Capítulo 1.

12 2 1
                                    


-"O cupido dessa menina deve ter deixado
as flechas caírem no chão,
não é possível"


*________________________*

É engraçado a forma que adultos criam uma obsessão em falar de seus filhos, e sentem um prazer absurdo em se juntar, tomar um café sentados na cozinha e discutir oque devemos ou não fazer com as nossas próprias vidas.

Hoje como de costume, Antônia, uma antiga "amiga" da minha mãe, ponho entre aspas porque é nítida a falsidade vinda de ambas as partes, veio mais uma vez comentar o quão feliz está pelo casamento da sua filha. Na minha opinião, alguém precisa alertar-la de que esse casamento as presas não está normal, e a julgar pela idade que a menina tem isso aí tem um belo motivo para acontecer.
Mas se comentamos sobre isso ela diz que eles preferiram casar cedo por serem jovens da igreja. 
Se quer saber minha opinião, o nome dessa "pressa"toda nós iremos descobrir daqui nove meses, se é que me entendem.

Se dependesse de mim eu jamais desceria lá em baixo, mas a vontade de tomar um café falou mais alto e eu preciso ir pegar uma xícara, de preferência uma de tamanho família, para mim.
Respirei fundo e abri a porta que divide a cozinha do resto da casa, e entrei na toca do leão, o leão no caso é a amiga da minha mãe, na verdade acho que o nome ideal seria cobra...porque aquela língua solta mais veneno que tudo.

-Lucia! Você nem comentou o quão grande sua filha está, meu Deus. Quantos anos ela tem mesmo? - Não serve nem pra esconder a falsidade!
Como se ela não perguntasse isso toda vez que vem aqui em casa, oque acontece mais vezes do que deveria.

-Ah sim, está grande mesmo, ela está com 1... - Não deixo que minha mãe termine a frase, pois minha raiva falou mais alto por uma questão de tempo, bom, acho que eu estou de TPM.

- 17! Eu estou com 17 dona Antônia, a minha idade continua a mesma desde o dia que a senhora perguntou da última vez, que foi a oque?... Umas 4 semanas atrás?

O suspiro auditivo da minha mãe foi acompanhado por um gole de café, e talvez um olhar nervoso por cima da xícara. Tudo isso valeu a pena só de ver a cara de "ops, estou sem graça" que a aquela mulher tinha agora.
Me virei para a bancada e servi café para mim e falei, ainda de costas, com mamãe.
-Vou subir para continuar estudando, e acho que hoje vai ter uma confraternização na escola, algo em relação ao terceiro ano, posso ir?
-Claro, pode sim.

Desde que eu completei meus 15 anos sem encontrar a "alma predestinada", mamãe nunca me negou ia a lugar nenhum, acho que ainda faz parte do processo de acreditar que a minha hora ainda vai chegar, mesmo que seja mais tarde que o normal.
Qual a dificuldade de aceitar que a vida me escolheu para ser solteirona e cuidar de três gatos?
Ok, talvez não três gatos, já que eu tenho alergia, mas vocês entenderam.

Sem falar mais nada, me virei dando a volta na mesa onde elas tomavam café e, um pouco antes que eu saísse, elas deram início a outra conversa. Mas dessa vez com minha vida em grande cena!
Passei pela porta e esperei que ela parasse de balançar para frente e para trás, se estabilizando no lugar, e fiquei parada atrás para poder ouvir a conversa.
Eu não faço isso com frequência, mas parece que ouvir as pessoas falarem coisas sobre você que, consequentemente, no futuro virão a te fazer mal se torna um hobby difícil de largar.

Antônia deu início a conversa, oque já era de se esperar.
-Não fica preocupada?
-Com o quê, exatamente? - mamãe a questionou.
E eu posso não está vendo sua expressão mas já sei que tem uma sobrancelha levemente levantada, não muito por causa do botox.

-Ah Lucia, não se faça de desentendida! 17 anos! 17 anos e nada? Você sabe muito bem que isso não é normal! O cupido dessa menina deve ter deixado as flechas caírem no chão, não é possível!
-Por favor Antônia, ainda acredita nessa conversa de cupido? - uma risada ecoou - e não, eu não me preocupo com o fato de Elisa não ter um namorado, ou um noivo ou um marido!

INEVITÁVEL Onde histórias criam vida. Descubra agora