Onde jaz

22 2 0
                                    


Olhar para você deitado ali, imóvel, foi como testemunhar um eclipse solar, uma escuridão que engolia toda esperança de retorno.

Odiar cada segundo daquele espetáculo foi como lançar pedras em um espelho, esperando que a raiva pudesse estilhaçar a dor.

Eu apostei todas as fichas no ódio como uma âncora para me manter firme contra a tempestade da perda, mas parece que nem mesmo as ondas mais furiosas podem desgastar a rocha da saudade.

O ódio tornou-se uma prisão dourada, adornada com correntes de ressentimento e grades de remorso

Desde o primeiro momento em que visitei sua casa e não encontrei mais seu sorriso na janela, até o lento desbotamento da memória da sua risada contagiante, cada instante foi como uma pétala de rosa perdida no vendaval da minha mente.

Eu me encontrei em um duelo constante comigo mesmo ao contemplar seu túmulo, imaginando se sua alma encontrava conforto na escuridão eterna, ou se, como eu, ela ansiava pelo retorno à luz.

A autopiedade tornou-se meu reflexo no espelho, uma sombra que me segue em cada esquina, em cada momento de silêncio.

E, acima de tudo, me arrependo por ter deixado que as exigências da vida pessoal e profissional eclipsassem a necessidade que você tinha dos seus netos.

Vô, lamento profundamente não ter desfrutado cada momento ao seu lado enquanto tive a chance.

O ressentimento se tornou minha companheira de jornada nessa estrada sinuosa da saudade, uma lanterna que ilumina o caminho, mas que também queima os dedos.

Poeira CósmicaOnde histórias criam vida. Descubra agora