A Canção Que Faltava | NAROL

01 | Prólogo

NARRAÇÃO DA NATÁLIA

Acabo de sair da casa da Carol após uma longa conversa sobre esse relacionamento dela com o Marcos. Ainda não me conformo com esse envolvimento. O Marcos ainda é um menino e, querendo ou não, é bem irresponsável às vezes. Não é possível que só eu enxergue que esse relacionamento não tem como ser duradouro e que é muito provável que a Carol é quem saia machucada nessa história. Mas ela está muito bem decidida, então nada me resta a fazer além de focar na minha vida, que por sinal anda muito confusa.

Desde que tive mais uma lembrança da fatídica noite da morte do Bruno, não consigo parar de pensar na possibilidade de eu mesma ter matado meu próprio irmão. Só o pensamento me corrói por dentro e me atormenta. Será que passei 25 anos da minha vida procurando alguém para incriminar só para não enfrentar a cruel realidade de que essa pessoa, na verdade, pode ter sido eu?

Preciso me livrar desses pensamentos. Lígia me recomendou investir em outras atividades que me façam tão bem quanto a fotografia para serem meu escape e que eu possa fazê-las quando precisar me livrar de algum pensamento obsessivo e compulsivo. O que ninguém sabe é que a música sempre foi meu segundo ponto de apoio depois da fotografia. Por isso decidi começar um novo projeto que une as duas coisas que mais amo. Quero agora fazer filmagens que retratem a minha interpretação de algumas canções e que expressem meus sentimentos. Quero que as pessoas sintam da mesma forma que eu sinto e enxergo essas canções.
Penso em fazer esse projeto nas redes sociais, quem sabe? Bom, eu nunca fui boa com esse negócio, eu sou travada por natureza em qualquer aspecto. Até de aplicativo de mensagens eu ainda apanho, prefiro mil vezes ligações. Mas esse negócio de Instagram aí até que eu me dei bem, tá? Gosto de postar algumas fotografias, algumas até bombaram, mas ainda tem muita coisa que é nova e que eu gostaria de explorar mais. É isso, Natália! Coisas novas. Precisamos reinventar nossos projetos. Como Lígia falou: está na hora de renascer. Está decidido!

QUEBRA DE TEMPO

Após resgatar Thaís e Marcos, levo meu sobrinho de volta para casa com um alívio enorme no peito por estarem bem e por Marcos ter sido o grande herói da história, afinal eu sempre soube que nesse sequestro meu sobrinho não poderia ser culpado como estavam julgando. Jamais! O Marcos pode ser irresponsável, mas ser mau? Jamais!

ー Ai, chegaram! Graças a Deus! ー Carol afirma aliviada e vem em nossa direção abraçando o Marcos. Abraço-os de volta, mas claramente sua preocupação era com meu sobrinho. Confesso que fiquei sentida. Queria que aquela atenção fosse comigo. Marcos reclama de dor e lembro que ele estava machucado.

ー Senta aqui, Marcos. Vem cá.

ー E você está bem, Natália? Aconteceu alguma coisa com você? ー Aquela pergunta de Carol fez meu coração acelerar as batidas rapidamente, mas me limitei em contar brevemente o que tinha acontecido e como o Marcos tinha sido o herói da história e não o vilão que estavam pintando.

ー Olha, confesso que quando vi você amarrado... Fiquei aliviada! Porque ele tava do lado dos mocinhos!

ー Não, mas pera aí. Vocês dois foram muito imprudentes, tá? Vocês estão proibidos de fazer isso de novo, gente! ー Disse Carol com um olhar de preocupação e imediatamente seguro em sua mão para afirmar que não faríamos nada parecido com aquilo novamente.

Marcos se levanta para se alimentar e Carol senta ao meu lado, voltando a segurar em minha mão.

ー Natália, que loucura foi essa? Eu volto do banheiro e não encontro ninguém aqui, vou pra garagem e não vejo seu carro? Poxa, você quer me matar de preocupação. ー Não consigo conter o sorriso que nasce em meu rosto ao ver sua preocupação que dessa vez é realmente comigo. Me conforta o coração. Carol é minha melhor amiga e ver que, apesar de seu relacionamento com o Marcos, ela ainda se preocupa comigo, me alegra genuinamente.