Capítulo 02🐞

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Eu posso, posso te agarrar pela garganta

É tão divertido ver você engasgar

Eu posso, eu posso te dar tudo que você quiser

Todos nós temos que morrer sozinhos

Tears, pain and blood - IC3PEAK

- Você não precisava ter vindo - comento assim que paramos de repente, virando-me para o homem alto e negro que desligava o carro

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- Você não precisava ter vindo - comento assim que paramos de repente, virando-me para o homem alto e negro que desligava o carro.

Tínhamos acabado de sair do hotel, e ele insistiu em me acompanhar até aqui, mesmo que o combinado fosse apenas até lá. Eu disse que não era necessário.

- Foram instruções da senhorita Walton; sabe que só cumpro ordens - diz Rullios, sorrindo. Retribuo o sorriso, pois sei que não foi apenas por ordens.

Ele veio de São Francisco até o México porque é meu amigo. Embora pareça durão, com cara fechada, na verdade, Rullios é como uma casquinha de sorvete de chocolate no verão.

- Tiana não deveria ter lhe feito trabalhar nas suas férias. - comento, tirando os óculos escuros.

Rapidamente, troco as argolas nas orelhas por pontos de luz delicados, combinando com o colar. Olho no pequeno espelho, e aprovo a bonita mulher que vejo no reflexo.

- Ela só ficou preocupada, queria saber se você ficaria bem.

Claro que eu ficaria, por que ela acha o contrário?

Dou um sorriso e volto minha atenção para o grande homem ao meu lado.

Rullios era um dos seguranças particulares dos Walton, uma das famílias mais influentes da Flórida. Uma das herdeiras resolveu fazer faculdade em São Francisco, e foi assim que conheci Tiana Walton. No começo, não nos dávamos bem. Na verdade, eu não quis que nos déssemos bem. O problema era eu, não ela. Apenas me blindei para me tornar quem sou hoje, por mim e pelo meu filho.

- Bem, tem certeza que é aqui? - pergunta Rullios, entregando-me minha bolsa enquanto o sol mergulha no horizonte.

Desembarco do carro preto com Rullios ao meu lada Dona Ibserva a grande e imponente mansão à nossa frente.

Encaro a grandiosidade da residência, que permanece exatamente a mesma desde que me lembro, e respondo com confiança:

- Tenho certeza absoluta.

Rullios vai até a traseira do carro e, logo depois, ouço o barulho do porta-malas se fechando enquanto ele se aproxima novamente com minhas malas.

- Gostei da mudança... - Rullios sorri sem jeito ao me elogiar.

Deslizo uma mão pelos cabelos recém-cortados, que agora estão um pouco abaixo do ombro com ondas que eu mesma fiz com a chapinha. O loiro deu lugar a um ruivo claro, resultado de uma noite inteira de trabalho. Talvez os tenha cortado curtos demais, no entanto, eu gostei. Nunca havia mudado a cor antes, mas confesso que estou satisfeita com o resultado. Queria uma mudança e me sinto diferente, de um jeito que me faz ficar mais confiante.

Com um sorriso nos lábios, arrumo o elegante vestido marrom que escolhi com cuidado. Ele vai até a coxa e me confere o ar mais profissional possível; as botas de salto médio combinam com a meia-calça preta fina, dando o toque final.

- Então, acho melhor eu ir... - Rullios diz baixo, e noto sua preocupação. Viro-me para ele e seguro seu ombro.

- Eu vou ficar bem, não se preocupe comigo. - o tranquilizo.

- Não é com você que estou preocupado - diz ele, erguendo uma sobrancelha com ironia. - Vou ficar na cidade por algumas semanas; afinal, aqui é Cancún. Se cuide, loira... ops, ruiva - corrige-se rapidamente, e não consigo deixar de achar graça. - Boa sorte! - pisca antes de voltar para o carro.

Finalmente, me viro para a longa passarela e, sentindo um misto de nervosismo e ansiedade, caminho em direção ao imponente casarão. Uma sensação estranha aperta meu estômago. Lembranças de quando fui forçada a sair daqui me invadem, trazendo de volta a humilhação...

Respiro devagar enquanto subo os longos degraus da escada. Ao chegar à porta, toco a campainha e forço um sorriso gentil. Rapidamente, sou recebida pela empregada.

- Bom dia, você deve ser a senhorita Bianca Velard, certo? - pergunta, é tento manter o sorriso enquanto aceno que sim. - Ah, ótimo. Por favor, me acompanhe.

Sinto um frio na espinha enquanto ela me conduz pelo interior da casa. Observo os detalhes ao redor: brinquedos espalhados pelo chão, pinturas nas paredes. Tudo estava reformado, mas consigo lembrar das inúmeras vezes que passava correndo pela sala enquanto minha mãe estava na cozinha. Meus olhos repousam por um instante sobre uma foto com duas pessoas, onde uma criança feliz sorri ao lado da avó. Sinto um nó na garganta e quase choro ao ver a imagem, mas mantenho minha compostura e contenho as lágrimas. A empregada gentilmente me conduz até um escritório, para por um momento e enfia apenas a cabeça no vão da porta.

- Senhora Iolanda, a candidata número vinte e três chegou para a entrevista da vaga de babá. - comunica a empregada.

- Peça para entrar. - ordena a voz áspera que vem do escritório.

Tento esconder a tensão crescente dentro de mim quando a empregada me dá passagem e entro aquela sala fria e sem vida. Já estive aqui antes, e agora não é mais tão assustador. A estante com livros continua no mesmo lugar, arrumada como era anos atrás.

Observo Iolanda escrevendo algo em um pequeno caderno. Os cabelos brancos parecem ter se multiplicado desde a última foto dela que vi. A pele, branca e pálida, está cheia de rugas. No entanto, é o colar de rosário que ela segura com força na mão livre que chama minha atenção. Os pequenos diamantes ao redor do colar brilham e são tão chamativos quanto me lembro que sempre foram.

Ela coloca a caneta sobre o papel, ergue os olhos despreocupados e pega um copo de água ao lado.

- E então... você é...? - Seus olhos se arregalam, e ela pisca em confusão ao me olhar, atordoada, em choque. - Você...

- Olá, como é bom vê-la novamente, querida Dona Iolanda. - forço um sorriso largo, ouvindo o som do copo cair no chão. Meu sorriso cresce ainda mais.

Eu estava de volta, e seus olhos arregalados são a prova viva de que era isso que eu queria, era essa a recepção que eu merecia.

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