01 - Funeral;

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A morte canta uma melodia sempre quando uma alma é ceifada. Mas essa em específico, o anjo chorou. Lamentou terrivelmente nos primeiros acordes da sinfonia, trazendo dor, culpa e acima disso. Justiça. — Yasmim Santos.

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DOIS ANOS ANTES

BUSAN — COREIA DO SUL

5:50 A.M

A chuva derrama sobre a cidade, lavando a neve rala que caiu por toda a noite. O frio cortante não impedia que no cemitério, três homens permanecessem diante a lápide recém coberta depois dos familiares terem ido a cerca de uma hora. Ali o nome de Jeon estava gravado, juntamente com o ano de seu nascimento e ano de falecimento, abaixo uma frase mórbida sobre vida após a morte — do lado direito jazia o de Jimin. Ambos unidos como tem de ser. Não havia outro jeito que não este.

Jin já não chorava, todavia, seu rosto ainda era um lembrete da dor imensurável que carrega, não apenas ele mas seu marido também, que o mantinha por perto para suporte e aquecê-lo, segurando firme o guarda chuva grande e preto que combinava com tais vestes apropriadas para um momento tão horrível e esmagador como aquele.

Já Jung Hoseok evitava chorar. O país em si estava tomado por uma angústia que apenas eles e todos que perdem entes queridos sentem, não há um ser humano que consiga lidar com maturidade quando a morte chega sem aviso e tira deles seu bem mais precioso.

O anjo da morte continua sua sinfonia errante, dançando conforme a melodia aumenta nos corações aflitos — o platinado desliza os dedos longos e pálidos pela face, removendo as lágrimas silenciosas que insistiam em escorrer, enfatizando a agonia interna que sente desde que recebera a notícia maldita sobre a morte do seu amigo.

— Vamos, Jin. Precisa descansar. — Ouviu Namjoon sussurrar, o timbre rouco e arrastado diz muito do que reprimia.

Afinal, o momento de negação ainda os rodeia, era difícil crer no quão bizarro e injusto foi o ocorrido entre o casal que tinham tudo para ser feliz e foram mortos friamente por aquele que ninguém conhecia. Jin assente lentamente, permitindo que o marido o leve para casa.

— Jung. Vamos, precisa descansar também.

— Irei, podem ir na frente. — Foi sua resposta enquanto seus lumes vítreos ainda estavam fixos nas lápides.

O delegado nada diz, apenas o conforta novamente e se vai.

Hoseok engoliu o amargor, ergueu a face retorcida em lamento para o céu que aos poucos clareava. Ficaram por toda a madrugada, ouvindo o padre falar e falar e nada daquilo acalentar a dor — continuou paralisado, estático, ouvindo os pais de Jungkook chorarem desesperadamente, os sogros tentando confortá-los e tudo desmoronando. O que pensaram ser sólido como aço temperado, nada mais era do que texturas inflamáveis que no primeiro sinal de fogo explode e vira cinzas.

— Adeus, Jungkookie. — Murmurou, os lábios trêmulos quando o choro novamente irrompe. — Adeus Jiminie. — fechou os olhos, sentindo as lágrimas salgadas aquecerem o rosto gelado.

Virando-se para sair, caminhou pelas pedras brancas até a saída, o sobretudo preto pesado não impedia do vento glacial congelar seus ossos, arrepiando sua pele. Ignorando visitantes que chegavam, destravou as portas do carro, fechando o guarda chuva antes de entrar, respirou fundo antes de enfiar a chave na ignição... o motor ronronou e em instantes saiu do acostamento, acelerando pela rua ainda vazia, rumo a sua casa, qual não queria ir mas era o único lugar que deveria estar.

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