Capítulo 9 - E fora está o segredo.

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O resto da viagem foi surpreendentemente normal e rápida—pelo menos para você—talvez até mais rápida do que deveria

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O resto da viagem foi surpreendentemente normal e rápida—pelo menos para você—talvez até mais rápida do que deveria. Você não sabia se o carro estava indo acima do limite de velocidade imposto pelas placas na estrada ou se seu cérebro havia simplesmente desativado sua habilidade de reconhecer a passagem de tempo ao entrar e sair de sua consciência.

Dormindo e acordando... Dormindo e acordando... Dormindo e acordando... Dormindo e...

Você foi o caminho inteiro no banco de trás, com sua cabeça deitada no colo de Tiago e seu braço cuidadosamente alinhado sobre seu peito, o braço do homem atrás de você providenciando apoio ao manter seu braço no lugar, tomando cuidado para que ele não acabasse acidentalmente se movendo durante a viagem e te machucando mais.

Tudo isso foi feito conforme as ordens da mulher que dirigia o carro, que logo se identificou como Elizabeth. A mulher de cabelo preto parecia quase preocupada com você, se sua expressão ou tom de voz dissessem algo.

Mas novamente, em um momento você estava acordada e atenta, e no próximo, não.

Quando você apagou pela última vez, o carro já estava em silêncio, diferente das outras vezes nas quais você era capaz de escutar em parte o trio discutindo algo relacionado a escola e ao crime enquanto sua consciência lentamente escapava de seu corpo.

Você podia quase jurar que os escutou falando algo sobre fazer uma visita a um professor quando saíssem do hospital.


E você também tinha quase certeza que reconhecia o nome do professor.


Quando você recuperou sua consciência novamente, estava já na cama de hospital, uma enfermeira ao seu lado, checando seus sinais vitais.

Era uma mulher baixa de cabelo longo e loiro, olhos escuros e pele clara levemente manchada por sardas.

"Acordada?" A mulher sorriu para você de maneira amigável, claramente, ela tinha prática nisso. "Como você se sente? Dor de cabeça? Alguma dor no braço?"

Você foi balançar a cabeça, algo que se provou um erro, quando você sentiu uma dor fina na cabeça, parando e fechando os olhos com força, sua mão esquerda indo segurar a cabeça, já que a direita estava um pouco dormente e ainda dolorida.

Parece que você estava certa sobre aquela enxaqueca afinal.

A enfermeira logo percebeu isso, escrevendo algo em sua prancheta.

"Parece que a cabeça realmente dói." Ela comentou com um pequeno sorriso, dessa vez com um pouco mais de pena presente em seus olhos.

Você lentamente concordou com a cabeça, seus olhos se abrindo novamente.

"Tente não fazer movimentos bruscos." A mulher de cabelo loiro acrescentou, lhe aconselhando.

Seu braço estava enfaixado, não demorou muito para você notar isso. Pelo menos não estava engessado.

Você suspirou, e se sentou na cama de hospital com cuidado, se apoiando em seu esquerdo, já que seu direito se via incapacitado. Fazendo com que você fizesse seu máximo para evitar todo e qualquer movimento brusco.

"E o braço?"

Alguns movimentos cuidadosos com seus dedos doloridos provaram que a dor excruciante havia desaparecido, e o sangue já estava lentamente voltando a circular. Mas uma tentativa de mover seu ombro provou que ela não havia ainda completamente ido embora.

"Ainda dói um pouco." Você respondeu em uma voz rouca, sua garganta seca pelo tempo sem falar e nem beber água, sem contar com o gosto de sangue velho de quando você mordeu sua língua.

"Certo, vou te dar um analgésico." A enfermeira saiu por um segundo da sala, provavelmente indo buscar o tal remédio. Isso te rendeu algum tempo sozinha com seus pensamentos, que no momento se encontravam muito bagunçados.

Uma olhada para fora da janela te deu uma ideia do tempo... Algo entre as 11 horas da manhã e 4 horas da tarde.

Você demorou a aprender a hora no relógio de ponteiro, que dirá saber a hora só pela cor do céu.

Pelo menos, não sendo de noite, seus pais ainda não haviam chegado em casa, então estava tudo bem, você até suspirou de alívio.

"Felizmente você estava adormecida durante o procedimento, e pelo que parece não era um caso muito sério, por isso não demorará muito para você voltar a usar seu braço novamente, não se preocupe." A enfermeira voltou, quase te assustando ao aparecer tão do nada.

A enfermeira notou seu humor, dando para você um copo descartável com água gelada e um comprimido, que você logo engoliu, bebendo a água com fervor, com sede.

Você precisava de, no mínimo, um galão de água para matar sua sede, não um copinho descartável daqueles.

"Está tudo bem?" A mulher perguntou com um tom de preocupação, o sorriso desapareceu, e no lugar dele, suas sobrancelhas estavam franzidas.

"Sim, sim. Só quero ir para casa logo." Você suspirou novamente, impaciente.

A mulher pegou o copo de sua mão, o jogando no lixo.

"Tem mais água?"

"Sim, no final do corredor tem um bebedouro. Você recebeu alta, então já pode ir." Ela voltou a sair da sala, sem mais perguntas.

Você não conseguiu dizer nada em reposta.

Ela nem sequer perguntou seu nome.

Lentamente, você se levantou e foi direto para a porta, notando seus documentos em cima da mesinha ao lado da cama, junto com seu celular e carteira.

Pouco tempo depois, você saiu da sala, finalmente.

Seus olhos já procuraram o bebedouro no corredor, mas em vez disso, encontrou olhos familiares.

Você definitivamente não esperava isso, mas sentados nas cadeiras logo ao lado da porta da sala que você estava, seus pais te esperavam. Expressões de irritação presentes em seus rostos e... Seria aquilo preocupação?

Não foi necessário pensar por muito tempo, pois logo seus pais pularam de suas cadeiras e correram em sua direção, te abraçando com força, sua mãe alertando seu pai em voz baixa para ter cuidado com seu braço enfaixado.

Você esperava reclamações, e elas vieram, mas oque verdadeiramente te surpreendeu foi a demonstração de amor por meio de sua mais sincera preocupação.

E, honestamente, você chorou um pouco sim.

Pelo menos não chorou sozinha.

Algum tempo depois você finalmente estava a caminho de casa, agora com seus pais dentro do carro, silenciosos, algo que você não sabia bem se devia reconhecer como medo de te perder ou raiva pelo que você fez.

Você se perguntava se eles sequer sabiam oque você havia feito.

A única certeza que você tinha, independentemente do sentimento predominante neles, era a de que você sem dúvidas ficaria de castigo por um bom tempo.

E agora com o braço deslocado, você tinha a sensação de que um mês de castigo não seria nada demais. Não era como se você tivesse muito a fazer, sem seu braço dominante.

"...𝚅𝚎𝚛𝚖𝚎𝚕𝚑𝚘 𝚏𝚒𝚌𝚊 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚕𝚒𝚗𝚍𝚘 𝚎𝚖 𝚟𝚘𝚌ê..."Onde histórias criam vida. Descubra agora