Tema 1: Beijo na bochecha
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Fit sentia os olhos cansados depois de mais um dia inteiro na Biblioteca Arcana de Cálico, buscando saber mais sobre o objeto amaldiçoado que ele e o grupo de aventureiros com o qual havia se juntado estavam procurando; ele estava acostumado a trabalhar com pessoas diferentes cada vez que precisava pegar algum serviço em troca de algumas peças de ouro para poder enviar para o filho, Ramón. Entretanto, em nenhum outro teve aquela sensação de pertencimento, de irmandade.
De família.
O meio-orc sabia que, no trabalho em que estavam, aquela sensação era rara. Amizades não eram comuns no meio, muito menos confiança; amigos viraram inimigos em um piscar de olhos, e Fit havia acostumado a dormir sempre com o tridente por perto caso alguns dos seus colegas decidissem que a parceria não valia mais a pena.
Mas havia algo diferente no grupo atual.
Em partes, por serem um grupo pequeno. Grupos de três não eram comuns, tendo em vista a clara desvantagem numérica; entretanto, o contratante deles havia especificado que apenas três poderiam sair naquela missão. Então estavam ele, Tubbo e Pac indo atrás de pistas para encontrar o que buscavam.
Em partes, também era pela diferença de idade. Tubbo era bem mais novo que os outros dois, um garoto genial, mas completamente imprudente. Fit se irritava fácil com o jovem correndo para cima do perigo sem nenhum cuidado, e sempre que podia, colocava-se à frente dele em batalhas, ganhando até algumas cicatrizes no lugar dele.
Mas, sobretudo, o motivo dele estar se sentindo tão seguro com o grupo atual era por Pac.
O meio-elfo simplesmente fazia-o se sentir em casa. Ele era uma pessoa tranquila, com muitas histórias para contar sobre fugas de prisão e aventuras passadas, que também adorava ouvir e contribuir com as ideias mirabolantes de Tubbo ou simplesmente sentar em silêncio junto de Fit enquanto faziam a vigia noturna.
Era confortável, mais do que Fit gostaria de admitir.
A biblioteca estava silenciosa, mas o meio-orc ouviu passos aproximando-se devagar. Não precisou olhar para saber quem era, já estava se acostumando com os sons dos passos leves de Pac.
— Ainda aqui? — O meio-elfo perguntou, surgindo do lado dele. Segurava um porta vela, o rosto fino de pele marrom clara iluminada pela chama vermelha.
— ei, Pac! — Fit sorriu, acenando para que Pac sentasse na cadeira ao lado dele, mas o outro recusou com um leve aceno de cabeça.
— Eu e o Tubbo começamos a ficar preocupados.
— Desculpa, não tinha como avisar vocês. Encontrei algumas coisas bem interessantes sobre o Cetro do Desespero.
Pac inclinou-se por cima do ombro dele, os rostos extremamente perto um do outro, a mão livre do meio-elfo apoiando-se no ombro largo coberto por uma cota de malha. Fit engoliu em seco, hábito que estava se tornando comum desde quando conheceu e começou a passar mais tempo com Pac.
— O que encontrou?
Piscando para retomar o foco, o líder do trio puxou alguns mapas, livros e anotações antigas escritas em élfico para mais perto. Por quase meia hora, conversaram baixinho sobre as descobertas na Biblioteca Arcana, começando a traçar um plano para obterem o mapa que os levaria até o Cetro – e, assim que obtivessem o objeto amaldiçoado, bastaria voltar para a cidade, entrega-lo ao contratante e pegar o ouro oferecido.
Era aí que, geralmente, os grupos de aventureiros se separavam.
Fit se recusava a pensar nisso ainda, pois teriam um grande caminho à frente, várias masmorras para explorar, criaturas para matar... muita coisa ainda podia acontecer até que o momento de dizer "adeus" chegasse.
— Ok, acho que temos um começo de plano — Pac comentou, apertando o ombro do outro de leve. Fit olhou para ele, os dois à centímetros um do outro, e sorriu satisfeito. As orelhas do meio-elfo mexeram quando ele também sorriu. — Você é muito bom nisso, Fit.
— Anos na estrada te ensinam alguma coisa... — O meio-elfo começou a reunir novamente as anotações que tinha feito. A vela no porta velas que Pac havia trazido já havia queimado mais da metade. — Acha que vai levar muito tempo?
— Bom, quanto mais rápido a gente voltar pra junto do Tubbo, mais rápido a gente termina esse plano e mais rápido colocamos ele em ação. Aliás, nem devíamos ter deixado ele sozinho, ele vai destruir o acampamento com aquelas máquinas malucas dele. — Fit riu baixinho, concordando. Pac ajeitou a postura, erguendo uma mão para jogar o cabelo preto para trás, tirando as mechas da frente do rosto.
Fit precisava admitir: tinha mais vontade de passar a mão naqueles cabelos do que julgava ser aceito socialmente para dois colegas de trabalho.
Em um movimento fluído e rápido, quase imperceptível para o estudioso que vivia em alerta, o meio-elfo inclinou-se de novo. Quando estava com o rosto na altura do de Fit, Pac respirou fundo e se aproximou mais, roçando os lábios quentes na bochecha de pele verde do meio-orc; como um efeito de magia antiga, o corpo inteiro de Fit se arrepiou, sentindo mini explosões de energia onde o beijo havia sido deixado.
— Você é incrível, Fit, sabia disso? — Pac se afastou, as bochechas queimando. Novamente agindo rápido, ele pegou a vela de cima da mesa e saiu caminhando com agilidade, deixando a Biblioteca como se nunca tivesse estado ali.
— Você é incrível, Pac — o meio-orc sussurrou, erguendo a mão para encostar na bochecha, sorrindo bobo para si mesmo.
Ele realmente esperava que levassem um tempo para encontrar o Cetro.
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Em todos os universos te beijei (e te amei)
FanfictionQuando beijos trocados marcam momentos importantes, o amor de !Pac e !Fit é capaz de superar até a distância entre diferentes universos