I'll be there for you [Final]

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Manuseando a pinça e a tesoura com cuidado, Yunho desmanchou o último ponto, descartando a linha sobre a bandeja e recolhendo os outros materiais - gaze, algodão, antisséptico, esparadrapo - que não precisariam mais ser utilizados. Deitado com os braços estendidos na lateral do corpo, Mingi observava cada pequeno movimento em silêncio. Um silêncio incômodo, que havia pairado entre a dupla por diversas ocasiões ao longo dos últimos três dias, murchando sorrisos e arruinando diálogos despreocupados. Que comunicava o que nenhum deles queria trazer à tona, mas que não deixava de ser inevitável.

- Novo em folha. - o médico abriu um sorriso satisfeito que curiosamente não alcançava os olhos, abaixando a camisa dele e deslizando o indicador logo acima do maxilar onde semanas antes havia um corte superficial - Terminei.

- Ótimo, pois estou exausto. - Mingi entrelaçou os dedos sobre o abdômen e fechou as pálpebras, soltando um longo suspiro.

Aquele comentário não era uma surpresa para Yunho, que em um ato indulgente de egoísmo havia escolhido retirar os resquícios das suturas próximo à hora de dormir; dessa forma, o pirata não teria outra opção além de passar mais uma noite na enfermaria. Era apenas uma tentativa fútil e desesperada de agradar a um lado obscuro seu, porque com o corte grave transformado em uma linha fina e rosada atravessando o torso, não existia qualquer motivo para ele ainda estar ali.

Yunho deveria se sentir aliviado por finalmente se livrar daquele problema, um belo e charmoso problema, pois sua rotina logo poderia retornar ao normal na ausência dele. Era o certo. Era o que almejava desde sempre. Mas ao invés de comemorar, a única coisa que pensou em fazer foi prolongar a presença dele por algumas horas, já que não poderia guardá-lo em uma caixa na gaveta de sua escrivaninha junto às outras preciosidades que estimava.

Culpando a própria exaustão pelos pensamentos duvidosos, levantou-se do canto da cama com um bocejo e dissipou a chama da lamparina sobre a mesa, submergindo o cômodo em escuridão.

O que aconteceu depois foi tão repentino que sequer teve a chance de reagir.

Antes que completasse o terceiro passo em direção à porta, Yunho sentiu braços envolverem seu tronco e restringirem seus movimentos com força demais. Sobressaltado com o gesto que definitivamente não transmitia ternura, deixou cair a bandeja em sua posse, que atingiu o chão em uma cacofonia metálica; ao primeiro retesar de seus músculos, uma pressão na parte de trás de suas pernas o fez perder a sustentação e cair de encontro ao piso.

Percebendo que estava prestes a ser imobilizado, Yunho rolou para o lado tentando escapar de uma nova investida imprevisível, mas não conseguia se nortear muito bem no ambiente mal iluminado. Se debateu, resistiu, empurrou e fez o que pôde para se desvencilhar das mãos que fechavam-se ao redor de seus pulsos e tentavam contê-lo, do peso que o limitava, da figura disforme no escuro, mas o despreparo se mostrou uma grande desvantagem. Quando se deu conta, estava de joelhos com os braços retidos às costas e ainda não fazia a menor ideia do que havia acontecido.

Uma risada arrogante ressoou atrás de si, tão familiar que ponderou se estava sonhando sem perceber, porque não havia sentido algum em ter sido atacado por ele.

- Tanta insistência para que eu confiasse em você que acabou esquecendo de se preocupar consigo mesmo.

O médico não sentiu absolutamente nada, mesmo que a situação exigisse alguma espécie de choque ou indignação. Estava confuso demais para qualquer uma dessas coisas, pois cinco minutos antes o dono daquela voz estava prestes a entrar em sono profundo.

- Mingi...?

- Shh. - ele sussurrou, e a voz grave reverberou em seus ouvidos de forma autoritária - Olhos fechados. Não se mova.

Gathering Our Differences - YungiOnde histórias criam vida. Descubra agora