Porque nesta vida tudo passa

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Miranda Priestly

Quando finalmente abri meus olhos na manhã seguinte, parte de mim festejava em uma alegria desregrada, enquanto outra parte desejava desaparecer.

Por quê? Ora, o motivo é simples. Acordei com minha bela ex-namorada em meus braços.

Andrea dormia pacificamente aninhada ao meu corpo, seu rosto escondido no meu pescoço, e uma de suas pernas entre as minhas coxas. Eu me sentiria quase nostálgica se não fosse todo esse amargor.

Isso foi definitivamente um erro.

— Acorde, Andrea — sussurrei suavemente.

Andrea nunca foi fã de acordar cedo, mas pela claridade do quarto, não pode ser antes das 11 horas. Um pequeno desastre, considerando que as gêmeas chegarão antes do almoço.

— Hmm — ela resmungou, se contorcendo levemente contra mim.

Ela é absolutamente adorável.

— Precisamos acordar — insisti.

Então, o ar escapou dos meus pulmões quando aqueles grandes olhos castanhos se abriram e me olharam, como se fossem capazes de desvendar a minha alma. Ela sempre dizia o quão magnífico era o meu olhar, mas eu sempre me senti nua diante do dela.

Andrea Sachs é definitivamente o amor da minha vida.

Mas nesta vida, tudo passa, e ela também passou.

Respirei fundo, desviei meus olhos dos dela e me levantei da cama. Ela continuou parada, fitando o nada, provavelmente ainda no processo de despertar. Coloquei algumas roupas na cabeceira para que ela pegasse quando finalmente acordasse e me dirigi para um banho rápido. Não tínhamos muito tempo.

Quando a vi novamente, ela estava descendo as escadas e vindo em direção à cozinha, com uma expressão levemente aborrecida.

— Você está me expulsando? — Acusou.

Eu parei de mexer na cafeteira e a encarei. Havia uma mistura de dor e raiva em seus olhos que me cortava como uma lâmina afiada.

— Não é isso, Andrea — respondi, tentando manter a calma. — As gêmeas vão chegar logo, e...

— E você não quer que elas me vejam e pensem que nós reatamos? — Ela quase sorriu, um sorriso amargo que me fez sentir um aperto no coração.

Ela não estava errada, de certa forma.

— Elas são crianças, Andrea — insisti. — Ficarão confusas se nos virem juntas. Eu não quero que elas passem pela dor do nosso término novamente só por causa de um... — suspirei profundamente. — De um erro.

Andrea me olhou, absolutamente mortificada.

— Um erro? — repetiu, ainda incrédula.

— Sim, Andrea — revirei os olhos, mais para esconder minha própria dor do que por desdém. — Nossos problemas não desapareceram magicamente só porque tivemos uma recaída.

Ela deu um passo para trás, como se minhas palavras tivessem a atingido fisicamente. Seus olhos se encheram de lágrimas que ela rapidamente piscou para longe.

— Você realmente acha que foi um erro? — Sua voz estava trêmula, mas firme. — Acha que o que sentimos uma pela outra é algo que pode ser simplesmente descartado como um erro?

Eu fechei os olhos por um momento, tentando organizar meus pensamentos. Andrea me fazia viver a incomum situação de achar que não estou me expressando corretamente, ainda que eu sempre tenha me orgulhado do meu vocabulário extenso. 

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