Michael não conseguia desviar os olhos do homem adormecido ao seu lado. Luke era dono de uma beleza inigualável, e isso era um fato. Mesmo que naquele instante ele quisesse fazer Luke sentir dor, não conseguia parar de achá-lo lindo.
Queria que o cacheado sentisse a mesma dor que ele estava sentindo, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Odiava se sentir tão submisso quando o assunto era Luke. Simplesmente não tinha como medir forças contra ele.
Três cidades diferentes em duas semanas, cada vez mais longe de casa e sabia exatamente o motivo: estava sendo procurado. Isso explicava o por que de viagens de última hora.
Casa.
Muito por acaso Michael havia descoberto que sua mãe tinha espalhado cartazes com seu rosto por todas as ruas da cidade, coincidentemente ( ou não) com o dia de sua partida. Isso explicava o fato de não terem usado o aeroporto de imediato e partirem de carro até a cidade vizinha onde viajaram de avião.
Mas tinha uma coisa que Michael ainda não tinha conseguido encaixar no roteiro que havia montado em sua cabeça; Luke não era do tipo que aparentava temer alguma coisa, então, do que exatamente eles estavam fugindo?
Clifford tinha plena convicção que jamais seriam encontrados se continuasse na casa de Luke, pois ela era afastada de tudo e ele próprio nunca havia mencionado sobre Luke pra alguém. Não diretamente.
E mesmo que o encontrassem, o que poderiam fazer? Ele próprio sentia como se não pudesse viver se não tivesse próximo ao outro, era como se eles tivessem ligado de uma forma que não era capaz de pôr em palavras.
Um cacho dourado de cabelo deslizou sobre o rosto do mais velho, e o outro não conteve o impulso de suavemente devolver o cabelo ao seu lugar de origem. Retirou a mão ao perceber que estava sentindo-se tentado a afagar o cabelo encaracolado que parecia tão macio quanto algodão. Ali dormindo, era impossível não compará-lo aos anjos de pinturas em quadros da era renascentista. Cada traço perfeitamente desenhado, cada curva no lugar certo. O cabelo como fios de ouro, o nariz esculpido, sem mencionar os olhos que era uma de suas melhores qualidades; tudo como uma perfeita aquarela.
Clifford desviou os olhos, girando e sentando a beira da cama, sentindo o piso gelado sob seus pés. Balançou a cabeça a fim de se livrar desses pensamentos que pareciam mais como um endeusamento a pessoa a qual ele estava planejando odiar. Olhou ao redor do quarto mal iluminado, sentindo-se sufocado – não só por aquelas paredes lisas, como também por seus pensamentos.
Levantou e sem pensar duas vezes foi até a porta e girou a maçaneta, foi uma surpresa ao que ela se abriu. Sem trancas, sem rangidos, sem nenhum impedimento. Algo dentro de si fez sua mente nublar, e foi aí que ele percebeu que não sabia que sentimento era aquele.
Olhou pra trás uma última vez antes de sair do quarto e fechar a porta. O corredor a sua frente mais parecia um túnel, pensou duas vezes e hesitante deu um passo para longe daquela tábua de madeira que o separava de Luke, seus pés andaram no automático o levando até a escada; assim que as desceu e o vento gélido da noite soprou em seu rosto, sentiu arrependimento de não ter se preparado melhor. Às roupas eram finas demais e seus pés descalços em nada ajudavam.
Como se era esperado, as ruas estavam vazias. Era madrugada em uma cidade pequena, agradecia pelas luzes amarelas dos postes ilumibaram as ruas. Agora que estava ali, sentia-se um pouco perdido.
Menos de 48 horas naquele cidade que definitivamente ele não havia turistado e não conhecia porra nenhuma. Mas mesmo assim ele não se deixou intimidar e saiu sem destino.
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O sol aquecia as bochechas de Luke, mas nem isso foi capaz de lhe trazer algum incômodo, antes mesmo de abrir os olhos ele já ensaiava um sorriso. Não lembrava a última vez que havia dormindo tão profundamente. Tateou a cama ao seu lado e não encontrou ninguém, preguiçosamente abriu os olhos. Girou na cama e vasculhou o quarto com o olhar, tudo estava em seu lugar, com excessão de Michael. Ele levantou e abriu a porta do banheiro, mas ele estava vazio e isso deixou sua mente em alerta.