Capítulo 1

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A insensibilidade da vida ensinou-me cedo uma lição

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A insensibilidade da vida ensinou-me cedo uma lição.

Tudo mudou subitamente, ditando um ritmo ao qual eu não estava preparada para acompanhar. As memórias ainda tinham um gosto amargo em minha boca, lembrando-me constantemente do que um dia já fui e garantindo-me não esquecer quem eu jamais voltaria a ser.

O destino me pregou uma de suas irresponsáveis peças. Sigo sentindo-me violada por ter algo tirado tão repentinamente de mim sem qualquer permissão. Uma sensação de roubo me assolava, era como ser espectadora da minha própria história, encarregada apenas de observar enquanto a vida passava e escorria pelos meus dedos, incumbida unicamente de sofrer por acontecimentos que independem de mim.

Todo episódio sucedeu-se de modo afobado; tive minha realidade mudada de forma brusca. Não foi uma surpresa agradável, menos ainda fácil de ser engolida. Continuo achando-a intragável. Adaptar-me permanece duro.

Antes de dormir ainda penso nos dias que antecederam meu declínio. Consigo lembrar com exatidão dos sons, das palavras e risadas que me foram sussurradas, da sensação arrepiante quando tocava alguma música…

Os detalhes que me separam da Sakura dessa época são poderosos.

Eu tinha quatorze anos e esperava ansiosa pelo término do recesso escolar. Idealizava o Ensino Médio — assim como todo adolescente —, e por esse motivo, sentia-me intensamente inquieta — ao mesmo tempo que profundamente feliz — com a nova etapa que eu percorreria. Foi um tempo de extrema leveza e sorrisos fáceis, tanto, que ao olhar para trás, encontro-me incapaz de associá-lo à minha atual realidade. Hoje, o passado parece-me outra vida.

Por semanas, aguardei ansiosamente o momento em que as tempestades decorrentes do mês de julho cessassem e lavassem com elas a melancolia do inverno. Recordo-me do tédio e de como fiquei pendurada no parapeito da janela do meu quarto, rezando silenciosamente por uma acalmada no clima.

Minha mãe dizia que a chuva era boa; que precisávamos dela. Eu entendia que enfrentávamos dias secos e a água era benção, mas preferia que o céu estivesse limpo, e o sol, forte.

Estava de férias, não deveria ser julgada.

Era sábado de manhã. Sei de cor o dia da semana porque regurgito esses acontecimentos mais do que seria saudável fazê-los. Afobada, ainda que houvesse nuvens carregadas no céu e fizesse frio, implorei para que meus pais me deixassem sair.

Juntamente com meia dúzia de amigos, subi em minha bicicleta e pedalei até um lago escuro que havia na saída da cidade.  Foi um bom dia, e eu estava feliz.

Cheguei tarde a minha casa e fui me deitar ainda com um sorriso no rosto e coração palpitante, alimentando minha ansiedade sobre como tudo mudaria com a volta às aulas.

No fim, as coisas realmente mudaram, mas não como julguei.

Em minha plena satisfação adolescente, não pensava que qualquer coisa poderia dar errado; não pensava que a vida teria planos diferentes dos meus.

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