Michael estava tendo devaneios, não era capaz de distinguir a realidade das coisas irracionais criadas por sua mente. Em momentos eram apenas borrões, vozes desconexas, flashs de luzes, às vezes era apenas uma queda livre sem fim.
Por segundos, Michael sentia-se desperto, mesmo não conseguindo abrir os olhos. Por vezes a escuridão tomava conta e só lhe restava sentir medo, ou até mesmo a dor de estar sendo rasgado.
Lentamente seus olhos foram abertos, mas ainda os sentia pesado, por esta razão não os manteve aberto por muito tempo. Seu corpo pedia por mais algumas horas de sono mas seu cérebro o mandava despertar, estava em alerta. Com dificuldade, esfregou os olhos e os forçou a ficarem abertos.
Olhou ao redor, não reconhecendo o lugar.As paredes estavam cobertas por longas cortinas escuras, a cama tinha lençóis estampados com pequenos sóis, e a roupa que Michael usavam era brancas, roupas essa que o próprio não reconhecia.
Arrastou-se para fora da cama, andou cuidadosamente até a porta e para a sua surpresa ela estava destrancada.
Ao sair do quarto, notou que a casa estava escura mas isso não o impediria de procurar a porta de saída, ele pretendia fugir.Percorrendo os cômodos escuros da casa, Clifford sentia sua respiração ficando ofegante, estava nervoso. Ao encontrar o corredor, seus pés o conduziram automaticamente até a porta da frente, porta esta que também se encontrava destrancada. Ao abri-la, a brisa gelada chocou-se contra seu corpo lhe causando arrepios.
Ao olhar para a sala escura uma última vez antes de deixar a casa, sentiu algo subindo por seu corpo, um arrepio que sempre surgia na presença de Luke, com medo que o mais alto aparecesse ele atravessou a porta e a fechou rapidamente.No conforto da escuridão da sala, Luke estava sentado em uma poltrona, silencioso, observando como o outro sentia sua presença mesmo que não pudesse vê-lo. O loiro não disse nada, não fez nada, apenas observou, sabendo que Michael não iria longe.
O relógio marcava onze e cinqüenta e cinco da noite, quase uma hora desde que Michael tinha deixado a casa. Luke finalmente saiu de seu lugar, andou lentamente até a porta, sorriu antes de abri-la, a lua quase não era visível devido as nuvens no céu; seguiu o curto caminho até a estrada, e fixou os olhos ao que parecia o horizonte, manteve-se ali parado até avistar uma silhueta.
Michael corria ofegante, sentindo-se assustado, tendo a imagem de Luke vindo a sua cabeça constantemente, ao olhar para trás, se desequilibrou e caiu, seu joelho certamente estava ralado pois sentia arder.
Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, uma mão agarrou a sua, o que quase lhe fez gritar.— Deixa que eu te ajudo. — A voz de Luke preencheu seus ouvidos. Logo sua outra mão já estava sendo segurada pela do loiro que o pôs de pé com facilidade.
Ele sabia que deveria correr para longe, mas naquele instante sentia-se seguro novamente. Queria acreditar que era por saber que não tinha ninguém lhe seguindo e não pelo fato de ser Luke a estar ali.
— Provavelmente você já percebeu que não pode fugir, você sempre voltará para mim.
Clifford puxou as mãos, saiu do toque do outro, saiu de seu alcance.
— Esteve andando em círculos, caso não tenha notado. — Avisou, antes de começar a andar rumo a casa.
Com a ausência da adrenalina, seu corpo começava a sentir o frio que estava fazendo, mas se recusava a acreditar que o outra estava certo, mesmo que no fundo soubesse que tinha algum tipo de verdade em suas palavras.
— É melhor você entrar, aqui fora está frio e você ainda precisa de cuidados.
A luz da sala foi acesa e Michael sentiu-se tentado a correr para dentro, mas não poderia simplesmente desistir e aceitar que estava sendo mantido como prisioneiro.
— Você acha que não posso fugir? — A voz saiu baixa e levemente trêmula devido ao frio.
— Faz favor? Entra antes que tudo o que conseguimos seja perdido, passei os últimos três dias estabelecendo sua energia, te deixando bem... — Pediu de forma cansada mas Michael permaneceu imóvel. — Certo.
Luke andou até o garoto e o pegou pelo braço, o conduzindo para dentro enquanto resmungava.
— Por que acha que não posso fugir? — Repetiu a pergunta, agora dentro da casa e protegido do frio.
— Fizemos a conexão, estamos ligados. — Falou brevemente.
— Conexão?
— Sim, você se ligou à mim. Seu corpo, alma, tudo.
— Conexão. — Foi tudo que disse, apesar das tantas dúvidas que rondavam a sua cabeça.
— Como disse antes, vou te ajudar a entender as coisas, mas não agora. Coma e volte a dormir.
Michael o olhou como se o desafiasse a dar-lhe ordens novamente, mas Luke apenas sorriu antes de seguir para o seu quarto, deixando o garoto de olhos verdes no meio da sala, tentado a fugir mais uma vez, tentado a arriscar, tentado a tentar de tudo ou a se conformar com o nada, confuso, sozinho.
[Notas] :
O capítulo tá escrito há quase dois anos, estou só publicando.
É isso, só tirando dos rascunhos. Por enquanto só planejando a atualização, mas não tenho nada escrito.