[f(13) = 5x - 52] Primeiros laços

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Ser socialmente inapta, naturalmente, me faz não saber o que fazer diante de toda sorte de situações.

As restrições de me relacionar com meus iguais é algo com o que convivo desde o início de minha vida. De início era perturbador, me fazia suar frio somente com o pensamento de interagir com pessoas de fora do meu ciclo social. 

Com o passar do tempo, no entanto, se tornou apenas um inconveniente esquecido por baixo de meu desprazer pela vida.

O pavor de me relacionar com outras pessoas deixou de existir porque eu deixei de me importar com o que qualquer uma delas pensa. A grosseria substituiu o nervosismo, a acidez substituiu a vergonha.

O acúmulo da falta de interações bem sucedidas, seja pela incapacidade de me socializar ou pela posterior absoluta falta de vontade de fazê-lo, resultou no que sou hoje. 

Vinte quatro anos, nenhum amigo.

Minha família é o único vínculo de longa data que consegui preservar — e até isso, durante os últimos três anos, deixei enfraquecer.

Então é apenas natural que, em decorrência da tragédia social que sempre fui, eu não tenha vivenciado muitas coisas. 

Envolvimentos sexuais de uma noite só, absolutamente todos sempre resultantes de álcool circulando em minha corrente sanguínea, é tudo que consta em meu histórico de relacionamentos não-platônicos.

Ninguém nunca disse com todas as letras que gosta de mim. Honestamente, eu nunca esperei ouvir. 

Ainda pior, eu nunca esperei ouvir isso de Simone Tebet. 

Mas ela deu os sinais. Apesar de usar tudo de mim para ignorá-los sem saber que o estava fazendo, agora eu percebo quão cega fui por me deixar enganar por minha própria consciência relutante.

A cada vez que suas investidas me fizeram gaguejar ou corar infernalmente, a cada vez que ela venceu a barreira da Soraya de hoje e trouxe um pouco da Soraya socialmente inábil de antes, Simone esteve deixando claro que nossa inimizade sempre foi unilateral. 

Estava deixando claro que ela, logo ela, sentia por mim o que eu achei que ninguém nunca sentiria.

Agora, eu me sinto completamente desprotegida enquanto Simone continua com os olhos intensos entregando toda sua atenção a mim. A grosseria parece ter evaporado completamente de meu corpo e tudo que me resta é uma bagunça de bochechas quentes e incapacidade de falar ou de me mover, enquanto vejo que suas próprias bochechas gordas parecem avermelhadas.

Certamente, não como as minhas.

— Vocês estão bem? — Subitamente, a voz de Angelise interrompe nosso silêncio rubro.

Eu mal me lembro de quando ela foi ao banheiro. Eu sequer lembrava que estamos no meio do refeitório lotado, conversas e talheres se chocando contra as bandejas em todos os lados. É como se, a partir do momento em que as palavras deixaram a boca de Simone, eu tivesse sido levada a outro lugar. Mas eu continuo parada, exatamente onde perdi o ímpeto de me mover quando ela se confessou.

Subitamente, eu quero correr. Quero ir para bem longe dela, para não precisar lidar com o que acabou de acontecer. 

Mas enquanto o desejo invade meu peito e Angelise espera uma resposta que nunca vem, Simone me implora com o olhar.

— Não fuja, por favor. — E então sua súplica encontra sua voz, que soa ansiosa como nunca.

Angelise ainda espera. Eu ainda quero correr. Mas meu corpo anseia pelo contrário. E, sem força nas pernas, eu caio sentada no mesmo lugar de antes, a cadeira metálica amparando meu corpo quando a decisão é tomada. E eu não fujo.

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