C:\Lucas> Eu estou em todo lugar, em todo canto. Estou aqui, ao mesmo tempo em que sou capaz de ver a mim mesmo na tela de algum computador, no cartaz de pessoa desaparecida e em algum outdor de alguma propaganda qualquer. Não que seja eu exatamente igual em imagem, mas um fragmento de minha personalidade. Eu enxergo um pouco dela em todo canto, em todo lugar.
C:\Larissa> Não podemos ter uma conversa mais simples, sem toda essa maluquice? - A garota me olhava de cima abaixo com uma expressão caricata de estranheza. Suas sobrancelhas arqueadas e seus lábios comprimidos davam um toque de: "hã?".
Estávamos sentados no metrô, cercados por paredes brancas que exibiram diversas pichações de algumas gangues do local.
C:\Lucas> Eu te conheço? - O que estava acontecendo comigo? Como eu poderia estar ao lado de alguém que mal conheço?
C:\Larissa> Começou. - Ela segurava um cigarro entre os dedos da mão direita, colocando a perna sobre o banco enquanto deixava a outra pendurada. Sua postura era relaxada e seus olhos, com os cantos avermelhados devido ao uso do tabaco, chamavam a minha atenção por contratar com sua pele porosa e branca como a luz. - Sou eu, a Larissa, pô. Tua amiga. A gente se conheceu na balada, aquela da região norte. Tu tava doidão naquele dia.
Acredito que, com tantos detalhes, ela já deva estar lidando comigo a um bom tempo.
C:\Lucas> Por isso eu não lembro.
C:\Larissa> Tu sempre esquece, cara. Acho que cê tem algum problema.
C:\Lucas> E se eu tiver?
C:\Larissa> Então seja bem vindo ao clube. Você não seria o primeiro nem o último. Essa cidade só serve pra adoecer quem vive nela. - Larissa tragou por um bom tempo o cigarro, deixando a fumaça deslizar por seus lábios. Seu olhos estavam fechados e sua respiração parecia leve. - E como anda suas seções com a psicóloga, a... Qual o nome dela mesmo?
C:\Lucas> É... Está indo bem. Eu disse pra ela que conheci alguém... Uma garota. - Apesar de minha memória particularmente péssima, senti que Larissa realmente falava a verdade sobre nos conhecermos.
C:\Larissa> E ela acreditou?
C:\Lucas> Não.
C:\Larissa> Tem certeza que quer continuar mentindo pra ela?
C:\Lucas> Você não entenderia.
C:\Larissa> Pô Lucas, que papinho, hein. Eu sou tua amiga cara, cê sabe que pode confiar em mim.
C:\Lucas> Eu sei, eu só... Eu não sou bom nessas coisas. Falar o que sinto, mas o que eu realmente sinto? Isso realmente existe? - Observo minhas mãos por algum tempo, como se fossem de outra pessoa.
C:\Larissa> Talvez sim, talvez não. Qual é, vamos falar disso de novo?
C:\Lucas> Foi mal, mas eu não consigo evitar.
C:\Larissa> Relaxa, eu meio que já me acostumei com isso. Sabia que é legal te ouvir? Cê me lembra um professor que tive no colegial, o cara era um tanto viajado nas ideia, mas era um cara legal.
C:\Lucas> Tá me chamando de doido? - Havia um leve sorriso no meu rosto. Qual seria a resposta que ela me daria?
C:\Larissa> Como seu eu precisasse provar alguma coisa.
C:\Lucas> Ah, qual é. Sério?
C:\Larissa> Tô zoando, mas sério, eu gosto muito de te ouvir, mesmo que seja meio viajado.
C:\Lucas> Valeu.
💾
Ao longe, pude ouvir alguns tiros sendo disparados que ecoaram até alcançar meus ouvidos. Uma debandada de pessoas corria em nossa direção, subindo as escadas que estava atrás de nós com um certo desespero.
