Capítulo 11

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O ar pairava carregado de tensão, enquanto eu encarava Lóng, meu coração pulsando com uma mistura de nervosismo e incômodo, o frio que eu sentia começou a desaparecer lentamente.

-Você não tem ideia do problema que está se metendo -, murmurou Lóng, seus olhos vermelhos faiscando com uma intensidade sombria.

Esse cara, ele é estranho, seus olhos são vazios mas dizem muita coisa. Eu conseguia sentir que ele era forte de verdade, não sei dizer se é de tanto que estudei sobre xamãs depois que nasci aqui ou é pela minha experiência como um deus. Mas meu corpo está me avisando que esse cara é um problema.

- Talvez não, mas olha só, se você for embora eu nunca vou saber, não é uma coisa boa? - mesmo sabendo que estava em problemas eu não consegui conter minha ironia.

Num instante, um corte vertical veio em minha direção, e era impressionante como ele conseguia executar um golpe tão potente mesmo estando tão próximo. Sem hesitar, saltei para a direita, desviando habilmente do ataque. Seria épico segurar a lâmina, mas a ideia rapidamente se dissipou ao perceber que isso poderia custar-me a palma da mão.

Mas Lóng não dava trégua. Num piscar de olhos, ele estava novamente à minha frente, pronto para outro golpe. Rolei pelo chão e atirei neve em sua direção, numa tentativa desesperada de cegá-lo. Seguiu-se um chute giratório baixo, visando desequilibrá-lo, mas Lóng desapareceu diante de meus olhos antes mesmo que meu chute alcançasse sua calça.

Tudo acontecia tão rápido, minha mente estava acelerada pela adrenalina, meus sentidos aguçados. Parecia que o tempo desacelerou ao meu redor. Lóng já estava atrás de mim, preparado para mais um golpe vertical. Desviar para os lados significaria arriscar minhas pernas; então, só restava uma opção: saltar para trás.

Ao saltar para trás, adentrando sua zona de ataque, as lâminas de Lóng não podiam me alcançar. Minhas costas colidiram com ele, derrubando-o na neve enquanto eu pousava alguns passos à frente.

- Você é bom. Não sei se é habilidoso ou se é apenas sorte e você está saltitando por aí - disse Lóng, levantando-se. Surpreendentemente, sua raiva parecia diminuir um pouco.

- Podemos parar agora? - perguntei, nutrindo uma esperança frágil, embora soubesse que provavelmente seria em vão.

- Deve estar sonhando. Agora que começamos, vamos lutar até a morte - respondeu ele, assumindo uma postura de combate.

- Se você acha que vou lutar até a morte com você só porque salvei uma criança, o único sonhador aqui é você - retruquei, firme.

Ele avançou contra mim sem dar tempo para respirar, desferindo ataques contínuos. Eu continuava saltando para trás e desviando como podia, mas uma abertura surgiu em meio à tempestade de golpes que ele lançava contra mim.

Era algo que eu aprendera há muitos anos atrás. Uma espada era feita para combates próximos, não para uma distância tão grande entre os oponentes; uma arma de alcance médio. Um oponente desarmado só podia pensar em fugir, enquanto um armado com uma espada, em bloquear e contra-atacar. Mas uma coisa era universal: quando achavam que não conseguiriam, ambos saltam para trás, movidos pelo medo de serem atingidos. Mas o que aconteceria se alguém superasse esse medo? Abria-se uma brecha na guarda do oponente, bem na hora do ataque; dava-se um passo para frente.

Era um movimento simples em palavras, mas quase impossível para pessoas normais executarem em meio ao calor da batalha. Aqueles que conseguiam realizar esse feito eram chamados de verdadeiros guerreiros.

E assim, avançando em direção a Lóng, em vez de recuar, a lâmina apenas arranhou meu braço esquerdo. Agora, ele não poderia atacar novamente com um espaço tão limitado para manobrar a espada, nem recuar antes que eu contra-atacasse, pois eu avancei com um golpe preparado. E então, um gancho de direita no queixo de Lóng o fez cair de costas na neve, largando a espada.

