Diarra
Heyoon saiu do banheiro secando os fios castanhos com uma toalha e estreitou os olhos quando me viu engolir um comprimido, quase duas horas depois de chegarmos da faculdade.
— É sério? Vai virar a noite outra vez?
— Eu vou dormir mais tarde.
Ela cruzou os braços, ciente do meu péssimo histórico de sono.
— Você vai ficar doente, Dee.— Pare de me jogar praga! — Abri os livros e apostilas conferindo o relógio. Era quase uma da manhã.
— Não é praga, não. — Ela bocejou. — É um aviso.
— Vá dormir você, já está parecendo um zumbi.
— Vou mesmo. Você devia ir também.
— Eu vou.
— Quando?
— Daqui a pouco.Fui dormir três horas da manhã e acordei às 05h37min com Nala em cima de mim.
Como não escutei o despertador?
— Acóda, mamãe, acóda! — Ela me sacudia.
— Humm... eu estou acordada!
Minha irmã pulou da cama e começou a me puxar para que eu me levantasse.
— Vem ver. Vem, ápido!
— Ver o que, Nala? — Levantei-me esfregando os olhos, grogue de sono.
— Eu pintei a sala. Ficou nindo, vem! Vem logo, mamãe!
Ah, não... Eu já saí do quarto tentando reforçar meu psicológico enquanto esfregava os olhos e trocava as pernas, mas nada que eu fizesse poderia me preparar para o que encontraria.
Havia trigo espalhado por toda a sala. Todos os móveis. Os dois sofás, a estante, a televisão, a mesinha de centro, a coleção de antiguidades de Heyoon, chão, tapete... tudo. Tudo branco.— Nala, o que... — Eu não sabia o que dizer. Seu sorriso sapeca estava destacando sua expressão orgulhosa de si mesma enquanto ela se balançava para frente e para trás com as mãozinhas atrás das costas.
— Você gostou, mamãe? Eu que fiz!
Fiquei a olhando por um tempo, tentando decidir o que fazer. Bater nela? Eu nunca fiz isso.
Passei as mãos na cabeça como se esperando alguma intervenção divina.— Nala, por favor... fala para mim que eu estou sonhando.
— Não, não. Eu fiz de vedade! — Ela correu e começou a pular em cima de um dos sofás, fazendo a poeira branca levantar.
— Tia Yoon! Tia Yoon, vem ver!Heyoon saiu do quarto esfregando os olhos, mas parou com um solavanco ao chegar na sala. — Puta que...
— Não! — Eu gritei, interrompendo seu xingamento. Uma das únicas regras que existia em nosso apartamento era a de não xingar. Eu não queria que minha irmã crescesse com esse tipo de palavreado.Heyoon fechou a boca, abriu de novo, fechou, e dessa vez fechou os olhos também.
— Tudo bem. Calma. Respira. - Ela falou consigo mesma e respirou fundo. - Certo. - Então abriu os olhos e olhou-me. — Que porra aconteceu aqui?Nala pulou do sofá antes que eu pudesse dizer qualquer coisa e correu para ela.
— Eu que fiz a pôa.
— Você não pode falar isso! — Heyoon pronunciou com um leve grau de irritação. Minha irmã amuou.
— Vem aqui, Nala. — Eu a chamei, abaixando-me e ela obedeceu, dessa vez calmamente.
— O que você fez não foi bonito. Isso era para comer, não brincar. Eu já não disse que não queria você mexendo nos armários? Ela olhou para o chão. — Responda, Nala! — falei firme.
Um breve tremor atravessou seu corpo antes que ela balançasse a cabeça num gesto afirmativo.
— Não quero mais você metendo o dedo em armário nenhum, será que eu fui clara? Ela assentiu outra vez.
— Olhe para mim quando eu falo com você! — exclamei, erguendo seu queixo com a mão.Foi então que uma lágrima solitária se desprendeu de um de seus grandes olhos cor de chocolate. Tentei não me incomodar.
— Me diga se você entendeu.
— Eu tendi, mamãe. Posso ir agola?
Ainda permaneci a encarando por bons segundos antes de me levantar.
— Espero que isso não se repita.
Nala foi para o quarto, e enquanto eu preparava o café e Heyoon limpava o chão, pudemos ouvir seu choro abafado.
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The Price Of Happiness
Fanfiction| Adaptação Noarra | Aos 18 anos, Diarra Sylla não pensa em se comprometer com nada mais além do seu trabalho, sua irmã de três anos e sua faculdade, mas sua vida dá um solavanco surpreendente quando em uma noite de estudos, por acaso, ela conhece N...