Capítulo 3

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- O que você acham de jogar verdade ou desafio? – Maitê, a vocalista da banda pergunta. Já anoiteceu e o diretor chamou a todos que quisessem para uma noite na fogueira, todos os integrantes da banda estão aqui, as meninas que conheci hoje mais cedo, eu e Miguel também, e mais algumas pessoas que não conheço.

- Quem namora tem desafio de beijar outra pessoa? – Um menino asiático pergunta.

- Não, só vai beijar os solteiros. – Ela explica. Bem interessante. Não quero beijar ninguém, mas quero participar.

- Aceita namorar comigo? – Sussurro no ouvido de Miguel.

- Quê? – Ele me olha confuso, mas então percebe o que quero dizer. – Mas eu quero beijar as garotas. – Bufo.

- Vão participar? – A garota da banda que tem mechas verdes no cabelo pergunta. Não sei o nome dela, só sei que ela toca violão.

- Eu vou. – Miguel diz animado. – Você vai participar não vai? – Ele pergunta olhando para mim. – Qual é? Você adora uma aventura, desafios... Vai mesmo deixar de participar dessa?

- Isso é tortura psicológica! – Exclamo. Ele ignora.

- Tá bom, fica aí só olhando então. – Ele vira de costas e senta na roda. Faz questão de deixar um espaço para mim, ele sabe que vou e é isso o que eu faço, sento ao seu lado. – Sabia que viria.

- Não começa. – Digo. Ele apenas revira os olhos.

- Vamos começar. – A outra garota da banda diz, preciso saber os nomes deles se não, vou me confundir. Ela pega uma garrafa e gira.

- Léo pergunta para... – Ela olha em direção de Angel.

- Angel. – Ela responde.

- Verdade ou desafio? – Léo pergunta, ele é o guitarrista da banda.

- Desafio.

- Não vamos começar com algo tão difícil, dá um selinho na Anabel. – Ela assente e da um selinho rápido na amiga. A garrafa gira novamente. A baterista da banda conhece a Anabel, interessante.

- Davi pergunta para Luana. – Luana é a menina de cabelo castanho com uma pequena mexa roxa na franja, ela é a baterista da banda e Davi o Tecladista.

- Desafio. – Ela diz antes que Davi pergunte.

- Desafio você a lamber o rosto da Lorena. – Imediatamente ela o fuzila com o olhar. Luana dá de ombros e lambe o rosto da amiga que se contorce de nojo.

- Isso foi estranho pra caramba. – Ela diz e todo mundo começa a rir. Acho que agora sei os nomes de cada um da banda. Léo é o guitarrista que se declarou para a Maitê, que é a vocalista da banda. Eles estão juntos. Davi é o tecladista e está de mãos dadas com a menina de cabelo verde, a Lorena, que toca violão. Os outros dois são a Luana, baterista da banda que namora com o Arthur, o garoto que toca baixo. A garrafa gira novamente.

- Lorena para... – Maitê aponta em direção ao meu amigo.

- Miguel.

- Verdade ou desafio? – Ele vai escolher desafio. Óbvio. Acho que ninguém aqui vai escolher verdade, bom... Talvez eu escolha.

- Desafio. – Ela morde os lábios.

- Te desafio a beijar ela. – Ela olha para mim.

- O que? – Ele pergunta surpreso.

- Que interessante. – Digo baixinho.

- Vão arregar? – Ela pergunta afrontosa. Olho para Miguel que olha para mim claramente dizendo com os olhos: não me deixa na mão. Mas ele me deixou na mão primeiro.

- Tá. – Digo e logo me arrependo.

- Pode ser só um selinho, já que os dois aparentemente não querem se beijar. – Ela diz.

Olho para Miguel e respiro fundo. Sem pensar muito, para não acabar dando para trás, selo nossos lábios. Meu coração bate aceleradamente e posso sentir que o dele também. Separo nossas bocas mas por algum motivo, as junto de novo, nunca beijei meu melhor amigo e parece ser um mar de adrenalina fazer isso, sinto sua língua explorar cada cantinho da minha boca e eu, igualmente exploro a dele. Ouço os gritos das pessoas de forma abafada, por que naquele momento, era só eu e ele e mais ninguém. Nos separo e ambos começamos a rir de nervoso. Olho para todos que estão com semblantes animados.

- Retiro o que eu disse, eles queriam se beijar sim. – Lorena diz rindo. Olho de canto para Miguel que está olhando de canto para mim também. Foi só um beijo, algo novo que não vai acontecer novamente, mas e se ele achar que tenho interesse nele? Me enfiaria em um buraco e não sairia mais, e se por causa disso nossa amizade acabar? Droga, deveria ter dado só um selinho.

