Naquele amanhecer, Maya chegou em casa com a sensação de ressaca pesando sobre ela, foi recebida por seus pais com expressões de preocupação estampadas no rosto. A jovem sabia que não havia como escapar do momento que tanto temia: teria que revelar a seus pais o que realmente tinha acontecido naquela noite. Sobre Camila, sobre a grande raiva e o monitor totalmente quebrado. Com um nó na garganta, Maya respirou fundo e desabafou toda a história. Pediu desculpas sinceras, sentindo o peso da culpa lhe apertar o peito. Seus pais, por sua vez, a surpreenderam com gestos de compreensão e amor incondicional. Em vez de reprovação, receberam-na com abraços acolhedores e palavras de conforto, fazendo-a sentir-se amparada no meio da tempestade que havia enfrentado na noite anterior.
Após o acolhimento caloroso de seus pais, Maya sentiu que precisava de um momento a sós. Com um misto de determinação e vulnerabilidade, encaminhou-se para o quarto, ansiando por encontrar um pouco de paz dentro de si mesma. Ao adentrar o cômodo, notou que sua mãe havia limpado os destroços do monitor quebrado, um gesto de cuidado e preocupação que a emocionou.
Sentando-se à mesa de estudos, Maya sentiu um impulso incontrolável de colocar no papel todas as emoções tumultuadas que a invadiam naquele momento. Pegou seu caderno, folheando as páginas até encontrar uma folha em branco. Com a caneta em punho, deslizou as palavras com fluidez, deixando que os sentimentos se transformassem em linhas e curvas que contavam a história de sua alma atribulada.
A carta que Maya escrevia para Camila era um misto de desabafo e despedida. Nas entrelinhas, podia-se perceber a dor e a saudade que carregava consigo, a dor de um amor que se desfez da noite pro dia e mágoas não resolvidas. Era uma tentativa de fechar um ciclo que parecia interminável, apenas para Maya, de colocar um ponto final em uma história que teimava em se arrastar pelo tempo, que teimava em relembrar, uma história que Camila já havia colocado um ponto final.
Enquanto as palavras ganhavam vida no papel, Maya sentia um misto de alívio e melancolia invadir seu ser. Sabia que aquela carta representava não apenas um adeus, mas também um recomeço. Era o momento de deixar para trás o que já não lhe pertencia mais, de seguir em frente rumo ao desconhecido, com a certeza de que cada despedida é, na verdade, uma porta que se abre para novas possibilidades. Assim, entre lágrimas e suspiros, Maya finalizou a carta com um nó na garganta, sabendo que cada palavra ali escrita era um pedaço de sua alma que entregava a quem um dia ocupara um lugar especial em seu coração. Com um último olhar para o papel agora preenchido, respirou fundo e levantou da cadeira, saindo do quarto. Maya caminhou de forma cautelosa até a saída da casa em direção à caixinha do correio, a protagonista colocou a carta dentro da caixinha, já endereçada para Camila e voltou para dentro de sua casa, sentindo agora um alívio pelo que escreveu, encerrando um capítulo de sua vida e abrindo as páginas em branco do futuro que a aguardava.
Carta
Oi, meu nome é Mary Annellise Williams. Meio que você já sabe disso, né? Mas vamos lá, eu quero te falar umas coisas. Eu amei de forma avassaladora você e não me arrependo por isso, mas você poderia ter sido sincera desde o momento que foi embora, se dissesse que não daria certo, eu nunca teria tentado e/ou continuado a te entregar meu coração para você despedaça-lo.
A vida nos reserva momentos intensos, daqueles que nos fazem sentir borboletas no estômago e que nos levam a entregar nossos sentimentos mais profundos a alguém especial. Foi assim que tudo começou, um encontro de olhares que desencadeou um turbilhão de emoções avassaladoras em meu coração. Eu me vi perdidamente apaixonada por você, sem reservas, sem medo de me entregar por completo.
Cada gesto seu, cada palavra, cada sorriso, tudo em você me cativava de uma maneira única e avassaladora. Era como se o mundo ganhasse mais cor e significado na sua presença. Eu estava disposta a viver esse amor com toda a intensidade que ele merecia, a desbravar cada obstáculo e a enfrentar cada desafio de mãos dadas contigo.
Porém, nem sempre as coisas saem como esperamos, e o desfecho desse amor intenso não foi o que eu imaginava. O momento em que você decidiu partir foi como uma tempestade que chegou sem aviso, levando consigo a minha tranquilidade e deixando apenas um vazio em meu peito. A dor da sua ausência foi avassaladora, como se uma parte de mim tivesse sido arrancada sem piedade.
Se ao menos você tivesse sido sincero desde o início, se tivesse aberto o coração e expressado suas dúvidas e receios, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Eu teria compreendido suas hesitações, suas incertezas, e talvez não teria me entregado de forma tão intensa a esse sentimento que agora parece dilacerar meu ser. A sinceridade é o alicerce de qualquer relação, ela permite que ambas as partes se entendam, sejam honestas consigo mesmas e com o outro.
