Machucada

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- Você sempre acorda da mesma forma. — A voz da raposa ecoou pelo quarto destruído e Harumi ergueu o olhar para o rosto da bijū projetado por chakra. Kurama soltou um grunhido baixo e olhou para seu reflexo no espelho quebrado na parede do quarto e soltou um suspiro. — Já se passaram anos, talvez devesse buscar ajuda.

- De quem? — Harumi sussurrou e abaixou o olhar para a garrafa de whisky vazia nas mãos. — Não sobrou ninguém.

- Talvez Shisui tenha acordado.

- Depois de anos? O mundo saberia. — Harumi se arrastou até o banheiro e se olhou no espelho, seus fios vermelhos parecem sem vida, seus olhos não tem brilho, olheiras embaixo deles deixavam claro o quão profundamente abalada ela se encontrava.

Harumi ligou o chuveiro e se livrou de suas roupas, era o primeiro banho em semanas e se ela quisesse arranjar mais comida precisava se arrumar. Algum tempo depois ela saiu da pequena casa onde morou nos últimos 3 anos e 5 meses mas ficou surpresa ao ver que não estava sozinha, como todos os outros dias.

- Eu estava perguntando quando ia sair ou então me notar. — A voz de Jiraiya passou por seus ouvidos e Harumi molhou os lábios antes de seguir seu caminho. — Nem um "Vovô, quanto tempo!"?

- Você sabe a resposta. — Jiraiya a seguiu rapidamente e parou em sua frente, a fazendo o olhar novamente.

- Você precisa voltar comigo, Haru. — Jiraiya falou colocando as mãos nos ombros dela. — Agora que te encontrei eu posso te ajudar, volte para casa comigo.

- Eu não tenho uma casa. — Harumi sussurrou e seguiu seu caminho. Jiraiya a observou por alguns segundos antes de seguir a Namikaze.

O sábio dos sapos não podia negar que quase não reconhecia a Harumi em sua frente, era como uma casca de alguém que um dia foi uma pessoa. Ele podia ver que Harumi ainda treinava graças a área destruída dentro da floresta mas não entendia a motivação da neta se o mundo não sabia onde ela estava.

Por três semanas ele tentou levá-la para Konoha mas falhou em formar um argumento de como seria benéfico ela voltar para o lugar onde perdeu sua família, duas vezes sem poder fazer nada para evitar. Jiraiya foi chamado por seu antigo mestre e atual hokage e por mais que não quisesse, ele voltou e a deixou sozinha novamente.

Harumi estava o observando quando viu o homem ir embora e ela se sentou na cama antes de se encolher em uma bola no próprio cobertor. Não era mentira que ela estava cansada da própria mente mas não conseguia acabar com sua dor, não importa quantas vezes ela tivesse tentado.

- Kurama... — Harumi chamou a raposa que abriu os olhos. — Obrigado por ter ficado comigo, mesmo quando te deixei sair.

- Não precisa me agradecer, Harumi. — Kurama ficou acordado até ver sua Jinchuuriki adormecer e ele soltou um suspiro baixo, pela milésima vez, desde que se fundiu com sua Jinchuuriki, a raposa se culpou por ter assassinado os pais dela em busca de liberdade. — Me perdoe por ter deixado você se transformar em alguém assim.

Mais alguns dias se passaram e Harumi se viu em direção a Konoha, ela não estava se escondendo enquanto andava pelas aldeias exibindo seu longo cabelo vermelho e olhos azuis. Ela era a versão feminina perfeita de sua mãe, exceto os olhos que puxou do pai. Claro que com isso, boatos começaram a surgir e no caminho Harumi se viu obrigada a matar alguns caçadores de recompensas mas ela completou com sucesso sua missão e quando percebeu estava parada nos portões de Konoha.

Alguns ninjas que entravam e saíam pararam em seu caminho e olhavam fixamente para a adolescente, alguns chocados, outros surpresos e poucos felizes. Harumi sentiu seu coração acelerar e levou uma mão para o próprio peito.

Suas lembranças voltaram com toda força enquanto ela se lembrava de sua curta infância feliz, do ninja mascarado, da morte dos pais, de como ela teve que assumir a responsabilidade por Naruto e isso chamou a atenção de Shisui, que a ajudou. O ataque de Danzou e como ela conseguiu salvar o Uchiha a tempo de uma catástrofe, de como o terceiro não fez nada para apoiar os Uchiha, de como Itachi assassinou todos impiedosamente. Ela se lembrou de Sasuke e de sua dor e então de como não conseguiu lidar em perder sua família duas vezes e isso a levou a quebrar sua promessa.

