Meu pai, Kizashi, constantemente me lembrava de que a juventude é a melhor época da vida. Eu costumava temer isso quando mais nova, e frequentemente pegava-me pensando: se essa é a melhor fase, não sei se consigo viver a ruim.
Nunca conheci de fato a rebeldia, mas sabia o que era ser problemática. Nada que realmente me desse boas histórias para contar. Agora, olho para trás e percebo que perdi tempo. Perdi um tempo que eu não tinha. Perdi tempo, sufocada em uma parte escura da minha alma, cheia de lamentações e insatisfações.
Durante a infância, esperei ansiosa pelos dramas adolescentes, mas quando essa época chegou, me decepcionei ao perceber que, isolado, ninguém é lembrado. Isolado, ninguém se diverte ou se aventura. Isolado, a gente se deixa consumir pelas coisas ruins que nos rodeiam porque não há qualquer pessoa capaz de impedir nossa ruína.
Eu me isolei. Fui solitária por escolha. Fui esquecida.
Quando enfim percebi que as sequelas da doença que me atingiu eram mais profundas e dolorosas do que imaginei, eu chorei. Chorei de raiva, de pânico, de dificuldade por não conseguir me enxergar levando uma vida sem que pudesse ouvir com clareza.
Até aos quatorze eu era uma pessoa, e depois, quando tudo aconteceu, tive que aprender a ser outra. Ainda estou aprendendo. É difícil se adaptar, se acostumar... se aceitar. É difícil superar, porque a sensação é de que algo fora tirado de mim a força. A sensação foi de que me roubaram.
Algum incômodo ainda morava em mim; eu seguia lembrando-me de que um dia ouvir era natural e fácil. Eu chorava por isso.
Com o tempo, esse amargo que eu sentia na boca foi diminuindo. Às vezes, ainda o sinto, mas está esquecido num lugar que não gosto de tocar.
Encontrava-me agora, deitada em minha cama olhando para o teto com um pequeno pendrive entre os dedos, girando-o e girando-o, tentada a ver seu conteúdo. Sasuke foi quem me deu. Disse, quando me trouxe em casa não muitas horas atrás depois da faculdade, que era um presente. Não me explicou o que eu poderia esperar ao verificar sua memória, e por isso, eu matutava qual seria o significado daquilo, curiosa a respeito do que Sasuke havia guardado ali para que eu pudesse ver.
Pensava, além do pendrive, em como a semana havia sido apressada. Os dias passaram, e eu mal os percebi.
As lembranças da tarde que passei com Sasuke nadando no lago isolado ainda estavam frescas em minha memória. Eu pensava naquele dia nas noites que se sucederam a ele antes de dormir. Pensava em Sasuke. Pensava em nós.
Sasuke era curioso; curioso em sua personalidade, seu jeito, o modo como olhava as pessoas e como agia. Ele me intrigava, isso, porque fazia-me pensar constantemente em quais seriam seus defeitos, suas verdades mais inconfessáveis. Sasuke sorria demais, era manso demais, perdoava rápido demais... à medida que ele pedalava comigo entre suas pernas de volta para o meu apartamento naquele fim de tarde que passamos no lago, não pude impedir meus pensamentos de ecoarem uma impertinente pergunta: Que tipo de coisas ruins Sasuke Uchiha já havia feito?
Ninguém é perfeito. Ninguém. Eu não era, e ele não poderia ser. Eu não aceitava. Não aceitava que pudesse ser tão simpático, tão gentil e bom. Não aceitava que pudesse ser tão bonito, intenso e liberto. Queria que Sasuke fosse tão quebrado quanto eu.
Só que ele não era.
Suspirei profundamente, encarando em seguida o pequeno objeto que descansava em minha palma. Mesmo que minha ansiedade me fizesse querer saber o mais logo possível o que havia ali, também tinha certo receio. Nem sei de quê exatamente, mas tinha.
Olhei mais uma vez para o notebook que descansava sobre a mesa estreita de estudos que havia na outra extremidade do meu quarto. A tentação foi maior, e quando percebi, já o tinha entre as minhas pernas enquanto sentava-me no colchão.
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A voz do nosso amor | SASUSAKU
FanfictionA vida não é mais que uma sequência finita de momentos incontroláveis. Sakura soube disso quando adoeceu. Frustrada, ela ainda luta para superar os obstáculos que lhe foram impostos em decorrência da doença que a limita. Embora anos tenham se passad...