No entanto, não há arrependimento em amar de forma avassaladora. Esse sentimento intenso e profundo faz parte da complexidade da nossa natureza humana, e é preciso coragem para se entregar a ele, mesmo sabendo dos riscos e das dores que podem acompanhar. Amar é um ato de coragem, de entrega e de vulnerabilidade, e mesmo que o desfecho não seja o esperado, cada momento vivido com amor vale a pena.
Assim, mesmo com o coração em pedaços, guardo com carinho as lembranças dos momentos felizes que compartilhamos, do amor que floresceu entre nós e que, por um breve instante, iluminou nossas vidas. E mesmo que o futuro reserve outros caminhos e outros amores, sempre lembrarei com gratidão e ternura do tempo em que amei de forma avassaladora e sem arrependimentos.
Sabe, era pra ser apenas sobre gratidão e algumas outras coisinhas, mas tem um outro lance que eu quero tanto te dizer, que na sua cara seria perfeito. E sabe o que é? É que eu,
Eu,
Eu detesto você.
Eu (quase) não lembro de você.
Eu não lembro daquele seu cabelinho castanho,
que tem as pontas tão bem enroladinhas
Eu não lembro o contorno do seu rosto,
com suas quinze pintinhas espalhadas,
e dois sinais ali pertinho do nariz
Eu não lembro dos seus olhos,
esses olhinhos azuis, da cor do céu,
que me fascinavam, hipnotizavam
Eu não lembro do seu sorriso,
esse sorriso torto, malicioso, encantador
Eu não lembro da sua voz, aquela voz doce e suave,
que ao acordar parecia ainda mais serena e delicada
Eu não lembro de você.
Eu (quase) não lembro.
Apenas detesto.
Detesto isso que sinto por você.
Eu (quase) não me recordo de você,
Camila Leonardi Princeton.
Com amor, do seu antigo
e Frágil amor, MayaMaya caminhou até seus pais sentindo um profundo alívio após depositar a carta na caixa de correio e se apoiou suavemente na porta da cozinha, observando os mais experientes ali, que estavam fazendo o café da manhã.
- Será que cabe mais um aqui? Minha barriga está quase conversando! - Maya brincou, lançando um olhar divertido aos seus pais, os quais soltaram uma risada contagiante.
Naquela manhã, Maya preparou o café da manhã ao lado de sua família, sentindo-se plenamente acolhida, certa de que podia sempre contar com a presença calorosa deles ao seu lado. Um tempinho mais tarde, enquanto estavam a desfrutar do delicioso café da manhã feito em família, o pai de Maya decidiu participar do papo à mesa, mudando o rumo da conversa e chamando a atenção de sua querida filha para a tão sonhada viagem que a mais nova havia pedido algumas semanas antes.
- Maya, meu amor, consegui aquelas passagens para Chicago, ainda está interessada? - disse o pai, enquanto recebia um leve beliscão de Elouise, sua carinhosa esposa e mãe de Maya. - Ai, querida!
Diante disso, Maya soltou uma risada e prontamente respondeu o mais velho: - Por que não aproveita as passagens e embarca em uma viagem com a mamãe? Já não há mais razões para eu visitar Camila, papai. Vocês dois deveriam desfrutar juntos dessa oportunidade.
Elouise olhou para Maya com ternura e gratidão, enquanto o pai, com um brilho nos olhos, concordou com a filha. Foi decidido que eles fariam a viagem e começaram a planejar os detalhes, desde os passeios que fariam até os restaurantes que experimentariam. Maya sentia-se feliz em ver a empolgação de seus pais e sabia que aquela viagem seria algo especial para eles.
Nos dias que se seguiram, a casa estava cheia de um clima diferente, mais leve e animado. Todos estavam envolvidos nos preparativos da viagem, desde escolher as roupas na mala até garantir que o gato da família fosse bem cuidado durante a ausência. Maya sentia-se grata por poder contribuir de alguma forma para a felicidade de seus pais e estava ansiosa para ouvir as histórias e aventuras que eles viveriam em Chicago.
Finalmente, chegou o dia da partida. Maya viu-os saírem, felizes e animados, prontos para embarcar em sua tão merecida escapada. Enquanto fechava a porta atrás deles, sabia que a casa ficaria mais silenciosa e vazia sem a presença de seus pais, mas também alegrava-se por saber que eles estavam vivendo um momento tão especial juntos.
Enquanto observava pela janela e via o carro desaparecer no horizonte, Maya sorria. Sabia que a viagem que seus pais fariam para Chicago não seria apenas uma escapada turística, mas sim uma oportunidade de criar memórias preciosas, fortalecer os laços familiares e reavivar a chama do amor que sempre existiu entre eles. E com o coração ali cheio de felicidade, ela aguardava ansiosamente pelo dia em que seus pais retornariam, prontos para compartilhar suas aventuras e experiências em uma das cidades mais vibrantes e fascinantes dos Estados Unidos.
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Bloco de Memórias, Maya.
Short StoryAs memórias de Maya são lindamente capturadas em cada capítulo, oferecendo vislumbres dos vários aspectos de sua vida. Das suas queridas amizades aos seus amados hobbies, à sua paixão inabalável e à tranquilidade que encontra, cada página revela uma...