Beyond the Blood - Conspiração - Livro 1

5. Menos um Mistério

Os dias que se seguiram fluíram em um ritmo quase regular, mas estranhamente reconfortante. Antes que eu percebesse, já havia se passado um mês desde que entrei na Academia. A rotina das aulas continuava a mesma, mas agora incluía práticas e treinos físicos que traziam um novo ânimo ao meu dia a dia. Essas atividades permaneciam tão intensas quanto no primeiro dia, mas não posso dizer que eram realmente difíceis, não quando eu continuava sendo o primeiro a concluir todas as tarefas, e ainda ficar com energia para mais. A maioria das aulas ainda eram teóricas, mas que, por mais longas e desinteressantes que fossem, passavam rapidamente, especialmente agora que havia uma quantidade significativa de aulas práticas entre elas, nas quais éramos solicitados a participar ativamente.

No geral, eu estava achando aquilo tudo muito incrível. Eu me esforçava ao máximo em cada treino, tentando superar meus limites e surpreender a mim mesmo com o que eu era capaz de fazer. O que pra mim já compensava o fato de eu ainda ser péssimo em todo o resto. E eu não estou falando apenas das aulas teóricas da Academia ou mesmo das aulas regulares da escola. Até porque, creio eu, já ficou mais do que óbvio que eu não sou bom em nada que envolva eu ter de ficar sentado no mesmo lugar ouvindo os professores tagarelarem.

Eu sempre fui uma pessoa muito prática, que prefere colocar a mão na massa em vez de apenas teorizar. Desde criança, eu era atraído por atividades que me fizessem sentir o coração acelerar no meu peito e a adrenalina a fluir pelas minhas veias!

Era mesmo uma pena que só meu entusiasmo e disposição não eram suficientes para garantir um bom desempenho em nada, exceto, talvez, na Educação Física, onde eu me destacava sempre que tinha a oportunidade.

Eu ainda continuava sendo um desastre em invocação, encantamentos, autodefesa... tudo! Nem ao menos minhas habilidades com manuseio de armas era digna de elogios.

Por mais que eu me esforçasse, ainda não conseguia dominar completamente a lança. No entanto, as aulas de "Armamentos e Artefatos" iam muito além da mera prática com armas. Havia também uma série de aulas teóricas que exploravam detalhadamente as propriedades e características de cada uma dessas armas e artefatos.

E foi em uma dessas aulas que as coisas tomaram um rumo inesperado...

Eu estava na sala de aula, tentando prestar tanta atenção, quanto conseguia. Eu estava cheio até o pescoço de ter que ouvir aquela professora explicar sobre todos os amuletos místicos que os caçadores usam. Ela estava fazendo aquele mesmo discurso exagerado de sempre, como se o destino de todo o universo dependesse de a gente saber a diferença entre um amuleto de pedra azul e outro de pedra amarela.

Nesse ponto, eu já tinha perdido completamente a linha, e minha mente começou a passear pra longe enquanto a professora mostrava um monte de amuletos para a turma, passando-os de mão em mão para que os alunos pudessem ver mais de perto. Eu apenas olhava de relance para os objetos antes de passá-los adiante, girando eles entre os dedos, vendo o brilho das pedras preciosas envoltas por uma moldura de metal. Nada muito interessante pra falar a verdade.

Foi quando um desses itens, em especifico, passou pela minha mão. Senti um calor suave envolver minha palma e um leve tremor percorreu meu corpo inteiro. Um arrepio frio desceu devagar pela minha espinha, me fazendo estremecer. De repente, um flash de memória passageiro e vago passou pela minha cabeça. Ergui meus olhos arregalados para o amuleto de pedra vermelha que segurava. No centro dele havia um estranho símbolo gravado, uma inscrição pequena e delicada que mal podia ser vista. A sensação de déjà-vu, de já ter visto, de ter vivenciado aquilo tudo antes, era forte de mais pra poder ignorar.