- Depois a gente fala sobre isso. – Ele sussurra em meu ouvido. O jogo contínua por bastante tempo, só para quando o diretor chega e nos obriga a ir para o abrigo, já que eram quase 10:00 horas.

- Arrasou. – Uma voz feminina diz quando estou arrumando a cama para dormir. Olho para trás e mesmo com a maioria das luzes apagadas do dormitório, consigo identificar o cabelo roxo que é a marca da garota. Eu e Maitê ficamos no mesmo alojamento.

- Aquilo só foi a adrenalina de beijar meu melhor amigo. – Digo. Ela arregala os olhos surpresa com a descoberta, a garota senta na cama da beliche que está grudada na minha, na parte de cima e me olha desconfiada. – A gente é amigo e só isso, talvez eu tenha assistido muito tiktok, aqueles vídeos de beijar seu melhor amigo e ver a reação dele. Eu nunca fiquei tão desesperada em toda a minha vida.- Começo a rir de nervoso, ainda repleta de adrenalina.

- A Luana e o Arthur eram melhores amigos desde a infância. Acredito ser esse o seu caso com seu amigo, Miguel não é? – Assinto que sim. – Eles se apaixonaram mas ficaram enrolando por meses, fingindo, brincando um com o outro de serem apenas amigos. Eles tinham medo de estragar a amizade, mas nessa brincadeira acabaram se afastando, por que não conseguiam se olhar e suportar a ideia de que não pertenciam um ao outro. Até que não deu mais e eles se entregaram a essa paixão e deu certo, está dando certo.

- Não estou apaixonada pelo meu melhor amigo, só fiquei... Um pouco empolgada, digamos que ele beija bem, muito bem. – Confesso.

- Olha... Você gostou de ter ficado com ele, a Lu e o Arthur começaram assim também, eles fingiram namorar para causar ciúmes em uma garota que o Arthur “gostava” – Ela faz parênteses com os dedos.

- Isso é literalmente muito clichê. – Digo e nós duas rimos.

- Minha história com o Léo não é nada clichê. – Ela diz, despertando minha curiosidade. – Conheci ele no orfanato. – Abro a boca tentando processar o que dizer. – Não precisa dizer nada. Conheci ele quando eu tinha 4 anos, que foi quando fui para o orfanato, após meus pais morrerem em um trágico acidente e ninguém da família querer minha guarda. Viramos amigos, muito amigos, mas então ele foi adotado e um tempo depois, eu fui adotada também. Ficamos 8 anos sem nos falar, mas então... Encontro ele nos corredores da escola. Ele estava tão diferente... Mas eu ainda o reconheci, mesmo tendo o visto pela última vez, quando ele tinha 8 anos.

Os guardas entram no dormitório e fazem a checagem se estão todas aqui. Eles colocam um aparelho em nossa pulseira que lê o nosso nome e confirma nossa presença. Então todas as luzes se apagam. Algumas ficam acesas depois que bate 10:00 horas da noite e às 10:15 mais ou menos, que é quando terminam a vistoria, se apagam todas. Eu e Maitê continuamos a conversar, ela me contou que o casal que a adotou depois de ter tido o primeiro filho, não pode mais engravidar e resolveram adotar. Pelo que ela me falou eles tem uma ótima condição financeira.

- Caraca. Que história hein. – Digo assim que ela terminar de contar.

- Vão dormir, já passou da hora e estão incomodando quem quer descansar. – Uma garota diz, ela está com sono, diz sonolenta, não a julgo em pedir para dormimos, se eu tivesse no lugar dela ficaria bem irritada também. Já passou da hora que as luzes automaticamente se apagam, embora façam apenas alguns minutos, mas talvez tenhamos acordado a garota.

- Boa noite. – Maitê diz deitando na cama a minha frente, que fica grudada na que estou.

- Boa noite. – Então apago a lanterna.

Tento dormir, mas minha cabeça está borbulhando em um milhão de pensamentos. O que eu vou falar para o Miguel? Será que nossa amizade será a mesma coisa depois disso? O que realmente aconteceu naquela fogueira? Não gosto dele desse jeito, isso tenho certeza, mas senti desejo, o que é diferente de gostar. Mas não quero ter uma amizade colorida com ele, quero que seja só amizade mesmo. O que será que ele está pensando agora? Resolvo tentar parar de pensar, se não, passarei a noite em claro, penso em coisas boas e assim adormeço. Acordo com uma trombeta em altura mil soando em todos os altos falantes do acampamento e um deles está bem em cima de mim. Dou um grito de susto, abro meus olhos e vejo que nenhuma das meninas gostou disso também.

- Ano passado era uma música animada. – Uma garota diz emburrada.

- Não exagera Emma, nem foi tão ruim assim. – Outra garota diz.

