Capítulo I

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Quando Próspero e Frida Garth entraram pela comprida e iluminada sala de Aliet Van der Bilt eu prendi a respiração. Embora fossem irmãos, seria possível dizer que eram um casal, já que ela, 5 anos mais velha que ele, era uma loira gélida quase Hitchcockiana no auge de seus irritantes 23 anos, com um corpo curvilíneo, alta e esguia, olhos castanhos, cabelos presos em um coque, num impecável vestido nude com brilhantes e brincos longos também de brilhantes; nada se assemelhava a ele, um rapaz de cabelos negros rebeldes na altura do pescoço, pele pálida, com um Black Tie meio desalinhado, mãos nos bolsos e olhos profundamente negros.

Ela firme, reta, perfeita em sua precisa linha de andar, quase uma gata, mas faltou-lhe o charme alegre dos gatos. Ele vivaz, revolto, desinteressado e cínico, um pretensioso sorriso cínico, talvez ele sim fosse o gato.

- Heitor! – Chamou-me Jonathan, controlando a voz, para evitar um grito deselegante no meio do salão dourado. – Aliet quer nos falar. – Completou.

Acenei que sim com a cabeça, olhei para trás e já não vi o casal de irmãos. Peguei um wiskey com o garçom e segui Jonathan, nem me atrevi a perguntar o que a jovem viúva Van der Bilt desejava, já que ali eu era o aprendiz, ela a professora, se ela chamasse eu iria, se sorrisse eu concordaria, se se envaidecesse eu faria com que ela transbordasse em seu próprio ego. Era simples, já que Joos Van der Bilt havia me presenteado com uma bela madrasta. E eu só precisaria fingir não agonizar em meu doce Édipo dentro do quarto enquanto meu ausente pai morria num hospital na Suíça. Triste. Mas nem tanto.

- Venha, Heitor quero que você conheça os verdadeiros patrocinadores desta noite: Frida e Próspero Garth, seus pais são os donos da rede de hospitais e indústria Garth de remédios. – Aliet falava em um tom comedidamente empolgado sobre os Garth, tinha um certo carinho pela família. Eu fiquei atônito, não ouvi o discurso de apresentação que Aliet fez, a beleza de Frida era intimidadora, ela tinha uma pele opaca, mas ainda assim rosada, parecia uma boneca. Ao menos parecia ser tão fria quanto.

Próspero, meio desleixado, segurava uma taça de vinho, em alguns momentos pensei que a derrubaria, olhava para ele e em reflexo tentava reagir, mas ele se recuperava rapidamente, durante toda esta dança torturante entre eu e ele, Aliet e Frida conversavam, Jonathan contava casos engraçados, tudo parecia dentro da normalidade, até que eu, em silêncio e admirando o meu copo de wiskey com o gelo derretido, ouvi meu nome sair dos lábios vermelhos de Próspero.

- Heitor, não é isso? Quer fumar lá fora? – ele disse enquanto trocava as taças de vinho na bandeja de um dos garçons, olhou para mim confortavelmente e sussurrou como se não quisesse ser ouvido por ninguém. – Lhe fiz uma pergunta, você fala ou somente acena gestos convenientes com a cabeça grande com a qual nasceu?

O desaforo dele me irritou.

- Minha cabeça não é grande, senhor Garth. – Falei antes de engolir o wiskey já quente e aguado. Me senti um homem firme e senhor de mim por respondê-lo. Adorei minha petulância recém descoberta. Nem mesmo notei que ele olhava para mim, com uma das sobrancelhas arqueadas.

- É isso? Digo... essa é a sua resposta? Não teria algo mais erudito para falar? Como sua família de neurocirurgiões poderia facilmente tecer toda a minha existência física, simplesmente pelo formato e tamanho da minha dimensão cefálica. – Ele foi completamente cínico, aquilo me deixou em fúria, mas como fora acostumado, reprimi mais aquele incêndio e mudei de assunto gentilmente enquanto ele repousava a taça ainda cheia em uma mesa próxima.

- Você disse que queria sair para fumar, eu não fumo, mas posso levá-lo a um lugar que não incomode os demais convidados. – Falei secamente com o copo vazio entre meus dedos.

Naquele momento, assim que a última palavra terminou, ele me agarrou pelos ombros e tirou-me do salão como que fosse ele o anfitrião e não eu. Olhei para trás e pude ver Frida dirigindo seu olhar de censura para nós dois, Jonathan continuava a peleja de estórias, e Aliet chamou a atenção de Frida que imediatamente virou-se de costas lentamente, mostrando as costas nuas perfeitas, de pele rosada.

Nua e CruaOnde histórias criam vida. Descubra agora