Indescritível 1

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Já fazem 96 horas que acordei aqui, os eventos que antecedem o meu "despertar" estão cada vez mais parecendo um sonho no qual me esforço para lembrar. Fazem 26 horas que consegui sair da costa e achar um resquício de civilização. A cidade já está sendo tomada pela vegetação. Quanto mais o tempo passa, mais sinto que esta investigação é inútil. Não existem pessoas, mal existem seres vivos.

Obs: Até agora mal senti fome. Comi algumas amoras que achei enquanto atravessava a mata. Me parece que este lugar tem alguma "condição especial". Consigo sentir que até mesmo o ar é diferente por aqui, o ar é "denso", com uma temperatura fria.

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Depois de tanto tempo, achei que seria bom começar a escrever aqui. Tenho que arrumar um jeito de manter minha sanidade. Hoje explorei um pouco esta cidade, sem nomes, sem placas. Carros perfeitamente estacionados e abandonados no meio da rua. Diria que é até impressionante. Encontrei garrafas de água, salgadinhos e comida. Tudo ainda me parece fresco, estranho não? Principalmente pelo fato de que não há luz. Claro que isso ajuda a deixar tudo mais macabro ainda. Encontrei uma cama confortável em um quarto qualquer. Me parece um quarto de adolescente bem modesto. A noite se aproxima, logo não conseguirei enxergar nem ao menos o que está a poucos passos à minha frente. Vou me deitar por agora então, até amanhã!

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Já fazem algumas horas desde que escrevi essa última parte. Já é de manhã e fico feliz de estar escrevendo isso. Aparentemente não estou tão sozinho. Nesta madrugada acordei ouvindo coisas estranhas vindo da sala. Alguns passos acompanhados de gemidos. Uma voz forte e grave, agonizante para se falar o mínimo. Seus passos vieram até a porta do meu quarto. Tenho certeza que a fechei, mas quando acordei ela estava aberta. Pelo menos o suficiente para alguém me observar. Tentarei escrever mais ao longo do dia. Estou sobrevivendo aqui há alguns dias, mas obviamente não estou seguro na cidade.

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Bom, acho que já está próximo do meio-dia, o sol está ardido e acabei de acabar meu almoço de Ruffles e bolachas recheadas. Não aconteceu nada interessante então... Creio que vim parar aqui como alguma forma de punição, talvez provação ou só pelo entretenimento de um ser. Lembro de estar no meu carro, indo para casa como qualquer outro dia. Deitei a cabeça no volante para poder descansar um pouco, mas quando olho para cima, algo me observava. Tudo que conseguia enxergar era sua pele negra, não como uma pessoa; sua pele absorvia a luz para si, seus olhos verdes, com milhares de camadas, divisões incontáveis, sua presença parecia rasgar a dimensão. Em menos de um piscar de olhos, aquilo desapareceu, como uma garota que te encara, mas quando volto meu olhar para ela, ela simplesmente vira o rosto como se não fosse nada. Aquele pequeno segundo foi o suficiente para me destruir, lembro do sangue em meu nariz, olhos, boca, então acordei aqui, aquilo de alguma forma me trouxe para cá.

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