As beliches são posicionadas todas horizontalmente, ficam grudadas de um lado na parede e são de madeira. Em baixo da beliche existem 2 gavetas, para as meninas que estão na beliche guardarem suas coisas. Levanto e me troco, coloco meu shorts bege com uma regata preta e meu tênis preto da vans. Coloco minhas lentes, passo rímel, lápis de olho e batom. Penteio meu cabelo, coloco o boné camuflado de minha irmã e estou pronta. Vamos para o refeitório, para tomar café da manhã.

- O que eu vou dizer para ele? – Pergunto baixinho, só para Maitê ouvir.

- Diz o que você sente. Vem sentar com a galera. Eles vão gostar de você. – Se torna impossível recusar o convite, nos sentamos em uma mesa ao lado da janela, Maitê à vista seus amigos e os chama para se sentar conosco.

- Bom dia Mai. – Léo diz, dando logo em seguida um selinho demorado na garota.

- Como vocês sabem, essa é a Eloá. – Maitê diz aprontando para mim. – Ela é minha amiga agora e espero que não se importem dela andar com a gente de vez em quando.

- Por mim tudo bem. – Léo é o primeiro a dizer. Me sinto estranha tendo que ter a aprovação de outras pessoas para andar com elas. Mas Maitê é grudada neles e é justo que se ela quer que eu ande com eles, os outros queiram também.

- Não sei, ela é amiga da Anabel.  – Lorena diz indiferente. Não gostei dela.

- Lena, a Anabel já foi sua amiga também e isso não significa que você é uma péssima pessoa. – Davi diz e se arrepende assim que termina de falar.

- Tá defendendo ela agora? Sério isso Davi? – Ela expressa indignação.

- Não estou defendendo ela Lorena, mas você não pode julgar uma pessoa por ser amiga de outra, você nem conhece a garota! – Ele diz se exaltando um pouco.

- Eu não estou acreditando nisso! – Ela grita e bate sua mão com tudo na mesa.

- Quer saber? Cansei desses seus showzinhos, toda vez é assim Lorena, sempre a mesma coisa! Eu escolhi você, mas parece que não é o suficiente. – Davi diz e Lorena morde os lábios fortemente.

- Também cansei disso, de você sempre fingir que nada aconteceu. Perdi a fome. – Então ela sai pisando fundo do refeitório.

- Eu vou conversar com ela. – Luana diz se retirando da mesa e seguindo em direção a amiga.

- Desculpa, eu não queria causar isso. – Digo totalmente constrangida.

- Você não tem culpa pelos atos da Lorena. – Davi diz. – Voto para você ficar.

- Eu também. – Maitê diz.

- Eu não sei, acho que a Lorena não vai gostar disso e não quero causar mais encrenca.

- A Lena é assim, explode o tempo todo, mas depois se acalma, a gente pode decidir isso quando ela estiver mais calma. – Arthur diz.

- Pode ser. – Resolvo não perguntar o por que Lorena odeia Anabel, já percebi que Davi está no meio disso, não tenho dúvidas quê é um assunto delicado.

- Eloá, a gente pode conversar? – Ouço a voz de Miguel atrás de mim e por alguns segundos simplesmente congelo.

- Po... Podemos. – Me viro para ele e então me levanto. – Eu diria que a conversa foi boa, mas... Eu estaria mentindo. – Maitê e Davi soltam uma risada. – Vocês parecem legais de verdade, espero que surjam oportunidades para nos conhecermos melhor. Até depois. – Então saio do refeitório ao lado de Miguel. Podemos pegar o lanche depois da nossa conversa.

- Eu queria pedir desculpas. – Ele diz.

- Pelo que exatamente? – Pergunto franzindo a testa.

- Se eu não tivesse te deixado na mão, nada disso teria acontecido.

- Você pode fazer escolhas por conta própria, você queria aquilo, não podia te impedir disso. – Falo. – Eu realmente não quero que as coisas mudem entre a gente depois do que aconteceu...

- Não vai mudar nada. Eu prometo. – Ele diz me interrompendo.

- Mas pelo menos você beijou outras garotas, como você queria. – Digo.

- É, mas... – Olho para ele querendo que termine a frase. – Deixa para lá, não é importante.

- Eu não quero que pense que pode existir algo entre a gente, por que embora você seja uma pessoa incrível, eu prefiro que seja apenas meu amigo. – Solto um suspiro de alívio assim que pronuncio a última palavra, mas tenho medo da reação dele.

- E eu não quero que pense que pode existir algo entre a gente, por que embora você seja uma garota incrível, eu prefiro que seja apenas minha amiga. – Ele repete quase a mesma coisa que eu digo e então começamos a rir igual uns doidos.

- Apenas amigos? – Pergunto estendendo minha mão.

- Apenas amigos. – Ele diz segurando em minha mão, então nos abraçamos, como se nada tivesse acontecido.

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⏰ Última atualização: May 01 ⏰

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