[f(21) = 5x - 84] Preto e branco

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Às vezes, nossas intenções pouco importam. Nós somos julgados pelos atos, enquanto nossas motivações por trás deles se perdem em meio às interpretações de tudo que fazemos.

Tocar Bento enquanto ainda estávamos na festa foi um movimento involuntário para impedi-lo de despencar pela escada. Ouvir suas lamentações embriagadas não foi uma decisão tomada com base em minhas preferências naquele momento — porque estava claro, para mim, que eu preferia estar com Simone.

Ainda assim, Ben parecia verdadeiramente magoado e mesmo que eu não tenha culpa, tenho participação no contexto por trás da causa. Eu não podia deixá-lo falando sozinho, se menosprezando daquela forma.

Não reagir quando ele me beijou não foi por pensar, durante aqueles segundos, que talvez eu desejasse seu beijo. Eu não desejei. Só estava embriagada demais para fazer uma leitura rápida da situação e afastá-lo de mim.

Então eu o trouxe para minha casa, porque seu pavor diante da possibilidade de ser visto pelos pais naquela situação era óbvio demais, enquanto eu sei que nem todos os pais são sequer minimamente compreensivos ou justos. Existem pais e mães agressivos por aí, que aplicariam punições descabidas e inescusáveis por deslizes que sequer são graves de verdade.

E ele estava sujo de vômito, então emprestei roupas de Tobias para que usasse depois do banho. Deixei que dormisse na minha cama, tendo a certeza de sequer dormir no mesmo quarto que ele para não deixar espaço para uma nova confusão.

Tudo que fiz, desde o momento em que o toquei pela primeira vez naquela maldita festa, até o momento em que o deixei deitar em minha cama, foi para tentar ajudar Bento. Em nenhum momento houve desejo. Em nenhum momento pensei em me envolver com ele mais uma vez.

Para Simone, nada disso importa.

Para ela, a única coisa que deve ser levada em consideração é ter visto Ben saindo de meu quarto.

E então, não pela primeira vez, ela foge.

Não que eu a culpe inteiramente por estar magoada e por interpretar o que parece óbvio na situação.

Ainda assim, ver o desenrolar de tudo enquanto me é negado o direito de falar me irrita e me enche de agonia.

— Thronicke? — É Ben quem me chama quando, depois de tentar e falhar em impedir Simone de entrar em Pandora para ir embora, eu volto para dentro de casa mais uma vez.

— Espera. — Eu peço, talvez um pouco brusca, quando empurro a porta para que ela se feche e logo corro para pegar meu celular.

Enquanto ele continua no mesmo lugar, confuso, meus dedos se atrapalham ao digitar uma mensagem para Simone.

Simone.|

Não aconteceu nada entre Bento e eu.|

Ele só precisou dormir aqui. Darian e Angelise viram o estado dele ontem.|

Me encontra na universidade, por favor. Pode ser no estacionamento entre nossos departamentos. Eu te espero lá.|

Com as mensagens enviadas e nenhuma previsão de resposta, eu volto a guardar o celular enquanto percebo os olhos de Ben ainda me avaliando silenciosa e vergonhosamente.

— Eu te causei problemas? — Depois de me olhar por novos segundos, ele acaba por questionar.

Sim, cacete.

Mas nem é culpa dele.

— Não precisa se preocupar, não. — Então garanto, ainda que minha agonia seja óbvia. — Mas eu preciso ir. Você já pode ir para sua casa?

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⏰ Última atualização: Sep 02 ⏰

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