03 - A verdade

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            Não sabia se havia passado dias ou horas mas sabia que meu rosto deveria estar completamente horrendo.
Me arrasto até a porta e tento abri-la, a mesma não abre. Arrasto-me novamente para perto da minha cama e tento me encostar na mesma. Escuto minhas costas estalarem, reprimo um grunhido de dor e fecho os olhos com força no exato segundo que sinto tudo rodar. Estava faminta.

Escuto a porta a ser aberta e meus olhos vão para ela. Meu pai passa pela porta ainda furioso. Levo um segundo para perceber que ele me joga um pedaço de pão. Rapidamente eu pego o mesmo com as mãos e praticamente o devoro.

– Parece um animal. – O barulho das suas botas arrastando no chão até mim me fazem desviar a atenção do alimento. Sua mão agarra no meu cabelo me fazendo olhá-lo.
– Veja como está horrenda. – Ele sorrir. Em seguida me solta, fazendo minha cabeça tombar. Ainda estava muito fraca.
– Quando terminar, tome um banho no lago! – Manda e sai pela porta. Além de não poder comer a mesma comida que eles, não me era também permitido tomar banho na casa.

Após saborear o pão, eu ando em passos lentos até a porta e com dificuldade consigo passar por ela. A sensação de querer sentir a água banhando meu corpo me motivava a andar mais depressa apesar das dores incessantes.

Assim que chego no lago, apenas me permito cair e tudo fica em silêncio. Abri os olhos vendo a luz do sol bater na água e sorrio com a sensação maravilhosa de se sentir abraçada pela água. Volto a superfície para respirar antes de mergulhar novamente e só então depois passo a me lavar.

Alguns cortes conforme eu lavava mais saía sangue e eu agradeci mentalmente por não haver peixes carnívoros nestas águas. Após aproveitar o banho, eu saio da água me sentando no batente. Olho meu reflexo e percebo que meu olho direito estava coberto pela pele inchada, meu rosto estava irreconhecível.

Levo minhas mãos ao recente corte que ia da bochecha até próximo ao meu maxilar. Com certeza ficaria uma cicatriz para sempre.

– Que nojeira! Eca! – Escuto a voz de Lyli atrás de mim, me fazendo levar um susto. Se meus olhos não doesse tanto, com certa eu iria revira-los. Fico calada.
– Mamãe me mandou trazer isso. – Ela me entrega um pano e só então me toco que ainda estava nua desde a recente surra.
Murmuro um "Obrigada" antes de pegar o pano e enrolar no meu corpo.
– Com esse machucados eu acho difícil papai conseguir algum dinheiro com você. – Ela rir. Olho para ela ligeiramente confusa.
– O que disse? – Pergunto me preparando para levantar. Lyli rir mais uma vez e sai correndo para dentro de casa. O que ela quis dizer com aquilo?.

Assim que entro na casa, vou direto para meu quarto e me surpreendo por estar tudo arrumado. Porque arrumaram meu quarto? 

Visto um dos 4 vestidos que me restam e saio do quarto rumo a cozinha, provavelmente eu teria que fazer o jantar.

– Faça um ensopado! – Era a voz do meu pai. – Aqui está o Coelho. – Ele diz levantando o braço com o coelho na mão. Aceno com a cabeça. Ele abre um sorriso assustador.
– Amanhã é seu aniversário! Vamos comemorar! – Ele rir. Dou um sorriso forçado, ele parecia feliz até demais.

Meu pai permaneceu parado na porta me observando preparar o jantar. Seu olhar queimava na minha pele. E por conta disso eu mal conseguia me lembrar como cortava o coelho.

Sirvo o jantar á mesa sob o olhar ainda do meu pai, pego o prato de Lyli a servindo primeiro, em seguida o papai e a mamãe.

– Se sirva também, Aryn. Teremos muito o que fazer amanhã cedo, precisará de energia! – Diz animado. O que será que irão fazer comigo desta vez?

Me sirvo e sento ao chão, aprecio a refeição como se fosse a última, fazia tanto tempo que não comia algo descente. Mas enquanto mastigo, não posso evitar em pensar no que irá me acontecer amanhã.

Dia seguinte

– Ande! Levante-se! – Acordo subitamente com o grito de papai. – Arrume suas coisas. – Ele diz somente e vira as costas para fora do quarto. Mais que depressa eu pego uma velha mala que havia no meu quarto, pondo as poucas roupas que me pertencem. Em seguida saio do quarto e está tudo um completo silêncio, nem mesmo a voz de Lyli ou da mamãe.
– Vamos! – Tomo susto com a voz do meu pai em seguida da sua mão agarrando meu pulso me puxando para fora de casa. Logo vejo um dos seus cavalos.
Ele me solta e se aproxima do mesmo, pegando uma corda que estava em cima da sela e volta até mim.

Fico em choque vendo o que ele está fazendo.
Papai pega a mala das minhas mãos, pondo-a no chão, em seguida pega minhas mãos amarranhando uma corda nas mesmas.

– Hm. – Gemo de dor quando ele acocha o nó. Depois ele pega a corda e me puxa me fazendo tropeçar nos meus pés e cair. Levanto a cabeça e ele amarra a mesma na sela, volta e pega minha mala, ainda sem me olhar.

Olho para trás e vejo Lyli na porta me acenando e finalmente percebo o que se passa. Volto o olhar para meu pai que agora já está em cima do cavalo. E começa a cavalgar.
Sou puxada abruptamente e tento correr conforme o cavalo mas meu corpo dói e acabo fraquejando, meu corpo bate com o chão e eu sou arrastada.
Grito usando todas as forças dos meus pulmões quando sinto minha pele se arrastada pela estrada de barro.

Caminhávamos agora devagar, olho para os meus pés em carne viva e fecho os olhos com força, sentindo como se a minha vida estivesse me deixando aos pouquinhos.

– Está com sede? – Papai me indaga e para o cavalo, exausta eu me deixo cair sob meus joelhos. Balanço a cabeça que sim.

Escuto ele descer do cavalo e se aproximar.

– Já que esta será a última vez que verei você, acho justo saber a verdade. – diz e eu olho para ele, o homem leva a garrafa de metal até a boca, bebendo a água e em seguida me dá. Desesperada eu bebo a água.
– Você não é minha filha, garota. – Ele sorrir. – A maldita da sua mãe me traiu. – Ele toma a garrafa das minhas mãos. – Apenas Lyli é! – Ele baixa-se até mim, ficando de cócoras.
– Concordamos em vendê-la assim que fizesse seus 18 anos, e usaríamos como empregada até... – Ele rir. – Hoje. – Ele então levanta-se e me olha de joelhos aos seus pés. – Também gostaria de tê-la usado de outra forma, mas a sua mãe não me permitiu. – Se abaixa novamente a minha frente.
– Espero que quem comprar você faça 10x pior o que eu teria feito. – Ele sorrir. – Feliz aniversário querida.


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