Ela se lembra de implorar para Kakashi ajudar, mesmo que eles não tivessem tido uma conexão forte conforme cresciam, ela implorou para ele cuidar de Naruto enquanto ela trabalhava para ocupar a mente. Kakashi ajudou sem saber que era a última vez que veria Harumi, que fugiu covardemente e foi dada como morta. Ela ainda se lembrava das palavras que disse para Kakashi, mas nunca vai se esquecer da expressão de Naruto ao ouvi-las.

- Por que está indo embora? Você não me quer mais? Não me ama mais? — Naruto questionou com lágrimas nos olhos enquanto sua irmã fazia uma mochila com um álbum de fotos e algumas peças de roupa. — Harumi, você é tudo o que eu tenho.

- Eu sinto muito, você vai ficar melhor com o Kakashi. — Harumi levantou e olhou para Naruto. — Ele vai cuidar de você enquanto eu trabalho, ele vai te proteger... Mas eu não posso, Naruto, não posso ser sua mãe, não importa o quão parecida nós sejamos... Eu nunca vou ser a mamãe.

- O que está acontecendo? — O chão começou a tremer e todos correram para dentro da aldeia, todos exceto Harumi que ficou imóvel no portão ao ver as cobras.

Ela se arrependeu de ter voltado no mesmo instante e estava prestes a dar meia volta quando começou a ouvir gritos de pessoas desesperadas e outra lembrança invadiu sua mente. De quando o Kurama foi solto na vila, de como ele atacou toda a aldeia e seu pai protegeu a todos.

- Você está comigo? — Harumi questionou a raposa que se sentou balançando suas caudas.

- Sempre. — Com facilidade, Bijū e Jinchuuriki derrotaram grande parte das cobras invocadas e dos ninjas traidores. Harumi viu Shukaku se liberar e viu quando o Kurama foi projetado no corpo de um dos sapos do monte Myoboku.

Após algumas horas a aldeia estava um caos e Harumi encontrou seu avô, Jiraiya pediu para ela o acompanhar até o hospital onde ele pediu para uma enfermeira levar Harumi até o quarto de Shisui. A Namikaze não entendeu a motivação mas ele a tranquilizou dizendo que era somente para ela ter um lugar para ficar sem se preocupar com as pessoas a cercando.

Harumi foi deixada no quarto do Uchiha adormecido e ela o olhou por alguns minutos em silêncio antes de arrastar a cadeira e se sentar enquanto segurava sua mão. Ele ainda estava como 5 anos atrás, imóvel, sem aparelhos mas em um coma profundo.

- As vezes eu me pergunto como seria se você nunca tivesse sido roubado. — Harumi sussurrou fazendo carinho na mão do Uchiha. — Você teria previsto e parado Itachi. Eu não teria fugido como uma covarde com medo da própria sombra. Mas tudo o que eu sinto é medo.

A ruiva falou e colocou a mão direita nos fios grandes do cabelo de Shisui e os afastou com carinho da testa do mais velho. Ela deitou a cabeça na cama e abraçou o próprio corpo.

- Eu sinto muito por ter decepcionado todo mundo. — Harumi sussurrou e sentiu uma mão em seus cabelos, o que a fez se afastar e encontrar os olhos escuros de Shisui a olhando fixamente, enquanto ele sorria.

- Você nunca foi uma decepção, Haru. — A voz calma do homem preencheu o silêncio do quarto e diferente do que Harumi esperava, não estava rouca pelos anos em coma. — E eu sinto muito por ter te deixado sozinha para lidar com as consequências.

- E-eu ach-achei... — Harumi sussurrou e se levantou derrubando a cadeira.

- Eu acordei algumas horas atrás, antes do ataque começar mas não estou acostumado com meus olhos ainda então tive que ficar em repouso já que meus olhos originais sumiram, a sorte que Tsunade-sama conseguiu fazer uma cirurgia e repor os olhos de Fugaku-san. — Shisui explicou e olhou para suas mãos. — Soube que você me salvou anos atrás, obrigado.

- Eu achei que estava morto... — Shisui a olhou e foi envolvido pelos braços da adolescente, o que o pegou de surpresa. — Eu estou tão feliz em revê-lo.

- Eu estou feliz que você está aqui. — Shisui a abraçou com um pouco mais de força e beijou os fios vermelhos da menor. — Finalmente aqui.

A Filha Do Quarto Hokage {Naruto}Onde histórias criam vida. Descubra agora