[f(8) = 3x - 16] Código de conduta

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Nós precisamos descobrir o que aconteceu com Angelise.

Esse é nosso novo objetivo, que deve ser alcançado com urgência. Por isso, saímos em disparada do quarto de Simone.

Sorinha se assustou quando eu tentei levantar rápido demais e acabei derrubando o copo vazio na bandeja. Com orelhas desse tamanho, imagino que a audição do bicho seja mesmo aguçada. 

Não é como se nós tivéssemos semelhanças, como Simone parece achar.

De qualquer jeito, nós saímos dali às pressas. Deixamos as coisas sujas de qualquer jeito na cozinha, então entramos em Pandora e, sentada no banco do motorista, Simone simplesmente parou, pegou um dos chocolates que não esqueceu de trazer e começou a comê-lo.

— Com licença? — Chamo, contrariada.

Ela me olha e suspira. Quando começa a falar, percebo que seu dente está sujo de chocolate. 

— Nós precisamos encontrar Angelise, se ela estiver viva. Certo. Como vamos fazer isso? — Pergunta, em resposta à minha reação inconformada.

— Sei lá? — Ótima resposta. 

— Eu também não sei. Comer me ajuda a pensar, então respeite meu momento. — Ela fecha os olhos e morde mais um pedaço da barrinha de chocolate com cookies.

Eu me recosto no assento num movimento consternado e viro o rosto para o lado, porque olhar para Simone, sua expressão pensativa e seu dente sujo me dá agonia. 

No entanto, mal me recupero da visão e sinto algo pousar em minha coxa, o que me faz olhar para ela imediatamente em alerta. Me alivia perceber que o que está em minha perna é a outra barra de chocolate, não sua mão.

— Coma também. — Ela diz, ainda pensativa, mal se dando o trabalho de me olhar. — Está se sentindo melhor? 

— Sim. — Respondo, traiçoeiramente pegando o chocolate antes de virar o rosto outra vez. — Passe na MoonMoon. Eu vou pegar Belinda. 

— É mais fácil se ficarmos em Pandora, Soraya. Não corremos o risco de nos separar. Sério, olha o inferno que estamos vivendo. Nós precisamos ficar juntas. 

— Eu não gosto de deixar Bee largada assim. — É tudo que digo, sem mudar de ideia.

Não é apenas implicância, mas eu realmente dei duro demais para conseguir pagar por ela. Fiz hora extra como camareira mesmo precisando acordar cedo na manhã seguinte, limpei vasos sujos de várias bundas desconhecidas, desentupi mais merda do que Tobias é capaz de produzir e fui andando para a aula todos os dias, para economizar o dinheiro da passagem. 

Depois de tanto sacrifício, é natural que eu queira ter tanto cuidado, porque não sou como Simone que posso simplesmente pagar por uma nova quando assim bem entender. 

E além de tudo, eu sou mesmo apegada a ela. Então não importa se o universo está colapsando, eu não vou deixar minha Bee abandonada por ainda mais tempo. 

— Tudo bem. Vamos pegar Belinda, depois decidimos o que fazer sobre Angelise. — Simone finalmente cede, amassando a embalagem vazia de seu chocolate e enfiando-a no bolso de sua calça. 

— Eu vou procurar o Twitter dela. Instagram ou qualquer coisa assim, porque até então não sabemos nada além do lugar onde ela estuda. — Digo, estendendo a mão para que Simone me dê seu celular, já que deixei o meu em casa. 

No entanto, seus olhos grandes pareceram subitamente arregalados e, ao invés de colocar seu telefone sobre minha palma estendida, o que ela fez foi apertá-la com sua própria mão, como num gesto de comemoração compartilhada. 

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