V

128 9 2
                                    

-Quem mais pode ve-lo?

-Geralmente quem tem mais contato com o mundo espiritual, de forma boa ou não.

-E qual seria a forma não boa?

-Uma alma frágil, tomada pelo ódio e tristeza.  Ou permissão.

-Permissão?

-Sim, não posso entrar na casa de ninguém sem permissão.

-Já foi convidado para entrar? Quem faria isso?

-Muitos fazem, indiretamente, sem saber. Preciso de apenas uma pequena brecha de maldade naquela alma.

-Mas...eu não fiz nada nisso.

-Fez, quando não conseguia parar de pensar em mim, tendo medo. O medo é uma das coisas que mais me ajuda, já que deixa o cérebro humano vulnerável e confuso.

-E por que segue essas pessoas? Para puni-las?

-Não sou um demônio, sou apenas uma alma perdida vagando.

-Não acredito. Almas boas não teriam motivo para se alimentar da vulnerabilidade humana.

-Até que você não é tão ingênua. Nem todas as almas aceitam seu destino, algumas sentem raiva por terem morrido antes do planejado ou não conseguem desapegar de sua vida. Essas acabam sendo dominadas pelo ódio e tristeza e fazem de tudo para entrar em contato com os ainda vivos, de preferência os mais fragilizados.

-Se você é um deles e sabe que deve aceitar seu destino, por que não tenta mudar?

-Não é tão fácil quanto pensa. É difícil abrir mão do contato humano, principalmente quando podemos ter influência sobre ele.

-Podem controlar nossas mentes?

-Não, apenas intensificamos pensamentos contraditório ou negativos.

-Por que?!

-Só queremos ser notados.

-Agora que já foi, saia daqui! Não quero que estrague minha cabeça apenas por carência!

-Não posso, não ha nada em você que me dê tal oportunidade.

-Então é por isso que...

-A obsessão pela perfeição? Não, sua mãe pensa mais em si mesma que em você.

-Não é verdade.

-Quer saber o motivo de todo aquele escândalo quando mencionou um homem? Medo. Medo de você se apaixonar, ter a chance de se livrar desse ambiente controlador e deixar de ser a boneca manipulável dela.

-Isso não é verdade! Cale a boca!

-Não tente ignorar a realidade, pois você viu todas aquelas mulheres na cidade e sei que se pergunta o porquê de não ser como elas.

-Eu amo quem sou!

-Sabe que não estou falando de sua aparência. Mas de que adianta uma joia tão bela presa onde ninguém é capaz de aprecia-la?

-Ainda não estou pronta.

-Eu disse algo parecido antes de morrer.

Cora colocou as mãos tapando as orelhas e fechou os olhos. Qualquer coisa que ela fizesse tentando silenciar aquela voz teimosa seria inútil, então optou por tentar algo em si mesma. Respirou fundo e deitou na cama

-Como era sua vida? Antes de...

-Eu era feliz, tinha tudo que queria.

-E sua família? Por que não tentou entrar em contato?

-Porque morri tentando salvar minha mãe do meu pai, e ela preferiu abraçá-lo ao estancar o sangue que jorrava do meu pescoço.

-Eu sinto muito...

-Sou eu quem sente. A dor é permanente mesmo eu não tendo mais um  corpo físico. O desgraçado não suportava o fato de eu ter uma vida melhor que a dele.

-Sabe o que aconteceu com ele?

-Não pretendo olha-lo outra vez tão cedo.

-E as outras pessoas da sua vida? Não tinha amigos ou outras relações?

-Por que parece tão surpresa? Não tem ninguém além dos seus pais.

-Porque você não cresceu sem nem sair de casa.

-Eu era sociável, principalmente entre as mulheres.

-Então era um pervertido?

-Era era bonito, só isso.

-E já que pode usar qualquer forma, por que não seu rosto?

-Nós nunca ficamos completamente humanos, algo anormal sempre será revelado.

-O que? Por exemplo.

-Quer tanto assim poder me ver? Não tem medo de eu ser um monstro horrível?

-Quero saber como era.

-Já que insiste..

Me and The Devil Onde histórias criam vida. Descubra agora