3. O Arsenal

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Bom, a partir do dia seguinte, eu podia dizer sem temer estar exagerando que Noelle e eu nos tornamos próximos. Ela se sentou ao meu lado na Academia, e começou a falar mais comigo durante as aulas. Ela até me convidou para ir a casa dela mais tarde.

Naquele dia as aulas passaram num piscar de olhos. Eu passei a maior parte do tempo conversando com Noelle, querendo conhecer um pouco mais daquela menina gentil e cativante que havia se aproximado de mim tão naturalmente, como se fossemos velhos amigos.

Ela não falava muito, parecia mais focada em tudo do que qualquer um de nós ali. Ela tomava notas de tudo o que o professor dizia, e prestava atenção nas demais aulas. Era impressionante a capacidade dela de absorver tanta informação em tão curto espaço de tempo. Eu confesso que fiquei até meio admirado.

No entanto, também notei que, apesar de estarmos nos enturmando até que muito bem, Noelle tinha um olhar distante de tempos em tempos, o que me deixava curioso sobre o que se passava em sua mente.

Eu me perguntei se algo estava incomodando Noelle, ou se estava apenas concentrada demais em acompanhar as aulas. Decidi então perguntar a ela sobre isso depois que as aulas terminaram.

- Ei, Noelle, tá tudo bem? - eu perguntei a ela, enquanto caminhávamos juntos para fora da sala.

Ela olhou para mim, parecendo um pouco surpresa com a pergunta, mas logo sorriu gentilmente.

- Ah, sim, estou bem. Só estou um pouco cansada. - ela respondeu rapidamente.

Eu franzi a testa, percebendo que ela estava sendo totalmente sincera comigo.

- É que... você pereceu meio distraída quando estávamos conversando.

- Ah, não, não precisa se preocupar. Eu só não sou muito de interagir com as pessoas, sabe? - ela explicou, dando de ombros.- Eu posso demorar um pouco para me abrir aos outros. Mas eu estou bem, de verdade!

- Você me pareceu bem disposta para falar comigo, quando nos conhecemos - comentei, querendo entender melhor a situação.

Noelle deu uma risadinha e balançou a cabeça.

- Ah, sei lá... eu senti algo diferente quando te conheci. Você parecia um cara legal, sei lá. - ela admitiu, parecendo um pouco sem graça.

Eu dei um sorriso, achando fofo a forma que ela parecia desconcertada, e me sentindo lisonjeado com o elogio.

- Bem, fico feliz de ter causado uma boa primeira impressão. - sorri, meio sem jeito.

Noelle sorriu de volta e nós até rimos um pouco, antes de um certo alguém esbarrar em mim com tanta força que quase me jogou contra a parede. Mas que eu também não duvido nada ele tenha simplesmente me empurrado de propósito.

- Olha por onde anda, idiota! - Alejandro resmungou, enquanto se afastava com seus amigos, sem nem se dignar a olhar pra trás.

A raiva e a frustração que sempre acompanhavam nossos encontros vieram à tona. Em outra época eu teria respondido na mesma moeda, mas agora eu apenas respirei fundo e me virei para Noelle, que me encarava com uma expressão preocupada, e eu tentei disfarçar o desconforto.

- Não se preocupe - respondi, forçando um sorriso. - Eu já me acostumei com o jeito dele.

Mas, apesar do que eu dissera, a verdade era que, apesar de todo o tempo que havia passado, eu ainda não me acostumara.

- Mas me conta aí, como você é tão boa nisso? - perguntei rapidamente, tentando mudar o rumo da conversa.

Ela olhou para a mim com os olhos semicerrados, como se tentando adivinhar o que eu queria saber.

Beyond the Blood - Conspiração - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora