A noção mais básica entre aqueles que se aventuram pelos mares é não expor seus tesouros mais valiosos, pois ostentar conquistas atrai a atenção de usurpadores. Por consequência, um objeto de amor e admiração pode se tornar uma fraqueza.
Yunho sabia disso desde os primeiros anos da infância, pois era o que sua mãe dizia quando perguntava entre lágrimas se daquela vez poderia ir embora com ela. Também sabia ser esse o motivo de seu pai mantê-lo por perto, na estabilidade do porto e na segurança da enfermaria, onde o mar não alcançava. A melhor forma de conservar um tesouro valioso era deixá-lo distante, escondido, para que nenhuma alma má intencionada pudesse usá-lo como arma.
Nada disso parecia importar para os Black Pirates, que sempre ditaram as próprias regras.
O estilo de vida dos Fundadores não era exatamente discreto ou envolto por mistério, e diferente do que Yunho imaginava, os confrontos diretos com o governo eram algo secundário que se dava forma quando as leis entravam no caminho de seus objetivos. Objetivos estes que basicamente envolviam diversão e conforto, pois as paradas em cada cidade eram reservadas a conhecer coisas novas, comer, beber, se divertir e reabastecer suprimentos sem qualquer preocupação com a própria integridade. Longe da terra firme, arriscavam-se por rotas de exploração para encontrar belezas naturais e recolher relíquias como pedras preciosas, tesouros perdidos em tempos remotos e jóias de naufrágios espalhadas pelas praias de ilhas distantes. Não se importavam com a atenção que atraíam ou os problemas que causavam, e não se preocupavam com a bagunça deixada para trás.
Desde o momento em que decidiu acompanhá-los naquela jornada sem destino definido, Yunho não havia se arrependido um dia sequer (mesmo com os inevitáveis períodos de dificuldades), pois o mar era imprevisível e o levava a lugares tão fascinantes quanto havia imaginado. Sua coleção de objetos peculiares continuava a aumentar, dessa vez com o que suas próprias mãos encontravam, e em certas ocasiões custava a acreditar que aquela era realmente sua nova vida.
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— A última da esquerda para a direita. — Mingi orientou com discrição.
Yunho escolheu a carta indicada e a deixou sobre a pilha, contendo uma risada involuntária. Sentado à sua frente sobre o piso do convés, Jongho revirou os olhos, balançando a cabeça como se fingisse (pela terceira vez) não notar a interferência. Ele não parecia se incomodar com a desvantagem, apesar de as regras originais do jogo não permitirem duas pessoas contra uma.
O motivo foi esclarecido minutos depois, quando ele revidou o movimento e saiu vitorioso da partida (também pela terceira vez).
— Tsc. Muito fácil. — os lábios de Jongho se curvaram em um sorriso pretensioso e as mãos ágeis recolheram as moedas de ouro que foram apostadas naquela rodada — Quer um conselho, Jeong? Se planeja aprender a blefar, não aceite sugestões de um perdedor nato.
— Como é que é? — Mingi protestou, franzindo o cenho.
— Isso mesmo que você ouviu. — Jongho deu de ombros, recontando notas de papel entre os dedos com um brilho travesso no olhar. Os últimos resquícios de luz do dia banhavam sua pele bronzeada com um tom morno e suave, em harmonia com o castanho-avermelhado de seus cabelos.
Enquanto ele voltava a embaralhar as cartas entre mais provocações, Yunho suspirou sob o peso das derrotas consecutivas e olhou ao redor. Pinceladas de magenta decoravam a linha púrpura do horizonte, mescladas ao laranja esmaecido do entardecer. Sentado no degrau mais próximo à proa, Seonghwa se debruçava sobre um casaco vermelho com agulha e linha em mãos, cobrindo um rasgo no ombro direito com um padrão intrincado de pérolas. Na extremidade mais afastada, Hongjoong estava perto da balaustrada observando as águas quase estáticas do oceano; o punho repousava sobre um crânio prateado decorando a bengala que sustentava seu peso. Àquela altura, o objeto metálico era utilizado somente por estética e para enganar desavisados que o escolhiam como primeiro alvo em batalhas por deduzirem fragilidade. Era também uma arma, na pior das hipóteses.
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Gathering Our Differences - Yungi
FanficYunho não imaginava que a tranquilidade daquela manhã seria interrompida por um homem sangrando em seus braços. E junto ao calor que se concentrava nas palmas de suas mãos enquanto o segurava, havia um dilema delicado e urgente lhe fazendo desejar q...