- É por isso que você deve carregar uma lâmina menor para combates de curto alcance - declarei, enquanto cobria o corte em meu ombro esquerdo, mesmo que superficial, doía bastante.

Por mais incrível que pudesse parecer, eu costumava usar uma espada durante meu tempo como Kamadeva; uma lâmina longa e uma curta. Se não fosse esse conhecimento, provavelmente não estaria vivo para contar a história.

É estranho, ele apenas usou ataques comuns de espada, nem sinal dos poderes xamânicos. Estava me testando? O primeiro golpe com certeza foi anormal, já que partiu o lago ao meio, o resto foram apenas ataques supersônicos, mas não houve cortes além do alcance da lâmina. Curioso.

- Vocês estão bem? - Perguntei, notando que Yulan e Zhang estavam paralisados, observando Lóng caído no chão.

- Você... Você o acertou...? - Yulan se esforçou para falar.

- É... Acertei... Algum problema?

Ops... Espera... Ela sempre se referiu a Zhang com muito respeito e a Lóng também.... Não me diga...

- Hmmm... Senhora Yulan, por algum acaso, esses dois garotos são tipo... Muito importantes?

- Eles são descendentes da família Wei, a família com mais prestígio em Lótus, senhor...

*Oh... Merda...*

Então, meu corpo reagiu instintivamente, desviando para a esquerda quando ouvi um som estranho atrás de mim. Lóng atacou pelas costas, mas seu golpe foi interceptado por um escudo, enquanto eu movia minha cabeça para fora da linha de ataque.

- Lóng! Já chega! - Li surgiu bem na hora.

Lóng interrompeu o ataque e olhou para Li, que estava um pouco afastada de nós. Ele parecia incomodado com a presença dela.

- Olha só, a perdedora da família está aqui. Me impedindo de matar um mero comum, você não se cansa de decair?

- Eu não estou decaindo. Não vou permitir que você machuque meu amigo, nem ninguém que não mereça! Se quiser lutar com alguém, lute comigo, agora! - Ela falava com seriedade, as pedras elementais já flutuavam ao seu redor.

Lóng deu de ombros e guardou a espada enquanto se virava.

- Pois bem, lutar com você agora me traria problemas na família, se quiser podemos marcar um dia e fazer um evento em torno disso, para que todos vejam você perdendo pra mim de novo. Mas te aviso, vai ser ainda pior do que da última vez. - Ele então olha para mim - E quanto a você. Qual é o seu nome?

- Me chamo Kala. É um grande desprazer te conhecer.

- Me chamo Lóng. Igualmente. Por respeito ao seu esforço, deixarei a criada viva, mas se você tentar me impedir de fazer o que tenho que fazer de novo, vou matar você. - Ele disse desaparecendo da minha vista

- Você está bem, Kala? - Li vem até mim preocupada

- Tô, tô, nada demais... - eu então apenas olho pra ela sem falar nada, ela então compreende

- É... Eu posso explicar...

- Jovem mestre Lianhua, bem vinda de volta. - Yulan se curva ao falar com Li

- Oh! Yulan, que bom que está bem. Ahm... Esse garotinho é...

- Olá... Me chamo Zhang... - Zhang estava meio tímido ao falar com Li, ele estava escondido atrás de Yulan

- Oh! Zhang, nossa como você cresceu! Você era um anão quando na última vez que te vi! E agora é um anão um pouco mais alto!

Bom, dessa vez, pelo menos tudo parece ter acabado bem, o que é isso? É sério? Não vai acontecer mais nada contra minha pessoa? Nadinha?

- Li, o que está acontecendo aqui? - eu perguntei depois de limpar a garganta

- Bom... Podemos conversar em outro lugar? Aqui tá frio...

*Tá frio em todo lugar por aqui...*

E então, meu primeiro contato com a família de Li terminou. Devo dizer, não foi tão ruim assim. Mas ainda assim, espero nunca mais ver aquele cara de novo.

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Notas: Queria publicar antes, mas mesmo assim não tava conseguindo escrever e nem focar em nada. Mas aqui está, espero vê-los nos próximos capítulos!

Outer 1: AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora