This long-lasting night

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Os dias seguiram-se como uma brisa fresca; tranquilos e constantes. Reclusos ao espaço limitado da unidade de saúde, pelo trabalho e pela necessidade, Yunho e Mingi compartilharam da companhia um do outro durante quase todo o tempo. Por sua identidade se tratar de um aspecto delicado, o pirata passava horas no quarto e suas opções de interação haviam sido reduzidas a uma única pessoa, o que levou ambos a construírem uma rotina.

Viam-se desde os primeiros momentos da manhã até o final da noite, pois o médico permanecia por perto mesmo depois que seu turno terminava. Segundo ele, não era seguro deixá-lo sozinho. Assim, Yunho trocava curativos, acompanhava-o em passeios pelos corredores e jardins quando o fluxo de pessoas diminuía, trazia livros e jogos de tabuleiro da área de convivência para ajudá-lo a lidar com o tédio e passava seus períodos de refeições junto a ele. Ocasionalmente, Mingi contava suas aventuras marítimas mais notáveis (que poderiam ou não ter adições fantasiosas para fins de entretenimento) enquanto Yunho falava sobre as ocorrências peculiares que já atravessaram seu caminho na enfermaria.

Descobrindo-se confortáveis na presença um do outro, havia se tornado natural que revelassem informações banais ou de importância mediana acerca das próprias vidas, pois não era como se pudessem fazer qualquer coisa nociva com elas além de ouvir e seguir em frente. Yunho já havia desistido de comparar o que sabia sobre os Black Pirates e o que escutava de seu... o quê, paciente? Prisioneiro voluntário? Rival destinado? ou ainda pior... Amigo? (também desistira de se preocupar com nomenclaturas). Era uma organização muito ampla e pouco concreta, que não possuía um regime estrito de admissão: qualquer um com a determinação suficiente e coragem necessária poderia se afiliar às suas atividades. E haviam imitadores. E sabotadores da causa. E inúmeros fatores que separavam o comportamento duvidoso e imoral de Mingi da genuína crueldade reportada pela Marinha.

Justo por não ser capaz de ter certeza, e por (algum motivo) recusar a alternativa óbvia de apenas generalizar, Yunho decidiu que por hora se concentraria somente nos fatos dispostos à sua frente. No Mingi que detestava ficar parado em um lugar só, que gostava de músicas agitadas, de dormir até mais tarde, e que sonhava em ser artista de rua quando mais novo. O Mingi que sabia ser muito educado e respeitoso quando não se sentia sob ameaça, que gostava de assistir a chuva cobrindo as orquídeas e crisântemos no pátio aberto, e que em momentos aleatórios se mostrava tão desajeitado quanto assustadoramente adorável. Um Mingi que parecia possuir qualidades demais para a reputação que o perseguia.

Diante de tantas faces novas que descobria com o passar dos dias, e por ele estar disposto a ser tão cooperativo em uma situação além de seu controle, Yunho sempre atendia a pequenas vontades do pirata em troca. Isso poderia incluir (mas não se limitar a) torradas extras no café da manhã e doces clandestinos antes do jantar. Era frequente, e sem que percebesse, havia se tornado mais amplo. Até que de alguma forma acabou cedendo a requisições de graus cada vez mais questionáveis.

Como naquela madrugada.


Yunho retornou à unidade no horário combinado, que não era muito convencional. Os ponteiros em seu relógio de bolso indicavam que deveria estar dormindo como uma pessoa normal, ou pelo menos deveria estar em casa, mas já havia decidido que todas as exceções seriam permitidas naquela noite.

Por essa mesma razão, não estava usando o conjunto clássico de roupas claras com o brasão no lado esquerdo do peito; não tinha certeza de onde o destino o levaria, mas sabia que seu uniforme de trabalho não seria apropriado para a ocasião. No lugar dele, envolto em camadas de seda, couro e acessórios de prata, trajava vestes escuras e elegantes dignas de "uma grande comemoração", assim como havia sido instruído.

Um pouco nervoso graças à expectativa, caminhou pelos corredores silenciosos até encontrar a porta familiar pela qual atravessava regularmente. Bateu algumas vezes e aguardou, se divertindo por dentro com a construção do suspense. Ainda não acreditava que havia se submetido àquilo; era como assinar um contrato sem ler os termos. Mesmo assim, tentou se tranquilizar outra vez com o pensamento de que era por uma boa causa (se fizesse esforço para enxergar dessa forma).

Gathering Our Differences - YungiOnde histórias criam vida. Descubra agora