Capítulo 2

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         Naquela noite voltei para a casa com Aliet, realmente não havíamos visto Jonathan, mas como ela dissera, ele com certeza encontrou seus meios de ir antes de nós, já que é um rapaz impaciente e sabia que ainda iríamos demorar com a checagem final do local, desde que a blogueira Iolanda Shuutz, invadiu uma das festas organizadas por Aliet, sempre checávamos tudo pessoalmente. Além de termos reforçado a equipe de segurança, Jonathan deu-nos a idéia de manter os repórteres observando apenas os preparativos das festas. Segundo ele isso além de punir Iolanda, traria um marketing em cima da curiosidade.

"A curiosidade é a alma do marketing", ele dizia, "e o marketing a alma do negócio", completava. Aliet confiava nele, via em Jonathan alguém hábil, dinâmico e inovador, segundo ela, o mundo dos negócios sempre estava se renovando e ele fazia parte desta guinada.

Muitas vezes eu senti ódio de todo esse apreço que ela tinha por ele, crescemos juntos, ele era o filho do mais antigo funcionário de Joos Van der Bilt, seu pai era um homem bom e tranqüilo, que acabou se tornando grande amigo da família, Gustav era seu nome, filho de uma holandesa e um alemão. Teve apenas um filho, qual meu pai e minha mãe biológica cuidavam com zelo, desde jovem Jonathan dava mostras de sua competência criativa.

Passamos a infância confortável na casa de meus pais, ele se lembra da morte da minha mãe melhor que eu mesmo, sei exatamente como ela morreu, pois numa certa ocasião perguntei a Jonathan e ele me respondeu com riqueza de detalhes, gostava muito dela e ficou de coração partido quando ela se foi. Contudo, assim que Aliet se casou com meu pai, ele se apegou a ela, não lembrava em nada a sua madrinha falecida, mas era agradável e gentil, e isso parecia ser um parâmetro no tipo de mulher com as quais Joos se relacionava.

Cresceu um rapaz bonito, cabelo curto, sempre bem cuidado e com seu estilo próprio, vestia-se bem, sempre de uma maneira mais despojada, e com bons sapatos. Influenciado por ele sempre pratiquei esportes, natação, tênis, golfe, sempre praticamos juntos, éramos companheiros de equipe, mas não se tem amigos quando se compete individualmente em natação, tênis e principalmente em golfe, portanto éramos companheiros por um lado, e adversários por outro.

Nossa amizade cresceu, embora sempre estivéssemos competindo por algo, sua personalidade sagaz e efusiva me encantava e segundo ele, admirava a calmaria em mim. Quando ele se apaixonou pela primeira vez eu era mais jovem que ele, mas foi em mim que encontrou abrigo, no meio de uma tormenta, nunca me disse quem era a moça, mas pelo que eu soube, ele nunca havia dito a ela própria sobre seus sentimentos.

O ponto que me incomodava realmente era toda essa relação próxima entre ele e Aliet, eu sentia um incômodo alfinetando o meu peito, então eu sempre procurava evitar os momentos em que os dois estavam juntos, conversando e rindo, me sentiria menos invejoso, sim, pois por muitas vezes eu tive certeza de que era inveja o que eu sentia. Talvez mais ciúmes, mas por que exatamente eu sentiria ciúmes? Ela me amava mais que a todos, era mais uma vez o meu Édipo gritando em meus ouvidos o quão canalha e miserável eu era. Eu a respeitava, em demasia.

Não, mais que isso, eu a amava, assim como ela me amava mais do que todos os outros seres humanos que a rodeavam, eu a amava, mais que qualquer outro, muito embora eu não tivesse muitas pessoas a quem amar, posso dizer que faltavam-me as opções certas, quem sabe foi por essa solidão voluntária que decidi amá-la e somente a ela? Eu, então, seria um aprendiz, pupilo, devoto, filho. E todo o resto significaria algo apenas para mim, ninguém além.

Voltamos o caminho todo em silêncio, não havia muito o que dizer, contudo eu sentia que ela desejava falar algo, aquele clima tenso de palavras presas estava tocando minha pele tão forte, ou seria apenas impressão minha? Será que Próspero ainda pairava minha adrenalina? De todo modo resolvi me calar, talvez fosse um erro, talvez ela quisesse mesmo dizer algo que nos faria ficar mais calmos e confiantes, e até sorriríamos, mas nunca ajo pelo incerto, e dei-me o benefício da dúvida.

Nua e CruaOnde histórias criam vida. Descubra agora