A soma de meias verdades.

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Seus nervos estavam à flor da pele, empurrando-o para longe, sem pensar em parar. Dominado pelos impulsos, ele desceu o andar em poucos passos, ignorando o chamado de Ned quando chegou ao armário, cuja porta de metal se abriu com um estrondo grosseiro sob sua mão.

Finalmente, Ned conseguiu alcançá-lo, ofegante.

— Cara, o que foi? — perguntou ele de olhos arregalados. — Eu te chamei umas mil vezes! A gente não devia ter saído. E se o professor aparecer? Ele falou pra não... — Então foi interrompido pelo toque alto do intervalo, o que pareceu trazer um claro alívio aos seus ombros.

— Que se dane — cuspiu Peter, ríspido. — Não tô nem aí pra aquele maluco... — Empurrou o exame nas mãos de Ned e gesticulou para ele com o queixo.

— O que? — Ned olhou para o papel, confuso. — Que nota é essa? Parece um cálculo. É um cálculo. Mas... é História...? — ele comentou, com a voz carregada de dúvida à medida que examinava mais de perto.

Enquanto isso, Peter, movendo-se com apuro, esvaziava sua mochila, deixando livros e cadernos caírem desordenadamente.

— Ah, ele deve ter errado, né? — Ned arriscou a hipótese. Porém, nem mesmo ele parecia estar convencido daquilo.

— Não importa. Eu tô caindo fora — respondeu Peter, direto e resoluto. O baque do último livro batendo no armário pontuava sua decisão.

— Vai matar aula? Mas a gente tem prova de Espanhol — Ned insistiu, oferecendo o papel de volta.

Mas Peter não quis saber.

O exame foi amassado sem dó, transformando-se em uma bola de papel feia e disforme. A raiva crescente mais parecia emanar de seu corpo, agora como um calor sufocante, percorrendo a pele das costas indo até o pescoço. Arrancou a jaqueta verde que usava e a lançou no armário, não poupando o papel amassado do mesmo destino.

— Vou direto pra casa, eu acho — alegou Peter. Teve o suficiente do professor por aquele dia.

Ned o encarou em silêncio, até que encolheu os ombros e se aproximou, apoiando uma mão na porta do armário.

— Ok, eu almoço com o esqueleto lá do laboratório então.

Peter riu.

Ned o conhecia muito bem, logo sabia que não tinha chances de fazê-lo mudar de ideia. Relaxou sua postura e estendeu a mão para ele, que retribuiu o habitual aperto ritmado, selando sua cumplicidade.

— Boa sorte com aquele estágio — disse Ned no último aceno. — É melhor ir logo, antes que alguém o veja por aí — ele o preveniu, fechando a porta de metal.

Não ligo se ele me ver, refletiu Peter, que se exploda todas as aulas dele.


E atravessou o movimento dos corredores, passando por todos tal qual uma sombra. Logo, se esgueirou para cantos mais quietos, em direção a saídas de poucos olhares, onde rapidamente se viu livre dos limites do colégio. As ruas, barulhentas e frenéticas, se estendiam sob seus pés como um convite à fuga, levando-o para cada vez mais longe. Um andar sem rumo, alimentado pela frustração amarga que pouco aliviava sua mente.

A mochila, pendurada de forma descuidada em um ombro, escorregava e balançava com seus movimentos bruscos, obrigando-o a ajustá-la várias vezes, enquanto seu passo acelerado permanecia firme.

Olhava fixamente para o chão, seguindo as fissuras daquela calçada cinzenta que parecia não ter fim. Seu rosto se torceu em uma carranca, enquanto sua mente continuava perdida em uma densa névoa de ressentimento. A marca vermelha do exame ecoou pela milésima vez em sua consciência, provocando-o com seu absurdo. Só pode ser brincadeira, pensou, foi de propósito, eu sei que foi. Mas não ligo.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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