as pessoas em diferentes estágios de recuperação que transitavam por ali com um brasão familiar em seus uniformes militares. Como os cartazes espalhados em murais nas paredes, entre passagens arcadas e portas, exibindo rostos de indivíduos mascarados que o pirata conhecia muito bem. Havia até mesmo um cartaz com seu próprio rosto, estampado com traços rústicos e não muito semelhantes à realidade.
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Gathering Our Differences - Yungi
FanfictionYunho não imaginava que a tranquilidade daquela manhã seria interrompida por um homem sangrando em seus braços. E junto ao calor que se concentrava nas palmas de suas mãos enquanto o segurava, havia um dilema delicado e urgente lhe fazendo desejar q...