C:\Larissa> Isso não tá com cara de assalto, parece mais um massacre.
C:\Lucas> O que se passa na cabeça desses malucos? Será que eles tiveram o BrainOS deles invadido? Soube que alguns Hackers conseguem manipular a realidade percebida através de plug-ins enviados através da Internet para o BrainOS da pessoa invadida.
C:\Larissa> Sei lá pô, eu lá tenho cara de técnico de informática? Bora, eu não quero ficar pra descobrir.
Subimos as escadas acompanhando as pessoas que corriam com certa dificuldade entre a bagunça generalizada. A coisa deve ter sido feia, não me lembro de ter visto algo do tipo desde o tiroteio no shopping de Nova City.
💾
Fora do metrô, nos encontramos na calçada no centro da cidade. As luzes, o neon, as propagandas... Tudo parecia mais intenso naquela parte da cidade, talvez por ser a parte comercial. Bem, as coisas pareciam um pouco menos estranhas, apesar dos sons comecarem a soar como algo artificial. Será que meus aparelhos auditivos estavam dando problema?
C:\Lucas> Quanto barulho. Lembrei porque sempre evito o centro.
C:\Larissa> Sei como é, sinto até um pouco de dor de cabeça nesse lugar.
C:\Lucas> Larissa, quando cê me viu na balada, eu estava com alguma garota?
C:\Larissa> Que eu me lembre não, por que?
C:\Lucas> Nada não, deixa quieto. Eu só... Pensei ter visto a mesma garota que descrevi quando menti pra minha psicóloga.
C:\Larissa> Como tu descreveu ela?
C:\Lucas> Nada de mais. Falei que ela era loira, que o tamanho do cabelo alcançava os ombros e que era dez centímetros menor em comparação a minha altura.
C:\Larissa> Ah sim, a Ingrid. Eu já ouvi falar, ela é bem conhecida pelas caras, mas só lembro de te ver tendo uma interação breve com essa garota.
C:\Lucas> Então ela existe?
C:\Larissa> Pelo visto, sim. Parece que tu usou a imagem de algo familiar pra mentir pra tua psicóloga.
C:\Lucas> Hum, deve ser.
💾
Sobre o terraço do mega prédio onde morava, observava a cidade ao longe sentado no parapeito. O vento batia no meu resto e a luz do sol aquecia a superfície da minha pele. Então ela existe? O que eu deveria fazer? Talvez tentar encontrá-la? Quem sabe isso resolveria alguma coisa? Talvez até mesmo pudesse responder algumas perguntas.
C:\Ingrid> Então você trabalhava naquela empresa de segurança chinesa, a... Qual o nome mesmo?
A garota me abraçava por trás enquanto encostava o queixo em meu ombro. Eu consegui sentir o calor de sua respiração tocar meu pescoço. Mas... Como? Uma alucinação?
C:\Lucas> Pois é, uma droga. - Traguei o cigarro que Ingrid segurava em seus dedos, dando a mim, e logo devolvendo em seus lábios.
C:\Ingrid> Nem tanto. Conheço umas pessoas que poderiam precisar dos seus conhecimentos.
C:\Lucas> Ah é, quem?
C:\Ingrid> Aqui, eles tem cartão e tudo.
Os cavaleiros. Mas o que aquilo significava? A imagem de Ingrid sumiu, é claro. Encontrei o cartão no bolso da minha calça, o que era estranho. Por que um bando de Hacker teriam um cartão de cortesia? Será que é com isso que eles conseguiram invadir meu BrainOS? Não, isso não faz sentido. Mas eu preciso saber quem são esses caras.
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Conexão Desconectada
Science FictionEm um futuro distópico, Lucas, um homem atormentado por dúvidas existenciais, se vê preso entre a realidade física e a virtualidade. Uma cápsula avermelhada, mensagens anônimas e uma mulher loira misteriosa o conduzem por um labirinto de segredos. A...