Elizabeth estava diante do trono ouvindo o rei lhe passar o terceiro sermão naquele dia. Emilly e ela haviam se desentendido novamente, apesar de ser algo tão comum e diário, seus pais precisavam sempre chamar a atenção das jovens princesas e reclamar da má conduta que as duas tinham, Elizabeth suspirou fechando os olhos por um breve momento. Os olhos de seu pai a encaravam seriamente, Victor era um homem alto e com porte atlético, aos quarenta e três anos seus cabelos ainda possuíam a mesma tonalidade de preto sem qualquer resquício de fios brancos, seus olhos azuis agora estavam tão gélidos e frios quanto gelo ao encará-la, a jovem sabia o significado daquele olhar, mas ela tentava a todo custo ignorar. Os olhos da princesa desviaram para a rainha que continuava ao lado do trono com uma expressão severa. Angie era uma mulher maravilhosa, doce e gentil, porém quando o assunto se tratava das brigas dos filhos - principalmente envolvendo Elizabeth - ela ficava extremamente furiosa. Às vezes, na maioria das vezes na verdade a princesa podia sentir o quanto seus pais se esforçavam para não serem evasivos para com ela, mas ainda assim não era o suficiente para que ela não se sentisse desconfortável.
Ela concordou com alguma coisa que o pai dizia, a princesa temia nunca alcançar as expectativas deles por ser uma garota, ela sabia o que o reino pensava sobre ter ela no trono, uma mulher nunca havia ascendido ao trono em um milênio que existiam. Fazendo uma pequena reverência, as duas princesas saíram da sala do trono murmurando um pedido de desculpas. Assim que as portas atrás de si se fecharam com um baque surdo, Emilly a encarou com um certo brilho no olhar, seus lábios se curvaram para baixo em um sinal claro de puro desgosto, antes que Elizabeth pudesse falar alguma coisa, a jovem princesa se afastou, deixando um pequeno resmungo para trás.
Observando-a se afastar, Elizabeth não podia deixar de compará-las, como duas criaturas que saíram dos mesmos pais podiam ser tão diferentes uma da outra? A morena sentia uma inveja constante de Emilly, sua irmã possuía um carisma natural, uma maneira única de conquistar e encantar as pessoas, Elizabeth sabia que se os nobres tivessem de escolher entre uma delas, provavelmente ela nem estaria na competição. Emilly era dona também de uma beleza quase fictícia, seus longos cabelos sedosos e ondulados tinham uma tonalidade de castanho entre um mel dourado e um amendoado, seu rosto perfeitamente desenhado parecia mais uma obra feita pelas mãos do próprio Criador, seus olhos achocolatados arrancavam suspiros de alguns nobres que circulavam o reino. Elizabeth gostava de compará-la com uma boneca de porcelana: pequena, delicada e frágil.
Seus irmãos haviam herdado as belas características de sua mãe enquanto ela herdou tudo de seu pai, ou ao menos quase tudo. A garota era alta e possuía longos cabelos negros que estavam sempre soltos e desalinhados - eles pareciam ter vida própria -, até mesmo a personalidade explosiva herdara do pai, o que com o tempo aprendeu a controlar - mais ou menos. Seguindo na direção contrária, ela refletia sobre as palavras de Victor. Um dia você será a rainha deste reino, como irá liderar uma nação sendo tão imatura? A morena sabia que era uma pergunta retórica, mas sua língua parecia ganhar vida própria quando o assunto era a desobediência, a resposta sinceramente não poderia ter vindo em hora pior. Eles tinham razão em muitos aspectos, mas a princesa não achava justo ter que abrir mão de tudo o que amava apenas para satisfazê-los.
Elizabeth parou diante de uma enorme janela, em pouco tempo ela completaria dezenove anos, apenas uma questão de tempo até ela completar seus vinte anos, idade essa ao qual todo príncipe regente deveria casar-se, na maioria das vezes para fortalecer laços entre monarcas. Mas aquilo não estava nos planos daquela princesa, casar-se apenas para satisfazer as vontades de seu pai seria admitir aquilo que os outros não tinham coragem para falar em voz alta: Ela não tinha capacidade para governar.
Descendo as escadas, ela abriu um pequeno sorriso ao cumprimentar dois soldados que guardavam as portas que davam para o jardim. Atravessando as portas de vidro, Elizabeth inspirou profundamente o ar, ficar trancada por mais de uma hora junto a Victor e Angie bravos nunca fora um dos seus passatempos favoritos. A brisa suave da primavera trouxe um doce aroma de flores e grama recém aparada até suas narinas, a jovem retirou os calçados e sentiu a grama entre os dedos, ela caminhava lentamente entre as roseiras tentando afastar a estranha sensação que começava a embrulhar o estômago. Sentando-se à sombra do velho carvalho, ela pôde sentir alguém por trás de si antes de ter seus olhos cobertos.
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Elemetais - O Despertar
FantasiO que você faria se o que mais amasse fosse arrancado dos seus braços? Elizabeth tinha problemas maiores do que bordado e polir sua coroa. Sendo a próxima herdeira do trono de Wasser, ela não tinha a graça e nem mesmo a sutiliza necessário para ganh...