Capítulo 2

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— Ora, ora, ora – Sorrio assim que nos aproximamos – vejam só se não é o meu irmão postiço que não vive sem mim e a minha cunhada postiça, que se parece minha irmã gêmea – Amanda ri e Mathew revira os olhos – juro que ficou menos estranho quando eu pensei – abraço Mathew e logo depois Amanda.

— Serio mesmo que você pensou nisso? – Amanda me pergunta rindo e dou de ombros – seja bem-vindo de volta – tenta pegar minha mala para me ajudar, mas Mathew é mais rápido.

— Que fofos, adoram jogar na minha cara essa felicidade toda – Forço um sorriso e Mathew revira os olhos novamente segurando a mão da esposa – trocaram as personalidades e não me avisaram? – escuto Amanda rir e começo a caminhar atrás deles.

Esse amor familiar me comove.

— Estou te achando carente demais – Fala pela primeira vez jogando sal na minha ferida.

— Eu sempre fui carente – Vejo Amanda cutucar Mathew e acabo rindo – nunca neguei isso.

— Pois trate de se recompor, tem uma pilha de documentos te esperando no escritório – Não perde a oportunidade para implicar comigo.

— Vê isso cunhada irmã postiça gêmea – Deixo claro a indignação com meu tom de voz – eles acham que eu estava de férias. FÉRIAS – arrasto a palavra – nunca tive isso, até me esqueci do real significado desse substantivo, no mínimo me davam uma semana de folga, ou menos – suspiro sentindo o sol me aquecer– isso que dá trabalhar para a empresa da família, me colocam como responsável por um setor importante, aumentam meu trabalho, diminuem meu descanço, me inscrevem em um curso profissionalizante na SUÉCIA! – exclamo revirando os olhos – tantos países para escolher e me mandam logo para um dos mais frios da Europa?

Finalmente chegamos no carro e Mathew me olha achando graça da minha dor.

Primo ingrato.

Eu te ajudei a conquistar sua mulher.

— Só porque vocês dois amam tanto o frio que decidiram passa a lua de mel no Alasca, isso não significa que o resto da família gosta também – Finalizo meu longo e doloroso dialogo.

Respiro fundo e relaxo meus ombros.

— Melhor? – Mathew me pergunta enquanto Amanda se esforça inutilmente para não rir.

— Ainda não – entro no carro – ficarei melhor quando estiver de oficialmente férias – Mathew liga o carro – um mês inteiro para começar – coloco o cinto.

Conversamos calmamente sobre assuntos aleatórios, e começo a relaxar.

É difícil me sentir à vontade conversando com pessoas desconhecidas, mesmo sendo o mais sociável da família, há certas coisas que não devem ser compartilhadas com outros, mesmo sendo meus amigos.

Minha família é a única com quem eu realmente posso ser eu mesmo, a única com quem não preciso ser cauteloso com meu deboche e minha língua afiada.

Meu pai riria, assim como minha tia e meu tio. Minha mãe suspiraria e logo em seguida me daria um tapa no braço, mas me abraçaria e diria que me ama mesmo eu sendo atrevido. Matt me ignoraria como sempre e meus priminhos menores revirariam os olhos.

Quando pensava que já tinha uma família perfeita, Amanda chega para trazer mais alegria ao meu drama natural. E como se não bastasse ser uma irmã prima gêmea cunhada postiça perfeita, ela ainda me traz a mulher mais complicada, petulante e cheia de personalidade que já conheci na minha vida.

Tirando minha mãe é claro.

Manu, minha doce e irritante Manuela.

Se existe alguém que pode me irritar e ao mesmo tempo melhorar o meu humor, é ela.

Difícil... ela é muito difícil, mas no fundo sei que só pode ser ela.

— Terra chamando Newton – Escuto Amanda e desperto.

— Usar meu nome do meio é golpe baixo, mas já esperava isso de você – Matt ri, mas para ao receber um olhar torto da esposa.

Bem feito.

— Estávamos falando de amanhã – Continua e fico ainda mais confuso – é aniversário da minha sogra, e vamos todos fazer uma festa surpresa – começo a rir já prevendo um desastre.

Não há nada que tia Fátima não saiba.

— Eu sei que é impossível, mas tomamos precauções – Dá de ombros – meu sogro também não sabe – olho para Matt pelo retrovisor do carro – e Andrew prometeu não contar nada – finaliza percebendo meu olhar.

— Mesmo que aquele fofoqueiro consiga guardar um segredo, acho impossível tia Fátima não desconfiar – cruzo os braços – ela tem superpoderes – sussurro alto e Amanda ri.

— Quer parar de ser um estraga prazeres – Mathew reclama e eu começo a rir.

— Eu? – Pergunto incrédulo – a mãe é sua, não me envolva nisso não.

— Não importa se ela já sabe, quero vocês lá as 19h00, sem atrasos – Determina firme e eu me seguro para não continuar essa discussão.

Esse povo não sabe a alegria de uma discussão sem fim.

— Espere – Volto a falar assim a ficha começa a cair – vocês quem? – pergunto apenas para ter certeza.

Meus pais estão em Santa Catarina visitando minha avó.

Estou completamente sozinho.

Começo a sentir o cheiro de outro plano mirabolante de Amanda, e começo a entender tudo assim que a vejo rir.

— Não sei se você me ama ou se me odeia – Reclamo feliz recebendo um olhar torto de Mathew – deixa de ser chato – mostro a língua.

— Infantil – Sussurra estacionando na frente do meu prédio.

— Se você não quiser ir, é um direito seu – Amanda começa com a voz pesada e eu sei onde quer chegar – só queria saber se suas intenções são verdadeiras. Ela é minha melhor amiga e você também se tornou um amigo importante para mim.

— Acho que você pode fazer melhor do que isso – Brinco tentando melhorar o clima.

Ela ri e me sinto melhor.

Não gosto de ver ninguém triste.

Não sei ficar triste.

Ficar triste é triste demais.

Por isso raramente me importo quando dizem que tenho um parafuso a menos.

— Eu sei o que aconteceu – Amanda se assusta – consigo ver pelas entrelinhas, não sou tão estúpido assim – me encosto no banco novamente – eu gosto dela – sou direto, acho que é a primeira vez que digo isso em voz alta – e sei que ela gosta de mim – não consigo evitar um sorriso – apenas estou esperando o momento certo, quando ele chegar garanto que ninguém será mais feliz do que eu – Amanda ri entre as lágrimas e Matt suspira.

— Não deveria ser o contrário seu idiota – Revira os olhos enquanto Amanda tenta controlar o riso.

— Se eu for feliz ela vai ser feliz, simples assim – Tiro o cinto e abro a porta do carro – vocês deveriam voltar para o Alasca, esses seus corações de gelo não combinam com o clima quente do meu coração.

— Era por isso que eu não queria me meter nesse assunto – Escuto Mathew reclamar quando caminho em direção ao meu apartamento.

Sei que sou esquisito, mas existe alguém normal nesse mundo?


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⏰ Última atualização: Apr 27 ⏰

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