Capítulo 1

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Um ano depois...

Era só o que me faltava.

Como se não bastasse meu irmãozinho de dezessete anos, aparecer em casa hoje no almoço anunciando que está namorando uma colega da sua sala, eu ainda recebo um e-mail da empresa onde fazia meu estágio informando que eles não têm vagas suficientes para me contratar para um cargo administrativo.

Em outras palavras...

Estou oficialmente desempregada.

Sabia que aquelas duas semanas de descanso que me deram eram suspeitas demais.

O que eu faço agora?

Estava torcendo para conseguir uma vaga fixa nessa empresa, apesar de não ser meu emprego dos sonhos, eu gostava do que fazia.

Pai amado.

Parece que terei que fazer mais alguns cursos enquanto busco por um novo emprego.

— Está tudo bem irmã? – Escuto a voz de Matias do outro lado da porta.

— No momento não – Me jogo na cama – pode entrar – o convido e ele entra.

Apesar de ser meu irmão mais novo, Matias sempre foi muito educado e um bom ouvinte. E de certa forma, um tanto intrometido, mas não posso culpa-lo.

É genético.

— Papai me contou que você foi... – Pensa em uma forma agradável de dizer – afastada de suas funções – reviro os olhos e ele ri – sinto muito – comenta se sentando na beirada da minha cama.

— E como o papai sabe disso? – Pergunto curiosa e ele balança os ombros.

— Mamãe contou para ele – Se joga ao meu lado da cama.

Folgado.

Me nego a perguntar como minha mãe descobriu. Talvez isso seja coisa de mãe.

Nós dois ficamos em silêncio olhando para o ventilador de teto desligado. É reconfortante, saber que posso ficar em silêncio ao lado de alguém que jamais me machucaria.

E embora eu ame muito meu irmãozinho, sei que ele não veio até aqui sem nenhum motivo.

Com um leve impulso apoio meu cotovelo direito na cama e meu rosto em minha mão, começo a encara-lo e o bonitinho começa a rir.

Suspeito.

Suspeito demais.

— Então... – Começa e imita o meu movimento de modo inverso para poder me encarar – fiz uma coisa que pode te deixar feliz e com raiva – arqueio as sobrancelhas e aguardo em silêncio – mandei o seu currículo para a empresa onde um amigo meu trabalha.

Sinto uma certa familiaridade em relação a este método de roubo de currículo, mas evito me comprometer e permaneço em silencio.

— Ele encaminhou seu currículo para o RH da empresa e... – Faz suspense e tento conter minha vontade de sufoca-lo com o travesseiro – eles querem te entrevistar – sorri se sentando e balançando as mãos – de nada – pisca e me levanto sem entender o que estou sentindo.

— Porque fez isso? – É a única coisa que consigo perguntar em meio quantidade infinita de pensamentos que passam por minha mente.

— Porque te amo e porque não aguento mais ver você definhar naquele sofá – Dá de ombros – e é claro que eu recebi uma ajudinha – pisca e já consigo imaginar quem o ajudou.

— O Mathew não tinha mais o que fazer não? – Matias começa a rir de forma suspeita – não vai me dizer que mandou o meu currículo para a empresa dele? – arregalo meus olhos quando o vejo sorrir – seu atrevido jogo um travesseiro em seu rosto.

— Está sendo dramática, você nem vai trabalhar no mesmo setor que ele – Revira os olhos com o travesseiro na mão – deveria ir fazer a entrevista e descobrir por conta própria – se levanta da cama.

Isso tudo é muito estranho.

Não estou brava nem feliz, apenas, confusa.

Muito confusa.

O devo fazer?

— A propósito – Volta a falar quando alcança a porta – a Bruna ligou – olho para ele confusa – parece que Amanda e Mathew foram buscar Isaac no aeroporto.

Fecha a porta e sinto meu coração saltar.

Ele voltou?

Minha ansiedade começa a aparecer e as certezas que antes não tinha começam a vir à tona.

Preciso falar com ele.

Mas antes, preciso ligar para o meu terapeuta. Se ele pensou que se livrou de mim, está muito enganado.


>> Continua <<

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