Capítulo 2

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Adormeci sem antes conseguir me decidir se mandaria ou não mensagens para Sasuke.

Embora quisesse, parte de mim ainda insistia no medo com base na insegurança. Não conseguia simplesmente deixar para trás, e por esse motivo, batalhava uma guerra árdua com meu eu interior, tentando convencê-lo de que Sasuke poderia ser uma área segura, alguém a quem se confiar, alguém a quem ceder uma chance.

Pensei que fosse passar do horário conforme remoía o que havia acontecido. Relia o bilhete que Sasuke havia escrito para mim como se fosse aparecer palavras novas na pequena folha amarrotada. Percorria os olhos pela letra de extremidades pontudas e espaçamentos apertados, divagando enquanto sentia uma sensação de aperto no estômago.

Parecia uma garotinha ingênua em seu último ano do fundamental, ansiosa por algum mínimo sinal de interesse vindo de alguém inalcançável.

Naquela manhã, não andei a passos largos para faculdade. Não desviei o olhar do meu reflexo no espelho. Achei curioso o poder que um fragmento de bondade teve em minha vida. Me espantei ao perceber como eu precisava disso.

Sasuke era um estranho; um estranho de unhas coloridas e roupas enormes, um estranho que me fez pensar nele a noite toda. Ele era um estranho, que, com um gesto simples — um bilhete amassado —, iluminou minha manhã sempre tão cinza e suspirante. Minha manhã de lamento.

Me sentia estranha; lembrava das palavras sussurrantes que ele disse contra meu rosto enquanto sorria daquele jeito torto, contorcendo suas sobrancelhas grossas. Linda... Sasuke havia me chamado de linda. Disse que eu era linda. Acreditei nele. Embora não devesse, eu acreditei, e acordei me sentindo atraente. Acordei sentindo que Sasuke tinha razão ao me dizer aquilo.

Embora permanecesse com os cabelos soltos, tapando a visão do aparelho auditivo em minha orelha esquerda, ao deixar meu apartamento naquela manhã, abri mão da blusa de frio grossa que senti-me tentada a usar. Deixei que meus braços pálidos fossem aquecidos pelo calor do sol forte que brilhava no céu. Tudo pareceu diferente; não habitual. De fato, não era. Caminhei lento por cada esquina, meus passos eram preguiçosos. Observei tudo ao meu redor, cada árvore e carro, cada comércio entre minha casa e o Campos.

Fiquei impressionada com o poder das palavras. Havia me esquecido como algo de caráter tão simples tinha capacidade de dar algum suspiro de esperança a alguém desacreditado como eu.

Por pelo menos dez vezes — contando com os dias do vestibular e matrícula —, fiz o mesmo caminho para faculdade. Em nenhum deles, reparei na árvore grossa de tronco escuro e flores rosadas que enchiam suas folhas e caíam por suas raízes. Sorri ao poder enxergar essa beleza majestosa e tão comum. Em silêncio, pensei que há algum tempo já não admiro os detalhes bons das pessoas e da vida.

Só percebi o quão quente e sufocante estava o dia, quando adentrei a sala climatizada, tendo prazer em sentir o ar fresco e mais gelado resfriar minha pele morna.

Sentei no mesmo lugar que no dia anterior — e provavelmente também o faria no próximo. Aguardava o professor com certa impaciência, mantendo os pés inquietos, batendo a sola contra o chão a fim de acalmar minha mente desassossegada.

Balançava distraidamente uma lapiseira entre os nós largos dos meus dedos finos, sentindo meu coração errar as batidas cada vez que um aluno passava pela porta encostada da sala pouco cheia. Embora eu não quisesse admitir, escondendo a verdade até de mim mesma, negando-me a enxergar com clareza o que já era explícito, no fundo, uma parte minha — a verdadeira, que não mentia para o próprio espírito — sabia quem alimentava minhas espectativas crescentes sobre a próxima pessoa que passaria pela porta.

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