Capítulo 3

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Se eu tivesse realmente alguma coragem, pediria a Sasuke que repetisse sua última frase, mas eu não tinha.

Absorvi suas palavras com cautela, tentando entender ao máximo todo sentido da situação que, para mim, não tinha qualquer coerência.

Virei-me para Ino, buscando alguma segurança ou resposta em seu olhar. Ela conhecia Sasuke. Não sabia das circunstâncias ou o quão intimamente ia esse "conhecer", mas ela conhecia! Muito provavelmente tinha ciência de sua sexualidade e por um momento — mesmo que não devesse — me senti traída por isso.

Apesar do meu claro desespero, tudo que ela fez foi dar de ombros como se nada estivesse ao seu alcance — de fato, não estava. Sua feição era de puro desconforto; vergonha, quem sabe, por ter que presenciar aquele momento de tensão. Sua boca fina encontrava-se crispada e as sobrancelhas expressivas contorciam-se de tal modo que quase pude ler em sua testa: "Eu avisei que deveríamos conversar, babaca."

Ela de fato havia avisado, mas achei que seu interesse em falar a respeito de Sasuke era tão somente curiosidade sobre nós dois. Ah, não poderia... ela na verdade queria que conversássemos sobre ele e toda essa coisa que agora me confundia. Ino me conhecia, sabia da minha covardia, dos meus receios e prisões. Ela quis me ajudar e preparar; quis que eu entendesse as coisas primeiro para depois avançar. Eu neguei achando que seria melhor assim; agora já não achava mais.

Senti o ar pesar e tornar-se tão denso que encontrei dificuldades para mantê-lo em meus pulmões. Nós três estávamos sem graça; minha reação quanto à notícia recebida não impunha qualquer naturalidade, e tanto Ino quanto Sasuke estranharam meu posicionamento.

Eu mesma estranhei.

Ainda que nunca tivesse realmente pensado em como agir diante de uma situação como aquela, não esperava que as palavras ditas por Sasuke me causassem tamanho impacto.

Fui pega desprevenida, e nada consegui dizer senão balbuciar coisa nenhuma ao mesmo tempo em que tentava recuperar alguma racionalidade.

Sasuke me encarava confuso. Ino se remexeu no colchão, levantando-se preguiçosamente como se tivesse receio de fazer movimentos bruscos. Eu quis gritar para que ela me salvasse, para que me deixasse ir com ela para pensar um pouco antes de dizer qualquer coisa. Mas simplesmente não podia, seria cruel demais.

Seu olhar afiado e observador variou entre eu e Sasuke. Ela estendeu o braço esquerdo pouco à frente do corpo, e com a mão direita, ergueu o indicador juntamente com o mindinho, passando-os em seu antebraço de forma vertical.

"Banheiro" era o que significava. E então, o mais rápido que conseguiu, virou as costas e saiu apressada do quarto.

Antes Ino tivesse ficado; nunca fui boa — ou sequer perto disso — em lidar com situações tensas. Nessa em especial, nem mesmo sabia o que pensar a respeito das questões que me rondavam.

Os dedos de pontas ásperas de Sasuke desenharam suavemente a linha do meu queixo, puxando-o em sua direção num pedido mudo para o encarasse. Embora hesitante e temerosa, não encontrei forças para repelir seu toque e deixei-me ser levada por ele, que deslizou o indicador pela linha do meu maxilar, indo sem qualquer temor em direção a minha orelha.

Segurei firmemente seu pulso, impedindo-o de continuar.

— Pode dar microfonia — justifiquei.

Aquela, claro, não era a total verdade. Corria esse risco, obviamente, mas duvidava que ele fosse chegar perto o suficiente para que houvesse alguma interferência. De qualquer forma, ainda sim, preferia que ficasse longe das minhas orelhas. Principalmente daquela.

A voz do nosso amor | SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora