[f(6) = 3x - 12] Sem espaço

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Eu e Simone continuamos sentadas no acostamento da ponte, precariamente protegidas pela manta que ela pegou em seu carro.

Com o passar das horas, as vias vão ganhando movimento, o sol começa a nascer, deixando um rastro de tom amarelado no céu parcialmente coberto por nuvens, e eu me sinto cada vez mais cansada. Mas mesmo que meus olhos estejam ardendo de sono, não consigo dormir.

Ao meu lado, como meu oposto em tudo nessa vida, Simone está com a cabeça caída contra a mureta, seus olhos estão fechados e seus lábios levemente arroxeados pelo frio.

Inconformada, eu deixo uma risada azeda escapar e viro o rosto para resmungar baixo, sozinha.

Nós estamos vivendo um caos na linha do tempo e ela realmente consegue dormir. Numa ponte.

Quando tempo demais passa sem que eu consiga pregar os olhos e meu estômago ronca desesperadamente alto, eu decido que é hora de sair daqui e cutuco Simone para tentar acordá-la. Não que funcione.

— Só pode ser brincadeira. — Resmungo sozinha, então a cutuco mais forte, mas a desgraçada tem mesmo o sono pesado.

Sem paciência para ela e para essas bochechas redondas que fazem sua boca formar um bico enquanto dorme, eu joguei a manta longe de meu corpo e fiquei de pé, então dei três chutes fracos com a ponta da bota.

— Ei. Acorda, Baby Dino.

Sem resposta, eu jogo meu corpo para trás, com os olhos bem apertados, e deixo um som mal humorado escapar, fechando meus punhos com força para conter o impulso de chutá-la de verdade.

Numa última tentativa antes de deixá-la dormindo aí sozinha, eu respiro fundo e me aproximo outra vez, então toco em sua bochecha, empurrando-a repetidamente, o que faz seu corpo ir e voltar.

— Tebet. Baby Dino. Agnes Gru? Russell? Qual é! — Eu a empurro uma última vez com um pouco mais de força, o que faz seu corpo escorregar para o lado.

Mas, antes que caia no chão sujo, eu percebo que ela tenta segurar o riso, até que falha miseravelmente e cai é na risada.

E no chão também.

— Você estava acordada?! — Pergunto, alterada.

Simone apoia as mãos no piso cimentado para se reerguer e, quando volta a se sentar, ainda está com esse riso estúpido que faz com que suas bochechas gordas se levantem e seus olhos grandes e escuros formem meias-luas.

— Qual é o seu problema? — Insisto, irritada porque me sinto feita de otária enquanto sou motivo de seu riso.

— Desculpa. — Ela pede quando começa a conter a própria risada e bate uma palma contra a outra, várias vezes, para limpá-las. — Eu queria ver de quantos nomes diferentes você seria capaz de me chamar.

— Infelizmente eu já não lembro de nenhum outro personagem bochechudo quanto você. — Anuncio, mal humorada, enquanto pego a manta do chão num gesto brusco, só para me ocupar com alguma coisa.

— Bem que eu percebi que existe algo em comum entre todos que você citou. Mas não só as bochechas, quer dizer, são todos adoráveis. Isso quer dizer que você me acha adorável, Thronicke?

Eu ri com escárnio, desistindo de dobrar a manta, então apenas a amasso numa enorme e bagunçada bola gigante.

— Você tem algum problema, Tebet. Baby Dino é insuportável.

— Oh. Sim. Erro meu. Aliás, o nome dele é só Baby. Sem o Dino.

Eu reviro os olhos em fúria e jogo o agasalho amassado na direção dela, o que acaba por desfazer a esfera troncha que eu tinha feito e o faz cair quase estendido sobre as pernas de Simone.

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