Capítulo 1 ( Parte III)

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Um farfalhar furtivo, como o sussurro, ecoou na porta de entrada do quarto , e nossos olhares se voltaram simultaneamente para a figura que se aproximava.  


Era Annabel, que em suas mãos carregava um frasco de vidro translucido que continha uma essência que, ao ser libertada no ar, inundou o quarto com um perfume inebriante, como uma melodia composta por mil flores em botão. Em seu dedo indicador, reluzia um anel de lavoriosa fatura, cravejado com a pedra mais preciosa do reino, um símbolo de riqueza e poder que ostentava com serena altivez:


-Nunca me senti tão plena em meu papel de moeda de troca - Proclamou ela com um sorriso enigmático, depositando o frasco sobre uma mesa laqueada ao lado de seu leito.


Carlotta, impelida por uma irresistível curiosidade, inclinou-se para frente, e noto seus dedos delicados roçando os de Annabel:


-Esse anel é de uma beleza ímpar. - admirou ela


-Mas qual o significado da insígnia gravada em sua superfície? - Ela pergunta


-Bruxaria. - Ela diz


-Em geral, as mulheres que praticam essa arte ancestral carregam marcas de ferro em suas costas, mas, como prometida do príncipe , ostento um símbolo de poder que nem eu mesma compreendo em sua totalidade cravado em pedra nesse anel. - Annabel diz com  um tom velado


-E essas essências? - Indaguei, movida por uma fascinação crescente.


-São extratos de lavanda. - Annabel explicou com um sorriso suave


-Ervas que garantem um sono reparador e restaurador. Falando em sono. - ela prosseguiu, dirigindo-se a ambas com um olhar inquisitivo


-Como passaram a noite?


Meu olhar percorria os detalhes opulentos do quarto. As paredes, adornadas com tapeçarias  pareciam sussurrar segredos antigos. Um lustre de cristal cintilava como um céu estrelado, lançando reflexos iridescentes sobre os móveis de madeira maciça entalhados com maestria. No ar, pairava a fragrância inebriante da essência de lavanda, convidando-me a um mundo de sonhos .

Enquanto meus pensamentos se perdiam , a voz firme de Annabel ecoou pelo aposento, cortando o devaneio como um raio em meio à noite:


-Notei no olhar da Leonor certa intimidade com o Príncipe Henrik.Parecia que já se conheciam.


Engoli em seco, meus nervos em frangalhos sob o escrutínio de Annabel:


-Cruzei com ele no banho. - confessei, com minha voz trêmula


-Um encontro inoportuno, pois o Príncipe interrompeu meu momento de reclusão para buscar essências. -Digo


-Ele a viu despida? - Carlotta indagou, sua voz carregada de surpresa e um toque de malícia.


-Sim. - Admiti, afundando-me o máximo que pude.


-Um homem deveras inconveniente. - Annabel resmunga, balançando a cabeça em desaprovação.


-E você, Leonor, o que achou do Príncipe? - Carlotta pergunta com um sorriso tímido


-Pude observar seu torso nu e seus músculos fortes, resultado de seus frequentes treinos. - Respondi


-Melhor que o jardineiro, não é? - Annabel pergunta de forma provocante


A pergunta pairou no ar como um fantasma, carregada de segredos e desejos inconfessáveis.


Meus lábios se abriram para responder, mas as palavras se recusaram a sair. As lembranças de Yasser, com seu peito nu e braços fortes me abraçando sob a luz da lua, inundaram minha mente como uma torrente incontrolável, o jardineiro de olhos castanhos e sorriso arrebatador que me roubava o sono em noites escuras e proibidas nos jardins da minha antiga casa.

Dança Com o DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora