Quando ele me olha, sinto como se o chão tremesse e eu posso jurar que o meu coração erra uma batida. Não sei o que fazer ou falar, esqueci tudo o que vazia planeja há poucos minutos. Então desvio de seu olhar, o que é um erro, porque começo a encarar outras partes dele.
Henry está usando uma camiseta azul, como o céu ao amanhecer. E veste uma calça branca como a neve, os cabelos loiros estão escuros e molhados, posso chutar que ele acabou de sair do banho e esse pensamento, faz o meu rosto arder. E ao deslizar o olhar para a imensidão de seus olhos verdes, percebo que ele está fazendo o mesmo, me olhando da cabeça aos pés. Um breve arrepio sobe pela minha espinha e quero saber o que ele está pensando, pela primeira vez em tanto tempo, tenho curiosidade sobre alguém. Quando seu olhar pousa sobre a xícara de açúcar, me lembro o porquê estou aqui e tento me recompor, ignorando qualquer visão sobre seus braços fortes e ombros largos.— Açúcar dessa vez? – ele rompe o silencio antes que eu o faça e ao mesmo tempo, me arranca um sorriso sincero.
— É sempre um mistério, é bom você testar antes – ele sorri de volta e isso faz com que o meu sorriso cresça ainda mais.
— Então vamos testar – ele diz enquanto abre mais a porta, deixando um espaço maior para que eu possa passar, não sei como reagir porque é indecente que uma mulher casada frequente a casa de um homem solteiro. Ao menos acredito que ele seja, não está usando nenhuma aliança.
— Desculpe, eu... – olho ao redor da sua rua deserta, é tão raro ver alguém caminhando por ela, que não sei o porquê seria diferente agora. Olho em seus olhos novamente e algo se instala em mim, como imã me atraindo para ele. — Claro, por que não? – é uma pergunta interna e deve ser por isso que ele não responde.A casa de Henry está coberta por caixas de papelão e há um único móvel em toda a sala, um sofá de couro marrom com um lençol branco sobre ele, é provável que Henry tenha passado a noite no sofá e deve ter sido a luz de sua sala que vi pela fresta da janela na madrugada.
Ele caminha pelo cômodo, se desviando das caixas enquanto segura a xicara com todo cuidado, o sigo ao que eu imagino que seja a cozinha e quando chegamos, a cozinha está mais arrumada e com mais móveis e utensílios a vista.— Perdão pela bagunça, ainda não tive tempo de me organizar – ele explica enquanto mexe em uma das muitas caixas e retira um pote de vidro. — Então, você é do time café ou chá?
— Chá – respondo e ele sorri.
— É que eu só tenho café – quero rir do seu jeito manhoso de falar, quero rir sobre tudo o que ele diz na verdade.
— Pensando melhor, eu amaria um café agora – ele sorri e pelas minhas contas, o meu coração está a ponto de parar, os sorrisos que ele deixa escapar só o deixam mais lindo.
— Você tem um bom gosto, Margot – ele diz o meu nome com a cabeça inclinada e olhando no fundo dos meus olhos e é tudo tão mais íntimo de tudo o que já experimentei, então desvio. — Você pode se sentar naquele banco – ele continua enquanto aponta para um banco cor de vinho no canto da cozinha.Arrasto o banco para perto do balcão de mármore e ao me sentar, apoio os cotovelos sobre ele, admirando a dança silenciosa de Henry ao preparar o café, ele desliza pelo cômodo como se gostasse do que está fazendo e quando falta algo, ele caminha até uma caixa e retira o que precisa, como se soubesse o conteúdo de cada uma delas. Depois de pegar duas canecas, ele posiciona uma de cada lado do balcão, a que coloca para mim, é verde azulado, cor de mar – vi o mar uma única vez em uma das férias de família quando criança e me apaixonei completamente pela imensidão do oceano.
O cheiro doce inunda o ar e fecho os olhos por um segundo, a fim de guardá-lo para sempre dentro da minha memória. Ouço o ambiente se acalmar e quando abro os olhos, Henry está me encarando, com um olhar curioso. Ele pega a chaleira e enche as duas canecas.
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Casos Ilícitos - A casa da frente
RomanceUm casamentos infeliz. Um vizinho. E um amor nascido em meio as ruínas. É possível amar depois de ter o coração dilacerado? É possível ir embora em meio a tantas promessas? É possível reencontrar o amor e não deixá-lo ir novamente?