Mente fria, sangue quente

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Arrogante, convencido.

Só tinham se passado seis dias desde a chegada dele na escola, mas já odiava suficientemente a expressão inflexível e ilegível que ele usava, a máscara fria de desdém que cobria cada palavra polida que saía de sua boca. Mas foi aquele olhar presunçoso, que atirou lenha a combustão de ressentimento em Peter. Como se tivesse o direito elevado em toda a justificação de agir como bem entendia. Era tudo injusto, tão injusto. Cada pequena motivação questionável alimentava um poço crescente de indignação que ameaçava transbordar.

Sem dizer uma palavra, tinha simplesmente saído da sala. Entregou o papel de permissão amassado para a garota antes de encontrar Ned, a expressão de seu melhor amigo distorcida em descrença quando soube, aquela anulação repentina parecendo incompreensível, simples assim.

Agora, Peter caminhava para casa, a mochila de zíper aberto bem apertada em uma das mãos, os fones de ouvido enterrados na orelha, enquanto sua mente agitada refletia em uma carranca espremida no rosto. Volta e meia imaginava todas coisas que poderia ter dito, e no que resultariam.

Ao se aproximar da fachada familiar de seu prédio, a reflexão de Peter foi interrompida pela visão de May e Happy conversando na calçada.

— Happy! E aí? — ele cumprimentou, puxando os fones de ouvido e enrolando-os distraidamente na palma da mão. — Saiu mais cedo, tia?

Happy acenou com a cabeça.

— Tava de passagem e vi ela saindo, então ofereci uma carona, já aproveitando que eu passaria aqui pelo bairro de qualquer maneira.

— Pego o turno da noite hoje — acrescentou May, com um sorriso meigo.

— Inclusive, é bom ter encontrado você, Peter — Happy interrompeu, abrindo a porta de seu carro e puxando do banco de trás um monitor grande e escuro. — Era do escritório lá de casa, mas ficava apagando e não tenho paciência pra esperar conserto. Já peguei outro. Lembrei que você gosta de mexer em coisas assim, então se quiser ficar com ele...

Os olhos de Peter se arregalaram, a mochila esquecida enquanto escorregava de seus dedos e batia na calçada. O monitor de aparência cara era muito maior e de mais alta tecnologia do que a relíquia desatualizada que ele tinha.

— Valeu Happy! Valeu mesmo! — ele agradeceu profusamente, a lembrança do caso com o professor momentaneamente deixada de lado.

— É um garoto esperto, aposto que já deve pensar na faculdade. Vai se dar bem — comentou Happy calorosamente.

— Ele tá querendo fazer um estágio na Sh...Shong? — May o encarou, mordendo o lábio.

— Shang — Peter corrigiu, um pouco sem jeito. — Shang-Chi Tech.

— Isso! — retomou May, com um estalo de dedos. — Acho que um estágio vai ser muito bom, sem interferir muito nos horários da escola. E ele sempre fala dessa Shong, né Peter?

É praticamente a única coisa que a tia May concorda, Peter refletiu interiormente. Diferente de um emprego, os estágios eram geralmente de curto prazo, e com um peso significativo nas inscrições para faculdades.

— Shang-Chi, é? Aquela daqueles círculos? — perguntou Happy, fazendo uma mímica com a ponta do dedo, se referindo a figura dos dez anéis que formavam a logo da marca.

Peter confirmou com aceno.

— Na verdade, é só uma ideia, sabe?

— Não, que isso, a Shang até que... — Happy então foi interrompido pelo toque de seu telefone, seguindo-se uma breve conversa. — Ah, é mesmo? Que pena, mas não se preocupe, tudo bem. Melhoras pra menina. Se precisarem de algo é só me chamar.

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⏰ Última atualização: Jun 07 ⏰

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