STARK.

760 39 28
                                    

Era a última manhã de aula daquela semana, e o sol morno invadia o laboratório pelas janelas. O professor de química, Bruce Banner, andava de um lado pro outro preparando um experimento, o qual ele assegurava que seria um espetáculo, ainda que fosse o único aparentemente animado, já que o resto compartilhava a canseira típica de uma sexta-feira.

Com a ponta da caneta pressionada sobre o papel, Peter inclinou o peito sobre a mesa, esticando o pescoço para frente o máximo possível. Ele cochichou para Ned, sentado à sua frente:

— Sabe se telefono tem acento?

Ned virou-se vagarosamente, lançando-lhe um olhar furtivo por cima do ombro.

— Acho que na segunda sílaba tem um — respondeu.

Betty, da fileira ao lado, inclinou-se em sua cadeira, as mechas loiras caindo levemente sobre os ombros. Ela olhou para os dois com curiosidade e, de repente, perguntou sem esperar:

— Vocês sabem se ele também não vem hoje? — Ela reduziu o tom à meia voz.

— Ele? O Flash? Esse aí falta pelo menos uma vez na semana — disse Peter.

— Não o Flash — Betty discordou, balançando a cabeça. — O Rhodes.

Peter olhou para Ned, que respondeu com um pequeno levantar de ombros.

A loira abaixou os olhos, brincando com a ponta emborrachada do lápis em um canto do caderno.

— Ele não apareceu desde aquele dia que ele saiu no meio da aula. Pela cara dele, parece que ele sentia muita dor... — Ouviu-se uma ligeira preocupação na voz dela.

Ele parecia mal mesmo, pensou Peter, lembrando-se da feição de urgência do homem, quando se misturou a um ofego audível e aflito, antes dele atravessar a sala de aula com a mão nas costas e desaparecer porta à fora. Dois dias se passaram e ainda não havia notícias concretas o suficiente, o que deixou um mar de especulações entre os alunos.

— Todo mundo tava falando sobre aquele problema que ele tem nas costas — comentou Ned —, acho que tem a ver com isso.

Betty apertou o lápis entre os dedos e cruzou os pés, recolhendo-os embaixo da cadeira.

— Sim, eu ouvi os boatos. Tomara que não seja nada grave, né?

— Olha... o Rhodes é um cara durão. Ele vai se recuperar bem rápido — afirmou-lhe Ned.

Betty deu-lhe um sorriso meigo antes de olhar para frente, e Peter pôde jurar ter visto as bochechas de Ned se transformarem em dois tomates vermelhos.

Em um ato repentino, Ned abriu a boca, parecendo estar prestes a dizer algo, mas então hesitou. Peter observava-o, curioso. Quando Ned manifestou um segundo impulso, desta vez pareceu ter vindo com um pouco de determinação.

— Betty? — ele chamou, e a jovem inclinou a cabeça, indicando que estava ouvindo. — Sabe aquele filme que vai...

Antes que Ned terminasse a frase, o professor Banner interrompeu, com um eco alto vindo lá da frente:

— Pessoal! Por favor, agora quero toda a atenção aqui!

O homem segurava em mãos dois objetos cilíndricos de vidro, semelhantes a copos, um com minúsculas esferas escuras se aglomerando e o outro com um líquido transparente. Na mesa, havia mais vidrarias de todos os tamanhos, um deles se destacando por ser maior, tendo a base larga e uma abertura estreita que formava um gargalo se estendendo para cima.

Banner misturava soluções e depois despejava dentro do erlenmeyer grande, mostrando tudo para a classe enquanto explicava cada detalhe sobre iodofórmios. Ele parecia reluzir em êxtase, e anunciou sua animação quando chegou no último passo do experimento. Foi adicionando aos poucos o último líquido, enquanto balançava o vidro maior lentamente, com a mão fechada segurando firme no gargalo.

DESOBEDIÊNCIA - starkerOnde histórias criam vida. Descubra agora